Tribuna Ribeirão
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Etnias representadas 

Rosemary Conceição dos Santos* 

 

Observando-se a sociedade mundial pós-colonialista, verifica-se que as atuais possibilidades de auto-representação de grupos minoritários já não necessitam de terceiros que levantem suas bandeiras, bem como, que defendam suas posições e busquem espaços expressivos, e formas de representação coerentes, sobre o que eles querem para si e como desejam ser representados. Um exemplo? Exposições étnicas têm apresentado ao público visitante a participação ativa das etnias representadas, seja com as mesmas apresentando seus próprios pertences, seja auxiliando a construção do que será dito sobre elas. A importância do fato? Permitir-lhes dizer “como” cada uma delas querem ser vistas e construir suas próprias representações. 

O que vem a ser isso? Mostrar como o desvendar de formas de auto-representação de grupos minoritários (os “outros”) consegue, através do uso das novas tecnologias audiovisuais, e de informação, alcançar caminhos para a preservação de memórias materiais e imateriais. Em muitos casos, bases de dados digitais, com a devida ajuda técnica, resultam em bases de dados renovadas com desenhos, vídeos, imagens, textos e mapas sobre as referidas etnias. Do mesmo modo, a criação de documentários sobre si mesmos é algo que consegue chamar atenção e alcançar um público cada vez mais amplo. 

Cinema documental, esta forma de arte tem permitido que etnias tanto encontrem uma maneira de se auto-representarem, quanto de guardarem suas memórias, transmitidas, até então, somente pela oralidade. Consequências? A diminuição da necessidade de um intelectual que faça a mediação do mundo primitivo com o civilizado, o que cria um movimento de evolução positiva em direção à geração de representações próprias. Dar aos donos da história, ainda que minoria, a oportunidade de se fazerem, realmente, donos de sua própria história, ou seja: uma auto-documentação e auto-representação que não seja, unicamente, a que é contada pelos brancos. Sendo a linguagem cinematográfica, de modo geral, uma sucessão de seleções e escolhas, tais produções cinematográficas de cunho étnica mostram imagens sensíveis, e relatos em sua própria língua, sobre situações específicas de modos de vida, brincadeiras, família, entre outros, o que revela visões diversas de acontecimentos. “Filtros” étnicos, trata-se do conhecimento de mundo que as etnias originalmente possuem e que as moldam interna e externamente. 

Certamente, tais produções, e acesso ao conhecimento de seu funcionamento, são patrocinados por órgãos governamentais, bem como, privados, uma vez que é necessário todo um aparato audiovisual, e treinamento específico, para se fazer um documentário. Mas o que se verificou, em diversos estudos, foi que o ajudar a produzir, sempre ensinando e auxiliando, mas sem interferir, é ato fundamental para uma realística preservação cultural. É quando se dá ao outro a oportunidade de nos revelar sob qual parâmetro ele interpreta o mundo. 

É certo que as diásporas recentes, aliadas à globalização, cosmopolistismo e transnacionalismo, em muito afetam o modo como as etnias se auto-representam, bem como, a forma pela qual tais representações são divulgadas e estabelecem relações, as mais diversas, com as demais culturas. Cabe, portanto, as novas gerações o dever de garantir-lhes meios de produção e, ao mundo todo, a possibilidade de fruição desses documentários. Afinal, é a diferença o que soma, multiplica e nos engrandece. 

 

Professora Universitária* 

 

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