Adriana Dorazi – especial para o Tribuna Ribeirão
Não é de hoje que o prédio centenário da Catedral Metropolitana de Ribeirão Preto está em risco. Mesmo antes do início das obras de mobilidade urbana que não terminam há anos, o trânsito intenso no entorno já prejudicava a estrutura. Rachaduras e outros sinais da ação do tempo mobilizaram fieis para realizar campanhas de arrecadação de fundos para a obra de revitalização.
Esse trabalho agora ganha reforço de peso: o processo de preservação poderá finalmente sair do papel com a aprovação do projeto “Revitalização da Catedral de São Sebastião – Fase 1” pela Lei Federal de Incentivo à Cultura, conhecida como Lei Rouanet. Essa iniciativa integra a campanha “Salve a Catedral”, organizada por empresários e lideranças da cidade para captação de recursos.
A campanha é liderada por comissão composta por representantes de diversos setores, incluindo o empresário Renato Aguiar, que enfatiza a urgência das reformas. “Se não salvarmos a Catedral, ela vai cair. Não é exagero. Por isso essa união de muitas pessoas e que elas tragam mais pessoas para ajudar”, destaca.
Para mobilizar a comunidade e angariar fundos, a comissão lançou uma revista que narra a história do templo e destaca sua importância cultural e espiritual para a cidade. A publicação está à venda por R$ 15 na Secretaria Paroquial, com toda a renda destinada ao projeto de restauração.
Além disso, a Câmara de Ribeirão Preto aprovou recentemente um projeto de lei que reconhece o valor histórico e arquitetônico da Catedral, proibindo sua demolição ou descaracterização. Essa medida reforça a necessidade de preservação do patrimônio e apoia os esforços de restauro em andamento.
Passo a Passo
O projeto de restauro será realizado em três etapas, visando não apenas a recuperação estrutural, mas também a renovação do caráter turístico da igreja. A primeira fase, já aprovada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat), inclui o reforço das fundações para garantir a estabilidade do edifício.
A primeira parte do projeto arquitetônico de revitalização, proposto pelo Instituto Nova Era de Desenvolvimento Socioambiental (INE), foi aprovado para captação de até R$ 3.819.477,76. O período de captação teve início no último dia 13 de dezembro, com vigência de 24 meses. A entidade é parceira da campanha. “O projeto é desafiador. O objetivo é captar uma quantia ainda neste ano e dar continuidade ao processo em 2025”, destaca Viviane Mendonça, gestora executiva do instituto.
Os recursos podem chegar por meio de incentivos fiscais. Empresas tributadas pelo lucro real podem direcionar até 4% do imposto devido, enquanto pessoas físicas podem contribuir com 6%. Para que o projeto entre em fase de execução, é necessário captar ao menos 10% do valor total aprovado (R$ 381.947,77), enquanto as movimentações financeiras serão liberadas após a captação de 20% (R$ 763.895,55).
O financiamento pode ser realizado via patrocínio, com contrapartidas como inserção de logos nos materiais do projeto e participação em eventos, ou por meio de doações, que não preveem retorno de imagem. Fieis também realizam rifas e outras ações para contribuir com a arrecadação.
Objetivos do projeto
Em um segundo momento, o patrimônio artístico do templo será o foco das atenções. Paralelamente, serão realizadas ações voltadas à educação patrimonial, com o objetivo de engajar a comunidade e conscientizar sobre a importância da preservação de bens culturais.
Composta por especialistas, líderes comunitários e representantes da sociedade civil, a comissão do movimento assumiu a responsabilidade de coordenar esforços para a conservação do prédio histórico. “O trabalho dessa equipe está sendo guiado por princípios, respeito ao patrimônio cultural e histórico, visando garantir que a catedral permaneça como legado para as futuras gerações. Para isso, precisamos do engajamento de toda sociedade”, detalhas o presidente da Comissão e do Instituto Renato Aguiar.
A comissão iniciou o trabalho com encontros e reuniões. Um marco desta junção de profissionais foi um brunch beneficente, realizado em 30 de novembro, dentro da catedral. Essa ação inicial captou R$ 74,8 mil, entre doações e a venda das 20 mesas. “Todas as arrecadações que fizermos serão utilizadas para garantirmos que esse patrimônio histórico e espiritual continue de pé, acolhendo a nossa comunidade”, explica Aguiar.
Além disso, o grupo se estruturou com novos parceiros e está executando plano de ação para a campanha, bem como traçando calendário de eventos comemorativos para o ano de 2025, visando ampliar o levantamento de fundos. Interessados em participar desta ação ou fazer doações pode acompanhar mais informações no site da campanha ou pelo Instagram.
Símbolo de Fé e História em Ribeirão Preto
A Catedral Metropolitana de São Sebastião é marco significativo na história e cultura da cidade. História que remonta ao século XIX, quando fazendeiros locais doaram terras para a construção de uma capela dedicada ao padroeiro da cidade, São Sebastião. A evolução do templo culminou na edificação da atual catedral, um projeto ambicioso que atravessou décadas.
A obra da catedral atual teve início em 1904, concluindo-se em 1918, em estilo neogótico. O projeto contou com o apoio crucial do pároco Monsenhor Joaquim Antonio de Siqueira e do padre Euclides Gomes Carneiro. A chegada de Dom Alberto José Gonçalves, primeiro bispo da diocese, em 1909, marcou um ponto decisivo: ele investiu pessoalmente na obra e contratando artistas renomados como Benedito Calixto, responsável pelas impressionantes pinturas sobre a vida de São Sebastião.
Dentro do templo também destacam-se os vitrais instalados entre 1917 e 1918, que iluminam o ambiente com cenas de santos católicos. A porta principal de bronze, inaugurada em novembro de 1954, exibe escudos históricos da Diocese, hoje Arquidiocese, simbolizando a continuidade da fé e das tradições religiosas.
Mais que um monumento, a Catedral Metropolitana de São Sebastião é símbolo da história e da identidade de Ribeirão Preto. Seu passado está entrelaçado com a cultura local, e seu esplendor arquitetônico continua a inspirar gerações, perpetuando sua relevância como centro de fé e arte sacra.