Tribuna Ribeirão
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Mensurando Psicologia (21): Transtornos Mentais 

José Aparecido Da Silva* 

                O Manual de Diagnóstico e Estatístico das Desordens Mentais (DSM-5) é uma obra que fornece todas as informações necessárias sobre o assunto, nelas incluindo descrições e listas de sintomas voltados à identificação e diagnóstico das desordens, ou condições, mentais. O Manual fornece aos clínicos critérios para os diagnósticos específicos de cada desordem apresentada. A importância disso? Criar um vocabulário comum para que um diagnóstico específico signifique a mesma coisa para diferentes especialidades clínicas. Ademais, fornece informações descritivas sobre o tipo e o número de sintomas necessários para cada diagnóstico, visando garantir a acurácia e a consistência deles. 

                Segundo o Manual, ume transtorno mental é definido como uma síndrome que está presente em um indivíduo e que envolve perturbações clinicamente significativas no comportamento, na regulação das emoções ou no funcionamento cognitivo. Estas perturbações são entendidas refletirem uma disfunção nos processos biológicos, psicológicos ou evolutivos. O DSM-5 também reconhece que desordens mentais são usualmente associadas com estresse significativo ou incapacidade em áreas fundamentais do funcionamento, tais como atividades sociais, ocupacionais ou outras atividades. É também importante considerar que este padrão disfuncional de comportamento não decorra de desvios sociais ou conflitos que a pessoa tem com a sociedade como um todo. Entretanto, a despeito da fidedignidade e do amplo uso do Manual, ainda não existe um consenso universal sobre o que significa anormalidade ou desordem mental. Não estamos dizendo com isso que não haja definições sobre elas. Existem várias. O que estamos dizendo é que uma única definição completamente satisfatória provavelmente sempre permanecerá elusiva. Há alguns elementos-chave, chamados indicadores, que pontuam uma determinada anormalidade em um indivíduo. Logo, nenhum simples indicador é suficiente, por si próprio, para definir, ou determinar, uma anormalidade.  

                Primeiro: estresse subjetivo. Se uma pessoa sofre ou experiencia dor psicológica estamos inclinados a considerar isso como um indicativo de anormalidade. Pessoas com depressão claramente registram estarem estressadas, bem como, pessoas com desordem de ansiedade. Embora o estresse subjetivo seja um elemento de anormalidade em muitos casos, ele não é uma condição suficiente, ou seja, tudo o que é necessário, nem mesmo uma condição necessária, para determinar todos os casos de anormalidades as quais consideramos como anormal.  

            Segundo: falta de adaptabilidade. Comportamento mal adaptativo é frequentemente um indicador de anormalidade. A pessoa com anorexia pode restringir seu consumo de alimento até o ponto em que se torna tão inapetente que necessita ser hospitalizada. A pessoa com depressão pode fugir do contato com amigos e familiares, bem como, de serem incapazes de trabalhar por semanas e meses. Comportamento mal adaptativo interfere com o bem-estar humano e com a habilidade para apreciar nosso trabalho e nossos relacionamentos. Mas, nem todas as desordens envolvem comportamento mal adaptativo. 

                Terceiro: desvio estatístico. A palavra anormal literalmente significa fora do normal, mas simplesmente considerar um comportamento estatisticamente raro como sendo anormal não nos fornece uma solução para o problema de definir anormalidade. Um exemplo? Os gênios e os talentosos são estatisticamente raros, mas tal fato não significa que eles sejam anormais de algum modo. Por outro lado, incapacidade intelectual, que é estatisticamente raro, e representa um desvio do normal, é considerado refletir anormalidade.  

                Quarto: violação dos padrões da sociedade. Todas as culturas têm regras. Algumas formalizadas como leis. Outras formadoras de normas ou padrões morais que somos ensinados a seguir. Embora muitas normas sociais sejam arbitrárias em alguma extensão, quando as pessoas fracassam em seguir as regras e convenções sociais morais de seu grupo social, podemos considerar seu comportamento como anormal. Mas, para outras culturas, tais comportamentos podem ser considerados normais. Naturalmente, tais comportamentos dependem da magnitude da violação e de quão comumente a regra é violada pelos outros. 

                Quinto: desconforto social. Nem todas as regras são explícitas, nem todas as regras nos incomodam quando são violadas. Não obstante, quando alguém viola uma regra social implícita ou não escrita, aqueles ao redor dessa pessoa podem demonstrar um desconforto ou constrangimento.  

                Sexto: irracionalidade e imprevisibilidade. Nós esperamos que as pessoas se comportem de certa maneira, mas, embora um pouco de inconvencionalidade possa ser, de algum modo, permitida, há um ponto em que, provavelmente, consideramos um dado comportamento não ortodoxo como anormal. Um exemplo? A fala desordenada e o comportamento desorganizado de pacientes com esquizofrenia são frequentemente irracionais. Tais comportamentos são também marcantes na fase maníaca da desordem bipolar. Não obstante, e talvez o fator mais importante, seja nossa avaliação de verificar se a pessoa pode controlar tal comportamento.  

          Sétimo: periculosidade. Parece razoável pensar que alguém que é perigoso para si próprio e para outra pessoa deva ser psicologicamente anormal. De fato, os terapeutas são requeridos a hospitalizar pacientes com ideações suicidas, ou contatar a polícia para tal, assim como, alertar a pessoa que é alvo de ameaça para que assim o faça caso sofra ameaças explícitas de ser atacada ou ferida por outra pessoa. 

            Assim considerando, decisões sobre o que seja um comportamento anormal sempre envolvem julgamentos sociais, baseados em valores e expectativas da sociedade como um todo. Isso significa que a cultura desempenha um papel em determinar o que é e o que não é anormal.  

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