Por Hugo Luque
Gabriel Tibúrcio dispara na largada e acelera em uma reta perfeita para chegar antes dos adversários na linha de chegada. Não à toa, foi apelidado de “Menino do Arco e Flecha”, uma referência à sua comemoração característica. Natural de Ribeirão Preto, o atleta conquistou, no último dia 6, a medalha de ouro nos 100m rasos da 27ª edição do Campeonato Sul-Americano sub-18 de atletismo, realizado em San Luís, na Argentina.
Mesmo em terras estrangeiras, Tibúrcio, de 17 anos, não se intimidou. Atual campeão brasileiro nos 100m e 200m, títulos garantidos no último mês de setembro, o jovem terminou a final internacional com a marca de 10,90s, contra 10,98s do segundo colocado, o colombiano Olano Sarria Yilmer, e 11,01s do medalhista de bronze, Lazaro Santiago, do Uruguai.
“Foi muito gratificante ganhar essa medalha. Era uma coisa que eu estava esperando há muito tempo, desde o ano passado. Voltar com essas medalhas no peito é uma sensação muito boa”, celebra o velocista.
“Medalhas” no plural. Isso porque, além do ouro na prova de tiro curto, ele também ocupou o lugar mais alto do pódio no revezamento 4x100m masculino, ao lado de Tiago Guiotti, Jean Augusto da Silva e Diogo Batista. Porém, quem vê a tranquilidade na pista argentino do garoto brasileiro, cria da Associação Amigos do Atletismo de Ribeirão Preto (AAARP), nem imagina o nervosismo antes do tiro que marca a largada rumo ao aeroporto.
“Como foi a minha primeira viagem internacional, eu fiquei um pouco apreensivo por não conhecer outro país. Mas foi muito legal, não senti pressão nenhuma e foi muito mais tranquilo do que viajar pra outro estado no Brasil”, revela.
No retorno, dessa vez com dois itens dourados para passar pela alfândega, Gabriel foi recebido com muita festa. Embora na pista seja apenas ele, suas pernas e um objetivo a 100 metros de distância, há muito apoio fora da disputa. A mãe do atleta, Thaise Tibúrcio, tem propriedade para falar sobre isso.
Foi ela que ouviu pela primeira vez o filho sobre a vontade de praticar um novo esporte, há poucos anos. Até aquele momento, Gabriel só queria saber de jogar bola.
“Ele fazia futebol e, na época da pandemia, começou a assistir a vídeos de atletismo. Um dia, quando cheguei do trabalho, ele me disse que queria fazer atletismo. Eu nem sabia ao certo o que era e como era, mas fui atrás”, relembra Thaise, que logo percebeu o diferencial no filho e recebeu, em troca, apoio da cidade.
“Assim que abriram as inscrições na Cava do Bosque, eu o inscrevi e ele passou no teste. No início de 2022, participou do Jeesp (Jogos Escolares do Estado de São Paulo) pelo colégio Cônego Barros e foi muito bem. A partir dali, o olhar mudou.”
Família ‘coruja’
Gabriel não é tão rápido quanto uma flecha apenas na hora de brigar por medalhas. O desenvolvimento do adolescente também tem chamado atenção nos últimos meses. Desde que começou a treinar e viver o atletismo de fato, em agosto de 2022, o ribeirão-pretano empilhou conquistas. Além do Sul-Americano e do Brasileiro, ele também foi campeão paulista nos 100m e nos 200m neste ano.
“Eu comecei a fazer atletismo do meio paro o final de 2022, na Cava do Bosque. Durante os treinos, comecei a evoluir muito rápido em muito pouco tempo e então, em 2023, na minha primeira competição oficial, eu corri 10.98s. Desde então, os treinos foram ficando mais difíceis por estar em nível alto e, como consequência dos treinos, meus tempos foram abaixando. Hoje em dia, sou líder do ranking sul-americano e brasileiro nos 100m.”
Quando perguntado de onde tira forças para evoluir de forma tão rápida, Gabriel é categórico: essa força vem, segundo ele, “1000%” da família. “Se não fosse com a ajuda deles, eu não estaria aqui onde estou hoje e muito menos teria me tornado campeão.”
Para fazer do atleta um vencedor, a família Tibúrcio oferece uma base forte, um ombro amigo e não poupa esforços para ver Gabriel no topo.
“Eu, meu esposo Flávio, a namorada do Gabriel, Brenda, e o irmão mais novo dele, Lucas, tentamos estar presentes em todas as competições. Fizemos rifas em algumas para que ele pudesse competir, apoiamos totalmente e vivenciamos cada conquista ou derrota juntos. Neste ano, fomos para São Paulo, Recife, Aracaju e agora Argentina”, conta Thaise, que demonstra que a frieza do filho na pista passa longe dela.
“Sou conhecida pelo grito de incentivo”, ri a mãe. “Virou um mantra o ‘vai, Biel!”, o coração fica aflito, a mão treme, são os dez segundos mais sofridos da minha vida. É uma felicidade imensa cada campeonato, pois cada etapa é uma emoção que não se descreve, só vive”, diz.
Sonho de adolescente
A ascensão prematura coexiste com a juventude. Com 17 anos, Gabriel Tibúrcio ainda está no ensino médio e, com provas para estudar e poeira para levantar na pista, o jovem precisa se desdobrar. Para isso, conta com o auxílio dos professores e colegas de classe do Cônego Barros, que torcem por seu sucesso.
“Os professores sabem que eu sou atleta, eles me deixam entregar as tarefas depois ou até mesmo fazer antes de viajar para não ter esse problema. Graças a Deus o Cônego é uma escola que apoia o esporte. Os alunos também dão muito apoio”, revela Gabriel.
O suporte vem de várias direções. Segundo Thaise, ele é encorajado a buscar as conquistas pela escola, pelos amigos, pela família, pelos treinadores e pela AAARP como um todo. Todavia, a mãe enxerga que o Bolsa Atleta poderia ter uma abrangência maior.
“O Bolsa Atleta para atletismo são só seis meses. Acho que poderia ser melhor avaliada essa questão, pois o atleta treina o ano todo e não somente seis meses. Um atleta de alto rendimento sai muito caro. Tem a parte de suplementos, terapeuta, fisioterapia, locomoção, competições e uma boa alimentação”, destaca Thaise, que também faz um pedido a outras famílias.
“Apoiem seus filhos no esporte, pois o esporte educa, disciplina e traz muita alegria. Até nas derrotas o atleta aprende muito.”
Apesar dos percalços, a família Tibúrcio forma um verdadeiro time para servir de impulso no dia a dia do jovem. Como toda equipe, há um objetivo em comum: buscar os Jogos Olímpicos.
“Minhas maiores inspirações são Paulo André, Kishane Thompson, Noah Lyles e, com toda certeza, [Usain] Bolt. [Meu sonho é] correr com meus ídolos um dia e ganhar as Olimpíadas”, completa o ribeirão-pretano.