Ruy Rodrigues do Prado*
José Aparecido Da Silva**
Crônica dedicada a Rafael Maia, 1º Tenente da Polícia Militar, e ao 9º Grupamento de Bombeiros do Estado de São Paulo – Ribeirão Preto
Uma das questões frequentemente debatida nos domínios sobre liderança, e que tem motivado teorias tradicionais, e recentes, da mesma é indagar se os líderes nascem prontos ou aprendem a sê-lo. Neste contexto, os líderes teriam traços genuínos, que os capacitariam a sê-lo. Logo, somente algumas pessoas possuiriam traços para o bom exercício de liderar. Entretanto, que traços pessoais pontuais responderiam por tal? Aqueles traços que respondem pelos aspectos motivacionais, de personalidade e de pensamento individual, bem como, de que forma estes lidam com terceiros.
Ao longo do histórico da pesquisa dos traços de liderança, pesquisadores estudaram diversas características comparando líderes a não líderes e dos líderes eficientes a não eficientes. Ao fazê-lo, tornou-se possível identificar um conjunto de traços que poderiam garantir uma boa liderança. Dentre eles, temos: inteligência, responsabilidade, conhecimento do modo de realizar atividades, persistência em lidar com problemas, confidência e vontade de ter poder e controle. Importa considerar, também, a sugestão, efetuada em diversos estudos, de que não há um conjunto básico que determine uma liderança eficiente, pois os traços individuais tendem a ser mais ou menos importantes para a liderança dependendo da situação, além de nenhum conjunto de traços poder ser associado com a liderança eficiente em todas as situações.
Pesquisas baseadas em teorias dos traços de liderança têm agrupado traços em quatro grandes categorias: (1ª) traços cognitivos, tais como, sabedoria ou inteligência, características da habilidade de uma pessoa para pensar ou estilo de pensamento; (2ª) traços de personalidade, tais como, extroversão, conscienciosidade e estabilidade emocional, as quais são características relativamente estáveis, que influenciam a maneira como uma pessoa atua em certas situações; e (3ª) traços interpessoais, tais como, integridade e percepção social, características que descrevem a maneira pela qual uma pessoa trata, e interage com, outras pessoas; e (4ª) necessidades, ou motivos, de uma pessoa, tais como, necessidade de realização e poder, as quais motivam uma pessoa a agir de maneira particular. Necessidades e motivos, estes, que influenciam no que as pessoas prestam atenção, ajudando-as a guiarem seus comportamentos. Certamente, as organizações, como tem sido usual, valem-se de algum tipo de traço para desenvolver o processo de contratação de funcionários, mas, podemos, por certo, desenvolver muitos destes traços para nos tornarmos líderes eficientes.
Numa pesquisa exploratória buscamos reconhecer quais são os Traços de Liderança dentro do Corpo de Bombeiros (monografia de Ruy Rodrigues do Prado, 2024), além de definir características da profissão, características fundamentais, hierarquia da instituição, curso de preparação do novo soldado para bombeiro militar, percepções sobre inteligência emocional no Corpo de Bombeiros e crescimento de carreira. Também, buscamos entender, por intermédio de uma pesquisa com o 9° GB, quais traços de liderança são percebidos como mais impactantes para a profissão de bombeiro militar. O objetivo central do trabalho acadêmico foi apresentar conjecturas sobre o papel do bombeiro militar e lideranças a partir da experiência de se conviver em cenários de incertezas, riscos, complexidades e, essencialmente, entender como o contexto em que o bombeiro militar é inserido (evento, quartel, academia de formação) influencia no desenvolvimento destes traços de liderança.
Os dados claramente indicaram que os 10 traços mais impactantes foram: Honesto (97% concordaram totalmente), Confiável (94%), Responsável (88%), Determinado (84%), Integridade (81%), Justo (81%), Iniciativa (72%), Cooperativo (72%), Empatia (69%) e persistente (66%). Ademais, os 3 traços de menor grau de relevância para a profissão foram: Inovador (47%), Extrovertido (34%) e influente (38%). Em síntese, a pesquisa contribuiu para a compreensão da liderança como um fenômeno dinâmico e multifatorial, destacando a importância de desenvolver dentro da corporação as competências tanto técnicas quanto emocionais para construir lideranças mais eficazes e resilientes. Este estudo não só amplia o conhecimento sobre liderança, mas também serve como uma ferramenta prática, ajudando tanto militares quanto cidadãos a aprimorarem suas habilidades de liderança e a entenderem melhor as demandas e desafios do Corpo de Bombeiros. Parabéns ao Corpo de Bombeiros que tem sido uma das instituições mais importantes do Estado de São Paulo, e no caso em particular de significativa contribuição para a preservação da vida e segurança do patrimônio público da Cidade de Ribeirão Preto.
FEARP-USP*
Prof. Visitante da UnB-DF**