Rui Flávio Chúfalo Guião *
[email protected]
Quando menino, praticamente todas as casas tinham sua gaiola, com os mais variados pássaros. Alguns eram canoros e enchiam o ambiente com seu canto bonito. Outros, de canto insignificante, brindavam os presentes com suas cores mágicas.
Havia mesmo criadores especializados, que mantinham várias gaiolas num ambiente fechado e ali criavam seus canários, curiós e bicudos.
Era comum também termos grandes v veiros, cheios de aves, ao qual dedicávamos parte do dia trocando água e colocando alpiste e outros grãos.
Os pássaros-pretos, com seu canto festivo, mereciam algumas minhocas que eram criadas no fubá e que degustavam freneticamente logo de manhã.
Um tio meu muito querido chegou a cobrir com tela uma grande árvore de seu quintal, criando um amplo espaço que encheu de aves.
Na minha casa, meu pai fez construir um viveiro octogonal, cheio de pássaros que apanhávamos ou comprávamos no mercado, em loja cheia de gaiolas, com o mais variado estoque.
Tudo era muito bonito, mostrado aos visitantes.
Com o passar do tempo, fomos nos conscientizado de que prender os pássaros não era procedimento correto. As aves ali exibidas tinham sido pegas na natureza, com armadilhas caprichosas, arapucas, grude e passavam a viver em espaço restrito, embora bem alimentadas e cuidadas.
Na ditadura de Getúlio Vargas, em 1934, surgiu a primeira lei de conservação e defesa da fauna, embora permitisse a existência de pássaros em gaiolas e viveiros, estabelecendo as condições de salubridade das aves.
Várias outras legislações e decisões administrativas tem tratado do assunto e hoje, a captura e transporte de aves é proibido no território nacional. Exceção para os criadouros autorizados.
Tenho um grande viveiro em meu quintal. Amplo, cheio de árvores e nenhuma tela. Os vários pássaros, que se alternam com o tempo, buscam o grande vaso de cimento que mantenho cheio de água e catam, nos canteiros, bichinhos e pequenas borboletas.
As pombas gostam de tomar água na piscina e fico vendo seu malabarismo para alcançar o nível mais abaixo.
Os beija-flores, em voos rasantes, atravessam a cortina de água da pequena fonte que mantenho ligada.
Os bem-te-vis alternam a tomada de água do tanque de cimento com o mergulho rápido na piscina, onde também apanham pequenos insetos.
O casal de gaturamos fica passando do galhos das orquídeas coladas nas palmeiras para o grande vaso de ripsalis, onde colhem pequenas frutas.
Neste momento do ano, os sabiás, com seu corpo esbelto e rabo grande, ficam pulando do telhado para o chão, invadem o canteiro em busca de alimento e disputam com os sanhaços a água da tina de concreto.
No final da tarde, quase às dezoito horas, quando estou na piscina, as duas saracuras, que vivem em nosso terreno, vêm beber água. Acho que enxergam mal neste horário, pois não percebem que estou ali vendo sua dança, banhando-se. Algumas vezes, pulam mesmo na piscina e voltam correndo, parando para uma limpeza geral e demorada.
O joão e a joana-de barro caminham curiosos e elegantes, não se importam muito com a nossa presença, pois se afastam ligeiros, sem voar.
E assim, sou feliz proprietário de um viveiro sem telas, onde os pássaros os mais variados vivem soltos e felizes, buscando àgua e alimento e enchendo meu dia de alegria e felicidade.
* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e Secretário-Geral da Academia Ribeirãopretana de Letras