Tribuna Ribeirão
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A ditadura brasileira em exposição 

Feres Sabino *
advogadoferessabino.wordpress.com

Os alienados de todo gênero e os amantes da ditadura brasileira podem ficar orgulhosos, pois, a podridão dela está nos cinemas do Brasil e do mundo, num filme nacional premiado, que o gênio de Walter Salles, diretor que frequentou a casa de Rubens e Eunice Paiva desde cedo, celebrando o clima de alegria daquele lar.

Trata-se do desaparecimento de Rubens Paiva, exatamente de Rubens Reyrodt Paiva( 1929-1971), retirado por paisanos da Aeronáutica, que ingressara pela porta da cozinha da casa, levando o convite pela imposição de um depoimento nas dependências militares, em janeiro de 1971.

Torturado e desaparecido, os militares sempre negaram a prisão, mesmo que a vítima tenha ido com seu carro particular, acompanhado de um dos meganhas, e deixado ele no pátio das dependências onde ocorriam as torturas, os gritos e a morte de tantos brasileiros.

O filme “Ainda estou aqui” é o símbolo da resistência democrática, representada pela sua mulher Eunice Paiva, mãe de cinco filhos, viúva, que lutou bravamente pela verdade do desaparecimento de seu marido; certamente, uma hipótese, seu corpo foi jogado ao mar, como faziam as ditaduras de Argentina e Chile.

Rubens Paiva fora deputado federal cassado, eleito pelo PTB, Partido Trabalhista Brasileiro, fora Vice-Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o IBAD – Instituto Brasileiro de Ação Democrática, organismo depois fechado, pois reunia dinheiro estrangeiro, especialmente norte-americano e de empresários brasileiros, para financiar a desestabilização do governo Goulart, abastecendo mais de duzentos candidatos a deputado federal.

Uma época em que a soberania nacional com a dignidade de civis e militares buscava manter-se sobranceira e forte, em nome de uma ideia de nação, lutando por seu desenvolvimento real.

Rubens Paiva é um símbolo dessa luta, dessa dignidade, desse Brasil que assistiu com a generosidade da anistia se converter em atração de novos golpes a democracia incipiente, e com a sujeição de parlamentares atraindo indébitas intervenções estrangeiras.

“Ainda estou aqui” é um forte aviso do exemplo, como denúncia de brutalidade, que o filme encerra, exibido em cinemas do mundo inteiro, e aplaudido em vários deles, inclusive por jovens que encheram as plateias de tantos.

“Ainda estou aqui” é um forte exemplo de presença viva de quem morreu, como herói, deixando seu torturante sacrifício e morte, como um monumento vivo de amor ao país.

“Ainda estou aqui” é a comunicação que seus torturadores e assassinos ficaram soltos, impunes, vangloriando de seu recente passado de estupidez e brutalidade, e dançando no palco como heróis de papel, zombando da prisão que não houve, da punição que está falando que seria um expurgo do câncer nacional.

“Ainda estou aqui” é o drama de uma heroína chamada Eunice Paiva, que ainda se formou advogada, dedicada à defesa dos direitos humanos, e especializada em direitos dos indígenas. 

Fernanda Torres, filha, Fernando Montenegro, mãe, encarnaram essa tragédia familiar com tal sentimento que sua comunicação não deixou de fazê-lo emoção e lágrimas.

A última cena é da mãe, assistindo um documentário, na qual de repente aparece Rubens Paiva. A fixidez causada pela doença não resistiu à lembrança de seu sofrimento, e deixou que pequenas reações, no rosto, avisassem de sua dor e saudade. 

“Ainda estou aqui” produz em nós o evangelho de quem acredita e segue no caminho…

* Procurador-geral do Estado no governo de André Franco Montoro e membro da Academia Ribeirãopretana de Letras 

 

 

 

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