Tribuna Ribeirão
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Mensurando Psicologia (16): Personalidade   

José Aparecido Da Silva* 

O que podemos aprender da natureza humana estudando personalidade? Pela amplitude desta questão, pode-se verificar, facilmente, que personalidade é uma área da psicologia que está preocupada com a natureza da natureza humana. O estudo da personalidade é uma das áreas mais amplas da psicologia, conectando-se com neurociência e clínica, psicologia do trabalho e educacional, bem como, com inteligência, psicologia experimental e humanidades. Nosso interesse em entender personalidade, portanto, é motivado por dois grandes propósitos: a) estamos interessados em predizer o comportamento, especificamente, o que diferentes pessoas são prováveis de fazer e b) estamos interessados em explicar por que as pessoas fazem as coisas que fazem e por que diferentes pessoas agem de diferentes maneiras. 

As pessoas fazem o que fazem por causa de certas singularidades ou características de seu perfil psicológico, também conhecido como personalidade, essencial para explicar quem somos nós, como os outros nos veem, como nós nos relacionamos com os outros em diferentes e por que nossa ideia de outros (quem eles são) permanece praticamente inalterada ao longo do tempo. Assim, personalidade é altamente consequencial: você pode concebê-la como uma força dominante, subjacente à dinâmica do comportamento social e afetando as leis da história. Personalidade é um núcleo determinante das diferenças individuais dos comportamentos cotidianos; ela afeta nosso sucesso ocupacional e educacional, nossa saúde e longevidade, nosso status marital e satisfação nas relações, e, até mesmo, nossas preferências alimentares e de sono. Entender a nossa personalidade e a dos outros, portanto, é importante porque nos capacita a dar sentido ao mundo em que vivemos, predizendo os comportamentos e ações alheios. 

Há muitas concepções de personalidade, dentre as quais como elas podem ser consideradas e mensuradas. Os estudiosos da personalidade têm estudado comportamento normal, ou padrões de pensamento, e emocionalidade encontráveis em 90% da população. Todavia, grande quantidade do que conhecemos sobre personalidade considerada normal tem derivado de nosso entendimento dos comportamentos clínicos ou anormais, como, por exemplo, depressão, esquizofrenia e desordens de ansiedade. Todos nós temos um interesse inerente à personalidade. Por que isto ocorre? Porque personalidade, essencialmente, é o que nos faz o que somos; o que nos diferencia de terceiros e nos torna únicos. Se nós todos, ao longo do tempo, nos comportássemos diferentemente em situações variadas, ou seja, de modos imprevisíveis, a personalidade não existiria. A ideia de que as pessoas diferem entre si por característica típicas de comportamento, pensamento e em seus sentimentos é tão antiga quanto a medicina, fazendo muito de nós, intuitivamente, acreditar nela. 

O Modelo dos Grandes Cinco Fatores (Big Five) é uma maneira de categorizar os traços de personalidade em cinco grandes atributos, os quais permitem englobar todas as características que distinguem a personalidade de uma pessoa em relação a outra. Esses cinco atributos, usados para descrever a personalidade de uma pessoa, são: abertura para a experiência, conscienciosidade, extroversão, agradabilidade e neuroticismo. Abertura para a experiência descreve a quão desejoso é uma pessoa em experenciar novas coisas. Conscienciosidade é quão responsável, e trabalhadora, uma pessoa é. Extroversão é o quanto de interesse/satisfação a pessoa tem de estar envolvida com outras pessoas. Agradabilidade é ser amável e otimista. Por fim, neuroticismo tem a ver com o quão controlado, e emocionalmente estável, uma pessoa. Todavia, os resultados de variadas pesquisas não têm identificado que um traço seja mais importante que outro. Talvez isto ocorra porque diferentes pesquisadores usam diferentes testes para medir esses traços de personalidade e diferentes indicadores psicológicos a eles associados. Um exemplo? Traços de neuroticismo e de baixa agradabilidade consistentemente emergem como preditores de nossos relacionamentos negativos, o que é particularmente importante nas relações com os diferentes parceiros. Conhecer a personalidade destes e a de nós próprios, como opostos aos fatores sociais ou contextuais pode ter uma influência estável sobre nossos relacionamentos, resultando em diferentes estratégias de enfrentamento e abordagens mais cognitivas, ou racionais, para a resolução de conflitos. 

Por adição, pesquisas têm se mostrado úteis também indicando que os traços de personalidade são importantes para a formulação da orientação das relações ou intervenções, promovendo relacionamentos mais estáveis por meio de mudanças nas dimensões da personalidade. Conhecer personalidade tem revelado também que o bem-estar subjetivo é relativamente estável ao longo do tempo, isto é, algo quase invariante mesmo após grandes eventos de vida, fato este que é frequentemente relacionado com traços de personalidade estáveis. As pessoas que sofrem muitas perdas do tipo morte de parente, de amigos e de companheiros, e experenciam outro tanto número de adversidades diversas, como desemprego, divórcio, estresse e problemas de saúde, mantém, em geral, a mesma estrutura de personalidade antes e depois de tais eventos. Personalidade exerce uma ampla e pervasiva influência sobre muitos desfechos em nossas vidas. Nossa personalidade até mesmo influencia o quanto tempo nós viveremos por conta das nossas escolhas e das estratégias de enfrentamento que empregamos. Atrevo-me a dizer que personalidade é a nossa própria vida e vice-versa. 

Professor Visitante da UnB-DF* 

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