José Eugenio Kaça *
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A violência é inata ao ser humano, e ao longo da trajetória sobre humana sobre à Terra, a violência sempre esteve em evidência de diversas maneiras. Às vezes ouço comentários saudosistas afirmando que precisamos voltar aos bons tempos. No entanto, essa afirmação sobre bons tempos não encontra respaldo na história humana. O saudosismo é um sentimento onírico, que remete o ser humano a um passado que não viveu, mas apesar de não ter vivido este passado, na sua imaginação as lembranças são reais, mesmo que essa realidade não seja real.
Na minha infância eu ouvia os mais velhos contarem histórias de um tempo, onde não havia miséria, e a fartura era tanta, que se amarrava cachorro com linguiça. Eu na minha inocência de criança ficava imaginando como seria bom ter vivido nesta época, onde a paz reinava e a violência não mostrava a sua cara enrugada. Mas a realidade que eu via a minha volta era de gente pobre, trabalhando de sol a sol, e muitas vezes não conseguindo ganhar o suficiente para levar uma vida com dignidade – descobrir que esta tempo nunca existiu.
A humanidade e a desumanidade são inerentes ao ser humano. As tentativas de se ter um mundo melhor e mais humano fracassaram. A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi um documento criado para que o humano racional que habita o ser humano não seja engolida pela desumanidade, que no fundo é a irracionalidade, mas o tempo está mostrando que a desumanidade e a irracionalidade estão ganhando de goleada. A violência é uma doença crônica, que é alimentada pelo ódio e pela vingança, cujo o antídoto é a paz e o amor e o perdão, no entanto, o amor, a paz e o perdão foram aprisionados nos calabouços da mentira e iniquidade, e os carcereiros deste ambiente infernal falam em “Deus, família, propriedade e liberdade”, se intitulam cristãos, mas seguem a violência do Velho Testamento. O amor, a fraternidade e a paz que Cristo ensinou, não foram distribuídos para a população, são usados para que em seu nome homens ungidos acumulem tesouros incalculáveis, e um lugar ao lado do Senhor.
A raiz da violência está no fato de que existem seres humanos, que pela sua pele alva se julgam superiores, e andam de mãos dadas com “Deus”, como amigos íntimos, e com isso se acham acima do bem e do mal, e podem fazer o que bem entender com outro ser humano que julgam inferiores. E está violência é a pedra angular que move a sociedade, e se espalha pela como erva daninha, afinal violência gera violência. Para construir uma sociedade em que a paz, a harmonia e a solidariedade sejam as ferramentas da cidadania é preciso tratar a educação básica com responsabilidade e nacionalismo – é preciso ser patriota, não do tipo de patriota que fica nas portas de quarteis pedindo golpe militar, que entrega de graça as riquezas do País para o capital internacional.
A violência do extremismo religioso está abrindo as portas do inferno, e contaminando a convivência social. Os cristãos estão abandonando os ensinamentos de Cristo, em nome dos profetas do Velho Testamento, e com isso a crueldade toma conta do cotidiano. Para estancar este clima carregado de ódio, e preparar as novas gerações para um mundo melhor é preciso que a educação básica seja pública e de qualidade para todos, precisa de uma pedagogia que liberte os educandos das pedagogias do século 19. Só uma educação autônoma e libertadora será capaz de produzir a paz, a harmonia e a solidariedade que tanto esperamos. A humanidade dentro do ser humano precisa superar e eliminar a desumanidade, afinal já chegou a hora de usar a nossa cognição para criar um mundo melhor.
* Pedagogo, líder comunitário e ex-conselheiro da Educação
A desumanidade é humana
