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A migração do crime para o ambiente digital

Para fugir das ações policiais e em busca de penas mais brandas, criminosos estão deixando as ruas e se especializando em golpes digitais (Reprodução)

Por: Adalberto Luque 

Os criminosos estão se especializando. A constatação ocorreu em diversos estudos realizados por entidades como a Agência Nacional de Comunicações (Anatel), Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e por especialistas no setor. 

Um dos fatores que levaram à mudança foi a intensificação no combate aos crimes, sobretudo os mais praticados, como furtos e roubos de veículos e furtos e roubos em geral. Com ações efetivas das Polícias Militar e Civil, indicadores caíram até 51,8%, como os roubos de veículos.  

Os dados são da Secretaria da Segurança Pública (SSP) e relativos ao período de janeiro a agosto de 2024, em comparação com igual período de 2023. As forças policiais ampliaram as ações de combate à receptação, incluindo desmanches de veículos ou ferros-velhos. Sem ter quem compre o produto roubado ou furtado, não há motivos para subtrair o bem de seu dono. 

Mas há ainda outro fator, que passa a ser preocupante. Os criminosos descobriram no ambiente digital um verdadeiro oceano de oportunidades. E muitos passaram a se especializar, desenvolvendo e aprimorando golpes lucrativos. 

Olivério observa que está ocorrendo migração significativa de crimes para ambiente virtual  (Urmobo/Divulgação) 

Para Vinícios Olivério, CTO da Urmobo, plataforma que gerencia dispositivos móveis oferecendo proteção de informação, há um consenso crescente entre especialistas de que está ocorrendo uma migração significativa de crimes para o ambiente digital, incluindo os realizados por meio de dispositivos móveis, como smartphones. “Assim como estes especialistas, também acredito nesta tendência, principalmente com o aumento de golpes relacionados a phishing, engenharia social e outros tipos de fraudes virtuais”, adianta Olivério. 

O especialista em proteção da informação ensina que é preciso desconfiar de mensagens e ligações inesperadas de fontes desconhecidas. “Use autenticação em dois fatores, sempre verifique a fonte das comunicações e mantenha dispositivos atualizados. Caso seja vítima de um golpe, contate seu banco imediatamente, registre um Boletim de Ocorrência (B.O.) e altere senhas que possam ter sido comprometidas”, acrescenta. 

Segundo Olivério, no caso de empresas, a utilização de ferramentas de gerenciamento de dispositivo móveis é de grande importância para minimizar os riscos de seus usuários caírem em golpes, garantindo uma maior segurança nos dispositivos. 

Principais golpes 

Preocupado com o avanço dos crimes digitais, a Anatel divulgou em se site uma lista com os golpes e fraudes mais comuns, com o objetivo a ajudar ao consumidor para entender seu funcionamento e o que fazer para evitá-los e solucioná-los.  

“Para os casos em que o golpe já ocorreu, é muito importante que seja realizado o registro da reclamação na empresa/prestadora, na Anatel e, ainda, que seja registrado um Boletim de Ocorrência na Polícia Civil”, reforça a Anatel. 

Sequestro de Linha  

A linha telefônica do usuário passa a funcionar em um novo chip controlado pelo criminoso, que pode receber chamadas e mensagens destinadas ao dono da linha, inclusive códigos de autenticação de serviços e bancos. O objetivo do criminoso é realizar fraudes financeiras ou acessar informações pessoais. Se o usuário perceber que seu telefone não envia ou recebe mensagens, não realiza chamadas e nem navega pela internet fora da rede wi-fi, é recomendado comunicar à operadora através de canais oficiais e registrar um B.O. 

Obtenção de dados móveis 

O criminoso que furta ou rouba um celular tenta obter informações pessoais, profissionais, senhas, acessando aplicativos e contas da vítima. 

Chamadas falsas (Spoofing) 

Criminosos alteram equipamentos de telecomunicações e conseguem gerar uma chamada através de número falso. Ele pode gerar a chamada usando o número de um banco, empresa ou instituição com a qual a vítima tenha contato, se passando por representante ou funcionário. O objetivo é conseguir dados para praticar outras fraudes. O ideal é não passar dados para quem faz a ligação e confirmar nos canais oficiais. 

Falsa central de atendimento (0800) 

A vítima recebe uma mensagem informando haver algum problema de relacionamento com banco ou empresa e passa um número 0800 falso para resolver a situação. Com técnicas de engenharia social, o suposto atendente vai persuadir a vítima a tomar determinada atitude ou passar dados para serem usados em golpes que causem grandes prejuízos, inclusive contrair empréstimos em nome da vítima. 

Engenharia Social 

O criminoso entra em contato, tentando se passar por um representante de órgãos públicos, empresas ou conhecidos, para tentar obter dados pessoais ou financeiros da vítima. 

Furto de Redes Sociais e aplicativos 

O furto de contas (de redes sociais, e-mails, aplicativos, etc.) acontece quando um criminoso consegue suas informações de login e as usa para assumir o controle de contas e, a partir disso, realizar as mais variadas transações e contatos em nome da vítima. 

Falso WhatsApp (foto da vítima em número desconhecido) 

O criminoso consegue uma foto da vítima, às vezes até mesmo a foto de perfil utilizada no aplicativo, e envia mensagens aos seus contatos com as mais diferentes histórias para obter alguma vantagem financeira (por exemplo, solicitando dinheiro para resolver uma questão urgente, solicitando dinheiro tendo em vista o bloqueio de contas nas instituições financeiras, etc). Muitas vezes os criminosos iniciam o contato com mensagem tipo: “Oi. Esse é o meu novo número de telefone. Salva aí.” Ou “Oi, tudo bem? Vou deixar meu número antigo para questões profissionais. Anota aí meu novo número particular” e induzem a vítima a não identificar a tentativa de fraude, mesmo que utilizando número totalmente diverso do verdadeiro. 

A Anatel sugere sempre usar canais oficiais. No caso do WhatsApp, entrar em contato com o número antigo. E sempre que o golpe for executado, registrar B.O. A Anatel tem em seu site informações detalhadas destes e de outros golpes. 

Estatísticas 

De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicação do FBSP, os índices para crimes de rua estão em queda. Entre 2022 e 2023, os estelionatos por meio virtual subiram 13,6%; o total de estelionatos cresceu 8,2%; e, ainda, os furtos de celulares oscilou 0,7% para cima. Na ponta oposta, chama atenção a forte queda no registro de roubos a bancos e demais instituições financeiras, de quase 30% no mesmo período, seguidos dos roubos a estabelecimentos comerciais (-18,8%).  

A Febraban tem como diretriz prioritária prevenir e combater fraudes, até porque muitas envolvem bancos. “Atualmente, 70% dos golpes são de engenharia social, que consistem na manipulação psicológica do usuário para que ele lhe forneça informações confidenciais, como senhas e números de cartões, ou faça transações financeiras em favor de quadrilhas de criminosos”, afirma Adriano Volpini, diretor do Comitê de Prevenção a Fraudes da Febraban. 

Penas brandas 

Amanda: “vítimas de fraudes bancárias perdem economias de vida ou entram em endividamento por causa de golpistas”  (Arquivo Pessoal) 

Segundo a advogada Amanda Flores, especializada em direito de internet, com o crescimento do ambiente digital, novas formas de estelionatos surgiram, como golpes bancários, fraudes em compras online e invasão de contas bancárias por meios de phishing e acessos remotos a celulares e aplicativos.  

“A legislação tem tentado se adaptar ao ambiente digital com a inclusão de crimes cibernéticos no Código Penal, porém, ainda demonstra uma lacuna significativa na punição de crimes digitais. Ao contrário dos crimes físicos, que envolvem o uso direto de violência e, muitas vezes, resultam em consequências imediatas e visíveis, os crimes digitais são considerados de menor periculosidade por não causarem, aparentemente, um ‘dano físico’. Isso resulta em uma menor severidade das penas aplicadas, o que contrasta drasticamente com os impactos profundos que esses crimes podem causar nas vidas das vítimas”, diz. 

De acordo com a advogada, ao observar as penas, fica evidente a diferença no tratamento dos crimes físicos em comparação aos crimes digitais. “No entanto, um ponto que merece destaque é que o impacto emocional e financeiro de um crime digital, como o estelionato, pode ser tão devastador quanto o de um crime físico. Vítimas de fraudes bancárias, por exemplo, muitas vezes perdem suas economias de vida ou entram em endividamento por causa de golpistas”, analisa Amanda. 

Roubos e furtos caem 51,8% 

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou, por nota, que o policiamento em todo o estado, incluindo Ribeirão Preto, segue intensificado, assim como o trabalho de investigação. “A Polícia Civil realizou, neste ano, a Operação Bródio, em parceria com a Polícia Militar, Polícia Científica e Detran, para fiscalizar e investigar desmanches clandestinos. Além disso, foi realizada a Operação 157/121, para dar cumprimento a mandados de prisão para crimes hediondos. Pela Deic, há inquéritos policiais em andamento para a investigação de cybercrimes, visando à asfixia financeira desse ecossistema. Graças ao empenho conjunto entre as forças de segurança, os roubos em geral apresentaram queda de 18,8%, além da queda de roubos e furtos de veículos em 51,8% e 1,6%, respectivamente, nos primeiros oito meses de 2024, em comparação ao mesmo período de 2023. Ainda, 3.874 infratores foram presos e apreendidos (aumento de 40,9%) e 189 armas de fogo ilegais foram retiradas das ruas (alta de 50%)”, conclui a nota. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

FTO 04: 

Amanda: “vítimas de fraudes bancárias perdem economias de vida ou entram em endividamento por causa de golpistas”  

(Foto: Arquivo Pessoal) O

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