Tribuna Ribeirão
Geral

Não se faz um mundo melhor ensinando a odiar 

José Eugenio Kaça *  
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Transmitir os conhecimentos culturais e científicos aos seus descendentes é obrigação das gerações antecedentes e de seus ancestrais, e essa transmissão acontece através da educação formal e informal, e isso cria um caldo cultural que é a amalgamação da cidadania. No Brasil essa amalgamação entre o formal e o informal nunca aconteceu. Até os dias de hoje é normal ouvir a frase: “a educação vem de casa, a escola cabe transmitir os conhecimentos”, e essa afirmação não faz parte apenas do senso comum; tem muito professor que compactua com essa afirmação. 
 
Preparar as novas gerações através da educação é a ferramenta que permite que um país evolua, no entanto, essa educação tem que ser pública, de qualidade e para todos. No Brasil a segregação social não permite que isso aconteça. Aquele feixe de luz que começou a bilhar timidamente com o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, aos poucos foi sendo ofuscado pelo velho tradicionalismo dos coronéis da cidade e do campo, que tinham as bençãos da Igreja Católica sua principal aliada. E com isso aquele projeto que poderia ajudar a organizar a educação básica, com uma escola única, pública, laica, obrigatória e gratuita – ficou no papel. 
 
A educação básica pública, vem sendo debatida desde o Manifesto de 1932, portanto, há noventa e dois anos, e mesmo não saindo das pautas políticas e de instituições afins da educação não avançou o suficiente para deixarmos de ser um País que ainda tenta acabar com o analfabetismo. Essa mesma Igreja Católica, arraigado no tradicionalismo burguês, já foi progressista. Na década de 1970, surgiu um movimento pastoral, no ceio da Igreja Católica, e este movimento que tinha por finalidade continuar a ação de Jesus Cristo junto a diferentes grupos e realidades. Esse movimento ajudou a politizar diversas comunidades, pois começaram a entender que tinham direitos, direito a uma vida digna, a moradia, ao saneamento básico, a educação de seus filhos, e ao lazer, direitos fundamentais que eram negados. Mas como tinha muito pobre participando, e isso não é bom, o projeto foi desidratado. 
 
Com o arrefecimento da ditadura empresarial-militar, os movimentos de base cresceram e começaram a influenciar na política. As Conferências Brasileiras de Educação iniciada nos anos 1980, defendia a gestão democrática estabelecendo as bases das bandeiras educacionais que fazem parte do capitulo Educação da Constituição cidadã. Mas como sempre acontece em nosso País, as leis que defendem a educação básica pública não conseguem chegar plenamente ao chão da escola. A fala do presidente que Promulgou a Constituição cidadã, dizendo que era uma Constituição muito avançada para os padrões brasileiros, e isso abriu a caixa de pandora, e o que seria um avanço extraordinário, ficou na prateleira esperando o tempo passar. 
 
E a velha segregação se acentuou. O projeto extraordinário da Escola Parque de Anísio Teixeira, que permitia uma educação integral, não se multiplicou, tão pouco os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs) de Leonel Brizola. Não permitir que todas as crianças e jovens pobres tenham os mesmos direitos dos filhos das classes abastadas é a ferramenta indutora da segregação social. Mesmo com todas as adversidades, alguns projetos romperam as amaras da iniquidade se mostrando exitosos, e isso acentuou o ódio dos extremistas. Combater coisas que não existem na educação básica pública é a luta dessa gente. A identidade de gênero, o banheiro unissex, a mamadeira de piroca e a doutrinação de esquerda são as pautas criminosas que querem impingir a escola pública. 
 
A liberdade de aprender e ensinar estão amarradas a pedagogia do século 19, a liberdade de cátedra não existe. O ambiente escolar precisa de segurança, competência e generosidade, no entanto, querem enfiar goela abaixo os vídeos do MBL, e os documentários criminosos do Brasil paralelo, e agora com os desequilíbrios climáticos que estamos enfrentando, o governador do Estado de São Paulo simplesmente proibiu que as escolas façam os debates com os alunos sobre as mudanças climáticos. O conhecimento liberta; não permitir que os alunos pobres absorvam os conhecimentos é a política delinquente de quem quer manter a casa grande e a senzala. 
 
* Pedagogo, líder comunitário e ex-conselheiro da Educação 

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