Feres Sabino *
advogadoferessabino.wordpress.com
O Presidente do Brasil, que procura governar com uma frente de partidos, recebeu, mais uma vez, o respeito da comunidade internacional. Ele fez seu discurso como estadista na Assembleia Geral da ONU, e em seguida, foi homenageado por Bill Gates. No Brasil as bitolas estreitas nacionais permanecem rebeldes, já que não estão no poder, e não podem mais receber propinas das joias, nem ter general vendendo-as, no exterior, para entregar dólares ao ex-presidente inelegível.
Mas as bitolas estreitas nacionais ainda não se saciaram com a gordura facilitada da corrupção deslavada das emendas parlamentares, as quais se soma a dinheirama do orçamento secreto, desviada – quiçá- para bolsos particulares de deputados apodrecidos de ética. Esses fundos particulares também realizam a compra disfarçada de votos, que favorecem a eternização dos corruptos, e não a rotatividade da representação parlamentar, como é próprio da essência da democracia.
Nesse clima nacional a eleição da capital paulista, se converte em cenário intermitente de pugilato direitista, depois que a disseminação do discurso do ódio alavancou os fungos e os vermes escondidos no subsolo da desgraça nacional. Eles abasteceram a indignação popular, e ela mesma se surpreende coma vocação deles em ficar mais tempo, intoxicando-a, para iludi-la e fazê-la de joelho, diante dos propósitos disfarçados de autoritarismo e de ditadura.
O Ministro Flávio Dino do STF, na vertente nacional de salvaguarda da ética e da vergonha cívica, convocou os Presidentes do Senado e da Câmara Federal e demais representantes dos órgãos de vigilância e polícia e os de controle, para cobrar transparência, na aplicação da dinheirama dos bilhões derivados das emendas parlamentares e do orçamento secreto. Elas e eles, quando trazidos à mesa da vergonha, fazem com que os Presidentes dos respectivos parlamentos se aproximam sempre do desplante de ameaçar, pela cassação do Ministro, via parlamentar, que é a do impeachment. Eis os larápios com força política, querendo “carteirar”, com arrogância e ousadia.
A figura sinistra desse palco de horrores políticos é o Presidente da Câmara dos Deputados, que recebe, não mais com surpresa, a possibilidade de continuação do inquérito instaurado pela Polícia Federal,em razão das emendas destinadas a seu estado de Alagoas. Quando a investigação policial chegou nas cercanias do Presidente da Câmara,através da perseguição dos denominados “kits robótica!”, o Ministro Gilmar Mendes arquivou o inquérito com as provas em frenesi, e cujo fedor de tumulo descoberto traz de novo a possibilidade de a investigação ser continuada. Afinal, até aconteceu a apreensão de quatro milhões de Reais, em notas colocados uma em cima da outra, até formar o conteúdo de um imenso armário, que espera a apresentação da prova licitada origem do dinheiro, até agora sem pai, nem mãe.
O Ministro Flávio Dino ressurge para fazer ressurgira exigência constitucional, que a danação parlamentar jurou respeitar, cumprir e fazer cumprir, sempre em solene juramento. Essa exigência constitucional restaura a relevância da regra ética-jurídica –a da transparência– que ficou no limbo desde que a ascensão do espírito infernal dirigiu a desgraça do país, durante quatro anos de impunidade, instigando o medo e as armas.
Nesse mar a mediocridade, exibida como talento novo, procura navegar em mar revolto provocado por ela mesma, e o país fica desassossegado, pois se baixar a inflação o consumo sobe, o comercio vende e a indústria produz, mas o divino mercado financeiro não gosta, pois há redução da dívida interna brasileira, diminuindo a farta exploração. As bitolas estreitas nacionais querem permanentemente dificultar o governo de governar, e o divino mercado financeiro, beneficiário dos juros altos, fica mal-humorado, e se dispõe a conspirar contra a moeda brasileira, o que significa contra o país.
Na Assembleia Geral da ONU o Presidente do Brasil é ouvido e respeitado, depois até homenageado por Bill Gates, mas as bitolas estreitas nacionais aplaudem as estrepolias do bilionário LElon Musk, sem se preocupar com a colonização técnica, política e ideológica, que ele, colonizador, patrocina afrontando a dignidade e a soberania do Brasil. Um colonato atual festejado sob aplausos das “maritacas” do país do “Deus, Pátria e Família”, que alternam com a lembrança nazista do “A Pátria acima de tudo e Deus acima de todos”.
A esperança é que um terremoto ético sufoque as bitolas estreitas, e que um sentimento de nação ocupe o deserto da inconsciência e da alienação.
* Procurador-geral do Estado no governo de André Franco Montoro e membro da Academia Ribeirãopretana de Letras