Tribuna Ribeirão
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Como nos preparamos para a nova realidade climática 

Perci Guzzo *
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“Adiar a ação não é uma ação”, frase atribuída a Kofi Annan, secretário geral da ONU de 1997 a 2006. A seguir trago cinco sugestões de ação, interconectadas, para convivermos com a nova realidade climática.

1. Não negligenciar. Todos nós devemos conviver com o problema das mudanças do clima. Sabê-lo, senti-lo e acolhê-lo.  Aqueles e aquelas que tomam decisões que repercutem para toda a sociedade, caso de gestores públicos e privados, por exemplo, não devem se omitir ou desprezar o assunto. Ao contrário, devem trazer para o centro do planejamento e da gestão as implicações que demandam ações prudentes, estratégicas e eficientes.

Será negacionismo convicto dos candidatos às eleições municipais não abordarem em seus planos de governo o enfrentamento à crise climática? Diferentes canais de informação do país têm revelado o desconhecimento e o descaso para com o tema dos candidatos a prefeito, sobretudo aqueles que estão a frente nas pesquisas eleitorais. O/A seu/sua candidato/a está preocupado/a e sugere soluções consistentes para não deixar sua cidade sujeita a catástrofes climáticas inimagináveis?

2. Planejar ações de mitigação e de adaptação. Mitigar significa diminuir as emissões de gases de efeito estufa (CO2, CH4, NOx, entre outros) nos seguintes setores: energético (combustíveis e eletricidade), resíduos sólidos (lixo doméstico, da construção civil, hospitalar e zeladoria), conversão de floresta e cerrado em áreas agrícolas, pastagens e cidades; e indústrias. Fazer a transição de descarbonizar nossos modos de produzir, comer e consumir; essa é a síntese para mitigar.

O plano de adaptação tem dois sentidos principais: preparar ambientes urbanos e rurais para tornarem-se mais resilientes perante fenômenos meteorológicos bruscos como grandes enchentes, secas pronunciadas e fortes ondas de calor; e aprimorar os meios de monitoramento de riscos e desastres, fortalecer a defesa civil e melhorar a comunicação com a população de modo a protegê-la em situações vulneráveis.

Os dois planos – mitigação e adaptação – devem ser implantados na perspectiva de uma governança estratégica, transversal e participativa. Na escala regional e/ou metropolitana, sugere-se a criação de agência pública que ofereça diagnósticos precisos e soluções inteligentes para embasar decisões assertivas.

3. Encorajar a sociedade. Percebe-se na atualidade dois modos distintos de reação das comunidades e dos indivíduos à mudança do clima: desânimo e pânico x plantar árvores e entender melhor o que está acontecendo. Pode-se afirmar neste momento que vasto conhecimento e inúmeras soluções existem para diminuir as consequências negativas do aquecimento global. O erro crasso tem sido a não adoção de tais medidas a partir do conhecimento científico e ancestral. Devemos, pois, sair às ruas e cobrar em alto e bom tom tudo o que pode nos assegurar, minimamente, um presente-futuro seguro. Chega de passividade! Não terceirizem a política, amigos/as! Arvorem-se!

4. Desenvolver de modo sustentável. Produção de alimentos como negócio, em extensas monoculturas, com intenso uso de agrotóxicos e nutrientes químicos no solo, que provocam o ressecamento dos ecossistemas, que promovem desmatamento legal e ilegal e ainda tensionam o tempo todo a legislação de proteção ambiental nos legislativos do país, não tem nada de sustentável. Construir e ampliar cidades focadas em negócio, deixando em um segundo plano o bem-estar de sua população, não tem nada de sustentável.

5. Priorizar o interesse coletivo. Adentramos à era da escassez. Bem-vindos! Satisfazer cada um em suas vontades e ganância não é mais possível. O corporativismo cairá em desuso nas sociedades mais sábias. A vontade geral deve prevalecer. A base da vida é o meio ambiente e ele é um bem de interesse coletivo. Todos respiramos ar. Inspire, expire… continue.

* Ecólogo e Mestre em Geociências. Autor do livro “Na nervura da folha”, lançado em 2023 pelo selo Corixo Edições 

 

 

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