José Aparecido Da Silva*
Campbel (2024) em seu livro “A Nova Ciência do Narcisismo; Editora Cultrix” logo no prefácio afirma que o termo “narcisista”, usualmente, caracteriza alguém que manifesta admiração ou interesse excessivo por si próprio. Ele acrescenta que o termo é buscado em torno de um milhão de vezes on-line por mês, indicando que há milhares de pessoas correndo atrás de informações sobre “traços narcisistas”, “comportamentos narcisistas” e “sinais ou sintomas de narcisismo”. O narcisismo articula-se com sentimentos e atitudes do indivíduo em relação a si mesmo, estando associado ao desenvolvimento normal e auto-regulação – é o cerne da auto-estima, da vida afetiva e das relações saudáveis. Assim considerando, desempenha um papel cardinal na capacidade de lidar com desafios, sucessos e mudanças, amar e vivenciar felicidade, satisfação e aceitação da trajetória de vida.
Na verdade, o termo “narcisismo” foi usado pela primeira vez no longínquo ano de 1899. Naquela ocasião foi definido como um estado de auto-erotismo no qual o indivíduo toma o seu próprio corpo como objeto de interesse e de gratificação sexual. Desde então, o narcisismo vem sendo definido sob diferentes perspectivas teóricas, variando desde as perspectivas filosóficas, psicanalíticas, behavioristas, experimentais até as posições mais recentes que buscam encontrar suas estruturas e funcionalidades cerebrais, ou seja, encontrar os substratos cerebrais do narcisismo como um traço ou um estado de personalidade.
O narcisismo pode variar desde simples ações no nosso cotidiano até aos comportamentos mais complexos. Estudiosos supõem a existência de um espectro, ou contínuo, do narcisismo. Em outras palavras, algumas pessoas têm mais, outras menos e uma grande parcela se situa moderadamente nos escores das escalas que mensuram traços ou estados de narcisismo. Todavia, o uso generalizado do conceito de narcisismo patológico como um tipo de personalidade distinto levou à introdução e formalização da patologia narcísica como um diagnóstico de perturbação da personalidade no DSM tendo sido operacionalizada com critérios diagnósticos. As revisões que foram feitas a este diagnóstico – até ao atual DSM-5 – focaram-se nas manifestações comportamentais observáveis do narcisismo, evitando os aspectos mais inferenciais do construto e na confiabilidade e validade discriminante.
É possível mensurar o grau de narcisismo de uma pessoa? Atualmente, o Inventário de Personalidade Narcisista (IPN) é o instrumento de medida mais popular do narcisismo grandioso. O IPN capta ao menos dois aspectos importantes do narcisismo: ser audacioso e expansivo, e também, manipulador e dar direitos. O teste é um questionário de auto-relatos que contém 40 itens. Cada item possui uma afirmação narcisista e outra não narcisista. Os respondentes devem escolher a afirmação que lhes descreve melhor. São pontuadas apenas as afirmações narcisistas segundo o protocolo; e quanto maior a pontuação, maior o narcisismo. Atualmente, há escalas nas quais o número de itens foi substancialmente reduzido, por exemplo, o IPN-13, com apenas 13 itens. Também, a literatura nos revela inúmeros estudos que procuraram investigar as correlações =, ou associações, entre os escores dos Inventários de Personalidade Narcisista e os escores nos cinco traços principais de personalidade, a saber: amabilidade, abertura a experiência, escrupulosidade, extroversão (introversão) e neuroticismo (estabilidade emocional). A hipótese subjacente é que poderemos entender o narcisismo se compreendermos bem os cinco grandes traços de personalidade.
A realidade, até agora, o narcisismo, talvez, seja um traço de personalidade muito complexo que é constituído de numerosos traços específicos e padrões de comportamentos que, às vezes, podem parecer não ter qualquer relação uns com os outros. Ademais, com o avanço do conhecimento em neurociência cognitiva, afetiva e comportamental podermos, muito em breve, nos aprofundar nas entranhas da personalidade narcisista.
Professor Visitante da UnB-DF*