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Cresce o número de mortes de motociclistas

Motociclistas são mais da metade dos mortos no trânsito e acidentes, em sua maioria, ocorrem por desrespeito à sinalização ou imprudência 

Número de motociclistas mortos no trânsito de RP aumentou 60% de janeiro a julho deste ano  (Alfredo Risk)

Por: Adalberto Luque 

 

Jeová Cardoso dos Anjos, de 43 anos, estava em horário de almoço, no dia 03 de setembro. Seguia com sua moto pela Rua Bolívia para almoçar em casa, como costumava fazer. No cruzamento com a Rua Daniel Solera, vinha um caminhão. 

O motorista do caminhão avançou o cruzamento quando Jeová se aproximava com sua moto. O choque foi inevitável e o motociclista foi parar debaixo da roda traseira do caminhão, que passou sobre seu corpo. 

Jeová morreu antes que o resgate pudesse ser acionado. Pessoas que presenciaram a cena ficaram revoltadas e, de acordo com o Boletim de Ocorrência, ameaçaram atear fogo no caminhão. O local era sinalizado. Havia pintura de “pare” na rua e placa indicando que a preferência era de quem vinha pela Rua Bolívia. 

O motorista foi retirado do local pela PM, para evitar que fosse agredido pelas pessoas que estavam revoltadas com o acidente. O caso está sendo investigado como homicídio culposo na condução de veículo automotor pelo 2º Distrito Policial. 

Dados desesperadores 

Jeová ainda não está nos dados estatísticos divulgados pelo Sistema de Informações Gerenciais de Sinistros de Trânsito (Infosiga-SP). A próxima atualização será em 25 de setembro, quando o órgão ligado ao Detran-SP vai revelar os números registrados em agosto deste ano. A morte de Jeová só vai constar nos dados do Infosiga-SP a serem divulgados em 25 de outubro. 

Apenas de janeiro a julho de 2024, 61 pessoas perderam a vida no trânsito de Ribeirão Preto. Isso inclui as vias municipais e as rodovias que cortam o município. Deste total, 32 eram motociclistas. Mais da metade dos casos. 

De acordo com o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS), 119.735 motociclistas morreram em acidentes no Brasil entre 2012 e 2021. Isso torna o trânsito brasileiro um dos mais violentos e letais do planeta e os motociclistas são suas principais vítimas. 

O número de mortos no período equivale à população de três importantes cidades da região metropolitana de Ribeirão Preto. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) obtidos pelo Censo 2022, é como se toda a população das cidades de Jaboticabal, Guariba e Dumont fosse dizimada no período de nove anos. 

São 33 motociclistas que morrem diariamente no Brasil. E, de acordo com o DataSUS, a maioria das vítimas são homens (89%) e jovens com idades entre 20 e 24 anos (18%). 

Outro dado preocupante em relação aos motociclistas é a vulnerabilidade. De acordo com o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), em levantamento feito a partir de registros de trânsito entre os anos de 2008 a 2018, apenas 10% dos motociclistas internados por envolvimento em acidentes de trânsito receberam alta hospitalar sem sequelas ou incapacidade. As chances de sair ileso do hospital após um acidente de moto são muito reduzidas para os motociclistas. 

Álcool 

Leandro Mota, coordenador do SAMU, reforça que socorristas perceberam aumento de hálito etílico entre vítimas de acidentes, o que indica consumo de bebidas alcóolicas antes de dirigir  (Alfredo Risk)

Um estudo feito pela Gerência de Estatística do Detran do Distrito Federal indica mais um dado alarmante nessa epidemia de mortes sobre duas rodas. O uso de álcool ou drogas, de acordo com o levantamento, foi constatado em algum dos envolvidos em 27,5% dos acidentes com motos. 

Em entrevista ao Tribuna Ribeirão, o médico intensivista Leandro Silva Mota, coordenador do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) em Ribeirão Preto, revelou que os socorristas notaram aumento no número de acidentes envolvendo condutores que ingeriram bebida alcoólica. 

“Principalmente com motociclistas. Percebemos no hálito etílico, na presença de cascos e latas no interior do veículo. Muitas vezes, acidentes fatais. Isso ocorre pela diminuição do reflexo quando a pessoa ingere bebida alcóolica”, explica. 

Leandro reforça que isso ocorre com maior frequência nos finais de semana ou dias próximos. “Tendem a ser mais letais pela falta de reflexo. A perda do controle do veículo, principalmente em alta velocidade, acaba gerando um trauma muito mais forte em quem está dentro do carro ou ejetando a vítima muito mais distante, quando se trata de motocicletas”, aduz. 

Regras de trânsito 

Assim como Jeová, reportado no começo da reportagem, Luan Mendes Queiroz perdeu a vida após um acidente em ruas bem sinalizadas. Por volta de 09h50 do dia 30 de julho, ele conduzia sua moto pela Rua Paulo de Frontin, na Vila Virgínia, zona Oeste da cidade. 

Tinha a preferência no cruzamento com a Rua José Venâncio, mas um carro não respeitou a sinalização de “pare” e avançou. A batida foi inevitável. O corpo de Luan foi projetado vários metros adiante. 

Foi socorrido por uma unidade do SAMU e levado para o Hospital das Clínicas – Unidade de Emergência, no Centro de Ribeirão Preto, com politraumatismo. Ficou internado em estado grave e, no dia 6 de agosto, morreu em consequência dos ferimentos sofridos no acidente. 

Por mais que condutores reclamem, falta de sinalização não é um problema crônico na cidade. O problema, na verdade, tem sido a falta de respeito de motoristas e motociclistas que não obedecem às placas de parada nos cruzamentos, que ultrapassam semáforos no sinal vermelho, que fazem conversão sem dar seta e que andam na contramão de direção, para ficar apenas nas infrações mais comuns. 

Para Rudineia Couteiro, da RP Mobi, imprudência e desrespeito às normas de trânsito são os principais responsáveis pelo aumento das mortes (Mobi/Divulgação) 

Rudilea Couteiro, agente de trânsito e palestrante do Departamento de Educação de Trânsito da RP Mobi, avalia que o principal motivo para sinistros como mortes de motociclista é a imprudência e o desrespeito às normas de trânsito. “O motociclista é um dos modais mais vulneráveis no trânsito, por estar mais exposto a lesões, motivo que deveria ser suficiente para o condutor redobrar os cuidados e a atenção no trânsito”, explica Rudilea. 

Segundo a agente e palestrante da RP Mobi, além das áreas de Engenharia de Trânsito (responsável pela implementação, organização e sinalização das vias) e Fiscalização, que visam prevenir e coibir a infração, a RP Mobi tem realizado robustos investimentos na educação do trânsito. “Temos implementado um conjunto de ações para a conscientização e a orientação da população em geral sobre a importância do aprendizado e da mudança comportamental no trânsito”, acrescenta. 

De acordo com Rudilea, através do Departamento de Educação de Trânsito, a RP Mobi mantém programa de educação permanente, com atividades ininterruptas, que atendem escolas de ensino fundamental. “Promovemos o aprendizado das regras básicas de trânsito pelo método de aprendizado transversal, além de outras ações como Palestras no meio corporativo e para jovens habilitados, blitz educativas em vias importantes e demais eventos e campanhas na cidade”, conclui. 

Números que assustam 

No ranking das cidades com as mais elevadas taxas de mortalidade no trânsito divulgado pelo Infosiga-SP, Ribeirão Preto é a 8ª cidade do Estado com mais mortes, com 14,19 a cada 100 mil habitantes. São Paulo, ao contrário do que muitos pensam, aparece apenas na 22ª posição, com 9,32 mortes no trânsito a cada 100 mil habitantes. Praia Grande é a cidade com mais mortes do Estado, com 16,29 mortes a cada 100 mil habitantes. 

De janeiro a julho de 2024, Ribeirão Preto registrou 61 mortes no trânsito. Deste total, 32 foram de motociclistas, sendo 27 homens e 5 mulheres. Durante todo o ano de 2023 a cidade registrou a morte de 35 motociclistas. Ou seja, os sete primeiros meses de 2024 tem quase o mesmo número de motociclistas mortos durante todo o ano passado. 

Se considerados os sete primeiros meses de 2023, em relação ao mesmo período do ano atual, houve um aumento de 60% no total de motociclistas mortos. São 32 casos em 2024, contra 20 em 2023. 

Duas faixas etárias estão entre as que ocorrem a maioria das mortes de motociclistas: dos 20 a 24 anos e dos 35 a 39 anos, cada uma com 5 casos. Em 85,2% das mortes, a vítima letal é o condutor da motocicleta, apenas em 14,8% dos casos é o passageiro quem morre no acidente ou em sua decorrência. 

O Infosiga-SP apurou que 70,4% das mortes ocorreram nas vias urbanas, enquanto 14,8% foram registradas nas rodovias. No total, a cidade registrou 1.925 acidentes, com vítimas fatais, não fatais ou sem vítimas, entre janeiro e julho de 2024. Deste número, 1.264 (41,5%) envolviam pelo menos uma motocicleta. Os carros lideram esse ranking total de acidentes, com 41,8% dos casos. Depois das motos, aparecem caminhões em 2,4% dos casos e ônibus em 2,3%. 

 

 

 

 

 

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