Duarte Nogueira *
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Tivemos em Ribeirão Preto e região, no último final de semana, uma situação totalmente fora do comum, tensa e extremamente perigosa, provocada pelos inúmeros incêndios que se aproximaram da cidade de forma significativamente perigosa. Foi desesperador assistir a imagens de pessoas tendo que deixar suas casas com medo das chamas que se aproximavam rapidamente. Foi uma situação que começou no meio da semana e que cresceu de forma assustadora, levando a ocorrências de acidentes nas estradas e à precarização da já péssima qualidade do ar que estávamos respirando.
De nossa parte, agimos de forma imediata com uma coletiva de imprensa no sábado para anunciar o decreto de proibição de atividades físicas ao ar livre – que culminou com o adiamento de duas partidas de futebol e a meia maratona que ocorreria no domingo. Também adotamos outras medidas com o objetivo de reduzir os impactos dos incêndios. Ampliamos a nossa capacidade de atendimento de saúde e divulgamos os sintomas que deveriam levar as pessoas a procurarem os serviços médicos da cidade.
Depois, em função do excesso de poeira e fuligem, suspendemos as aulas na rede municipal na segunda-feira, para que as unidades fossem limpas e preparadas para receber os alunos na terça-feira, com a reposição das aulas marcada para outubro. Ao mesmo tempo em que tomávamos medidas mitigadoras em nossa cidade, buscávamos também as ações dos governos estadual e federal para o combate aos incêndios que se propagaram de forma incontrolável. Porque foi a maior quantidade de incêndios em 20 anos da série histórica, com sério agravamento de situações de seca que já vínhamos enfrentando em anos anteriores. A baixa umidade relativa do ar, a vegetação extremamente seca e os ventos facilitaram a propagação das chamas que levou à interdição de várias rodovias em toda a região por absoluta perda de visibilidade e pelo risco de se trafegar entre as chamas. As investigações policiais estão em andamento para saber a origem do início do fogo, mas os trabalhos já mostram que houve ações criminosas de pessoas irresponsáveis.
Com algumas prisões já feitas (e outras que certamente virão) e os depoimentos de testemunhas, as autoridades chegarão aos autores de tamanha tragédia, que não apenas nos deixou duras lições mas também levou a prejuízos incalculáveis e de difícil e demorada reparação. O governo estadual estima em mais de R$ 1 bilhão os prejuízos originados pelos incêndios até aqui. Mas as perdas que não se medem ultrapassam as cifras inteligíveis e os valores contábeis.
Estes podem ser representados pela perda de produtos, de matéria-prima, de horas de trabalho de pessoas, de equipamentos utilizados e outros elementos a serem considerados, como a ampliação do atendimento médico em Ribeirão Preto que cresceu 60% principalmente em função de complicações respiratórias. Outras perdas, no entanto, que devem ser a estas agregadas podem ser sentidas e percebidas, mas dificilmente estimadas.
Um bom exemplo de prejuízo imediato foi a redução do fornecimento de água na cidade, em função de problemas na rede elétrica que levaram ao desligamento de bombas dos poços tubulares profundos, justamente quando a água se tornou mais necessária para a limpeza das áreas atingidas por poeira e cinza das queimadas.
Mas o prejuízo realmente incalculável ficou com o meio ambiente. Animais mortos e vegetações destruídas. A recomposição, se houver, levará décadas. Enquanto isso, a piora do clima pode levar a doenças graves no médio e longo prazos. Precisamos agora de uma reflexão profunda e de medidas sérias que evitem a repetição de situações como essas. Pelo bem da humanidade.
* Prefeito de Ribeirão Preto