Uma semana após a queda de um avião da Voepass Linhas Aéreas (antiga Passaredo Transportes Aéreos S/A) em Vinhedo (SP), que deixou 62 mortos – 58 passageiros e quatro tripulantes (34 homens e 28 mulheres) –, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) inicia uma operação assistida para intensificar a vigilância do serviço prestado pela companhia aérea.
O objetivo, segundo a agência reguladora, é “evitar anormalidades na operação” e “manter a prestação do serviço da Voepass em condições adequadas”. A decisão foi anunciada em reunião com a Voepass nesta sexta-feira, 16 de agosto. A Anac não deu detalhes sobre como será feito esse monitoramento intensificado ou qual a diferença para o acompanhamento que a agência já realizava.
“O gerenciamento da segurança na aviação civil é uma atividade contínua, realizada de forma constante pelos órgãos que compõem o sistema de aviação brasileiro. Por sua vez, os operadores aéreos, entre eles a Voepass, têm de enviar constantemente dados de desempenho de sua frota à Anac, o que inclui eventuais interrupções mecânicas, indisponibilidades de aeronave ou dificuldades em serviço”, diz a Anac em nota.
“No atual contexto pós-acidente aéreo, e considerando aspectos de fatores humanos, a agência entende ser importante a intensificação da vigilância continuada e do monitoramento do serviço prestado pela empresa, estabelecendo parâmetros para evitar anormalidades na operação”, completa.
Ainda não se sabe a causa do acidente, que será esclarecida após as apurações oficiais do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Força Aérea Brasileira (FAB), responsável por investigar acidentes com aeronaves.
Os órgãos já conseguiram extrair os dados de voz e de voo das caixas-pretas e do Flight Data Recorder, respectivamente, que serão importantes para desvendar as razões para o acidente. Especialistas suspeitam que possa ter ocorrido uma formação de gelo nas asas do avião, o que poderia ter feito a aeronave perder sustentação e cair.
O modelo ATR-72 500 tem maior propensão à formação de gelo, devido à altitude em que voa. No dia do desastre, o sistema oficial da Rede de Meteorologia da Aeronáutica (Redemet) havia alertado sobre a possibilidade de formação de gelo severa.
O alerta não impede o avião de decolar, pois as aeronaves têm um sistema que impede a formação de gelo. As investigações devem mostrar se o sistema do avião em questão estava funcionando como deveria. Além disso, as condições meteorológicas do dia 9 eram atípicas em razão de muita umidade e da frente fria.
Uma análise do meteorologista Humberto Barbosa, fundador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), mostra que, no dia, o voo enfrentou uma zona meteorológica crítica por nove minutos, em que a aeronave reduziu a velocidade e atravessou nuvens supercongeladas de até 40 graus negativos, onde voou entre oito e dez minutos.
A Anac orienta ainda os passageiros que, em caso de atrasos, cancelamentos e interrupção do serviço de transporte aéreo, as empresas devem manter o passageiro informado a cada 30 minutos quanto à previsão de partida dos voos atrasados e deve oferecer assistência material gratuitamente, conforme o tempo de espera no aeroporto, contado a partir do momento em que houve o atraso, o cancelamento ou a interrupção.
Maior acidente desde 2007 – O acidente com o ATR-72 500 da Voerpass foi o primeiro com vítimas em solo brasileiro desde o caso do avião da TAM que fazia o voo 3054, em 17 de julho de 2007. A aeronave saiu de Porto Alegre (RS) e chocou-se contra um prédio da própria companhia depois de derrapar na pista do Aeroporto de Congonhas. Morreram 199 pessoas, 187 a bordo e doze em terra, a maior tragédia da aviação em território nacional.