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A Colômbia e sua literatura (2): Juan Rodríguez Freyle 

Rosemary Conceição dos Santos* 

 

De acordo com especialistas, Juan Rodríguez Freyle (1566-1642), foi um dos primeiros escritores do Novo Reino de Granada, o território colonial espanhol do que hoje é Colômbia , Equador , Panamá e Venezuela. Aluno do seminário de San Luis por dois anos, ali foi expulso por trocar o apelido do arcebispo Zapata por Sabata. Inscrevendo-se em expedições para submeter os grupos indígenas Timaná ( Huila ) e Pijao, este último sob o comando do presidente Juan de Borja, Freyle permaneceu seis anos na Espanha como secretário de Alonso Pérez Salazar. Durante sua estada na Espanha, de 1585 a 1591, o autor testemunhou o ataque a Cádiz pelo pirata Francis Drake em 1587. Após a morte de Pérez Salazar, Freyle se viu em problemas econômicos e em um país muito distante de sua nação natal. 

Retornando ao Novo Reino de Granada, ali se estabeleceu por um tempo em Cartagena das Índias. Viajando pelo Rio Magdalena de volta ao seu local de nascimento, Freyle ali se dedicou à agricultura. De volta a Bogotá, em 1603 ou 1604, casou-se com Francisca Rodríguez e, ao que parece, trabalhou no escritório de arrecadação de impostos local. Em seu tempo livre, começou a escrever, tornando-se conhecido como um homem culto e apaixonado por literatura. 

Entre 1636 e 1638, últimos anos de sua vida, Freyle escreveu sua obra-prima: “El Carnero”, coleção de histórias, anedotas e rumores sobre os primeiros dias do Novo Reino de Granada e o fim da Confederação Muisca, constituindo-se uma das fontes mais importantes para o período espanhol do século XVI da atual Colômbia. Este livro, baseado em sua amizade com o cacique de Guatavita, um dos principais governantes da Confederação Muisca. Levou Freyle a viver em Guasca, Cundinamarca, perto do sagrado Lago Guatavita. “El Carnero” foi mencionado na literatura histórica pela primeira vez em 1785, não sendo totalmente publicado até 1859. Carlos Rey Pereira, pesquisador da cultura colombiana, realizou seu doutorado sobre a obra, publicando-o em 2000. Neste estudo acadêmico, Pereira avaliou a validade dos eventos descritos como uma mistura de opiniões comuns e rumores. Para ele, Freyle preencheu as lacunas entre dois outros primeiros cronistas espanhóis : Pedro Simón e Juan de Castellanos. Por sua vez, outras resenhas críticas do livro mencionam o ponto de vista do escritor; filho de um encomendero e conquistador. Nas palavras do especialista David Bost: “A erudição moderna mostrou que tal confluência do que hoje chamamos de história e ficção era comum durante esse período. Os escritores históricos frequentemente recorriam a recursos de modelos literários para investir seus relatos com uma linguagem mais expressiva. Muitas vezes não havia uma distinção clara entre as duas formas de escrita com relação à verdade ou confiabilidade; não era incomum que historiadores como Rodríguez Freyle ou Pedro Simón criassem retratos e caracterizações com pouca ou nenhuma evidência textual. Os historiadores eram livres para especular sobre pessoas e ocorrências; suas narrativas refletem, portanto, frequentes reviravoltas em direção a uma representação imaginativa e inventiva do cenário americano. 

Em “El Carnero”, ao afirmar “O índio dourado fez sua oferta jogando todo o ouro que tinha aos pés, no meio do lago. Desta cerimônia tiraram o célebre nome de El Dorado, que custou tantas vidas e quintas.”, Freyle trouxe a lenda lenda do homem coberto de ouro, oriundo do El Dorado, cidade dourada, do conquistador espanhol Sebastián de Belalcázar. Relatando, em uma crônica, a cerimônia realizada pelo povo Muisca, na atual Colômbia. Segundo Freyle, o herdeiro da chefia passou seis anos em jejum em uma caverna para depois ter seu corpo coberto com ouro em pó e ser enviado para o meio do lago em um jangada cheia de artefatos de ouro. 

De acordo com estudiosos do assunto, algumas evidências de que os rituais aconteceram foram encontradas no século 20, como objetos de ouro e outras joias retiradas do fundo do lago durante uma drenagem em 1912, e uma jangada dourada encontrada por fazendeiros em uma caverna, em 1969. Essas evidências, junto com os fragmentos de cerâmica encontrados no novo estudo, fazem os pesquisadores acreditarem que a cerimônia El Dorado aconteceu apenas uma vez, provavelmente durante um momento de tensão política, com o ritual sendo usado como demonstração de poder e riqueza, ao mesmo tempo que cultuavam os deuses. 

Professora Universitária* 

 

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