Tribuna Ribeirão
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O sambista diferente 

Sandro Cunha dos Santos * 
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Nas rodas de samba dos engraxates da Praça da Sé e Praça Clóvis, centro da capital paulista, Moleque Madureira, Madusca, Barra Funda ou Branquinho Pixaim, apelidos carinhosamente conquistados, graças ao seu grande talento na batucada em uma lata de graxa ou gingando na disputa do jogo de tiririca, (espécie de capoeira em que um tenta derrubar o outro, enquanto o samba é cantado por todos) Germano Mathias se destacou e vislumbrou o sucesso no mundo do samba. 
 
Convocado para servir o exército em Quitaúna, teve que adiar momentaneamente o sonho de se tornar um sambista de destaque. Entretanto, a sua carreira militar foi muito breve, pois a vida desregrada de boêmio era totalmente incompatível com o rigor e a disciplina do exército. 
 
Ao ser indagado sobre o motivo de sua saída do exército, ele diz: quem fala a verdade não merece castigo, não é? Então eu vou te dizer a verdade. Eu fui expulso do exército, pois não conseguia acordar cedo. Ia às boates, rodas de samba e vira e mexe o pessoal da polícia do exército me prendia. Era um verdadeiro esculacho. 
 
O exército perdeu um artilheiro pé de poeira e a música ganhou “O Catedrático do Samba”, título conquistado graças ao seu enorme talento e originalidade ao interpretar o samba de maneira sincopada e moderna, o que lhe rendeu elogios de Gilberto Gil, que se tornou seu fã, intérprete de suas músicas e gravou o disco “Antologia do Samba-Choro”, fazendo uma releitura e novos arranjos de suas músicas.  
 
Germano é autêntico e extrovertido. Em vários momentos ele tira o sarro dele mesmo, mas na verdade, o que me parece, é que ele está brincando com um personagem que não é real, mas que foi criado por ele. 
 
Como exemplo da sua extroversão, ao receber um título honorífico do governador Alberto Goldman em 2010, o sambista se pronunciou da seguinte forma: agradeço muito esse título concedido por vossa excelência e vou lhe confessar que fiquei desconfiado, pois até hoje nenhum político fez nada por mim. Posso lhe fazer uma pergunta? O senhor gosta mesmo de mim? O governador na sua seriedade respondeu: claro que gosto Germano, afinal de contas eu estou te dando um título honorífico. O sambista deu uma pausa e respondeu: governador, o senhor me desculpe, mas eu não tenho culpa que o senhor tem mau gosto (gargalhadas).     
 
Tuniquinho Batuqueiro, sambista piracicabano e parceiro de Germano, ao perceber a sua grande desenvoltura na roda de samba falou: meu irmão, encara o Rádio, vai dar certo. Você está se destacando, vai em frente… 
 
Seguindo o conselho do amigo ele participou do concurso “À Procura de um Astro” do Programa “Caravana da Alegria” da Rádio Tupi de São Paulo e cantando o samba de sua autoria e de Doca, “Minha nega na janela”, ganhou o primeiro lugar e um contrato nas Emissoras Associadas (Rádio Tupi e Difusora de São Paulo) como “cantor e executor de instrumentos exóticos”. A partir de então sua carreira foi meteórica, emplacando vários sucessos como “A situação do Escurinho”, samba de Aldacir Lobo e Padeirinho da Mangueira que é a continuação do “Escurinho”, de Geraldo Pereira, sucesso na voz de Ciro Monteiro, “Falso rebolado” (de Venâncio e Jorge Costa), “Baiano Capoeira”, primeiro samba gravado do grande Geraldo Filme, entre outros. Gravou um grande sucesso de sua autoria chamado “Guarde a sandália dela”, do sambista gaúcho Túlio Piva gravou “Tem que ter mulata” e de vários compositores cariocas, tais como Luiz Antonio (“Lata d’água), Zé Keti (“Malvadeza Durão e Nega Dina”) e Nelson Cavaquinho (“História de um valente”). 
 
Herdando de Caco Velho (Matheus Nunes), “O Sambista Infernal”, a bossa, os improvisos, o domínio do ritmo, o bailado dos pés e pernadas e o canto com uma divisão rítmica extremamente complexa, o nosso Catedrático do Samba, mestre do samba sincopado, continua na ativa aos 84 anos de idade, esbanjando alegria e descontração. 
 
Saravá, querido Germanão! 
 
* Professor e músico do grupo Os Etanóis      

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