Rosemary Conceição dos Santos*
A Colômbia, heterogênea em suas heranças culturais espanholas, africanas e indígenas, produziu, segundo especialistas, uma das literaturas mais ricas da América Latina, tanto por sua abundância quanto por sua variedade e inovação durante os séculos XIX e XX, contribuindo decisivamente para a consolidação da literatura latino-americana. No período de 1499 a 1510, ainda sob o Império Espanhol, as principais manifestações literárias incluíam narrativas de conquista, crônicas, devoção religiosa e temas de amor. Dentre os autores mais conhecidos desse período temos Juan Rodríguez Freyle, um dos primeiros escritores do Novo Reino de Granada. Sua principal obra, “El Carnero”, é uma coleção de histórias, anedotas e rumores sobre os primeiros dias da Colômbia colonial e o fim da Confederação Muisca. Por sua vez, Gonzalo Jiménez de Quesada (1496 ou 1506 ou 1509, ou 1579, foi o primeiro cronista da nação, redigindo diários de suas próprias conquistas, publicados em 1576, e um dos autores do “Epítome de la conquista del Nuevo Reino de Granada”, inédito até 1889. De modo similar, ainda nesse período, Juan de Castellanos (1522-1606) escreveu, em 1589, o poema mais longo de todos os tempos na língua espanhola, “Elegías de varones ilustres de Indias”. Já Pedro Simón (1574 – 1628) foi um frei que produziu, em 1626, as “Noticias historiales de las conquistas de Tierra Firme en las Indias Ocidentales sobre a conquista espanhola”. Juan Rodríguez Freyle (1566 – 1642) foi um sacerdote espanhol autor da extensa crônica da conquista espanhola do Muisca; “El Carnero” (“O Carneiro”), publicada pela primeira vez em 1638. Hernando Domínguez Camargo (1606 – 1659), sacerdote e escritor jesuíta, redigiu seus trabalhos influenciado pelo poeta espanhol Luis de Góngora, em uma tendência cultural conhecida como Barroco das Índias. Dentre suas obras mais reconhecidas estsão “Poema épico para São Ignácio de Loyola” e “Buquê de flores poéticas”. Lucas Fernández de Piedrahita (Bogotá, 1624 – Cidade de Panamá, 29 de março de 1688) – Publicou Historia General de las Conquistas del Nuevo Reino de Granada, por sua vez, publicou, em 1676, uma importante obra sobre a conquista espanhola e os povos indígenas da Colômbia. Já Francisco Álvarez de Velasco e Zorrilla (1647 – 1708) produziu sua principal obra, “Rhytmica Sacra, Moral y Laudatiria”. Francisca Josefa de Castillo e Guevara (1671 – 1742) foi uma freira que se tornou reconhecida como uma das mais importantes autoras do misticismo por sua obra “Afectos espirituales e Vida (memórias).”
No período de 1780 a 1830, ocorreu a Independência e consolidação nacional (1780-1830), com forças da república derrotando o Império Espanhol na Batalha de Boyacá. De acordo com estudiosos, durante o processo de independência, a literatura colombiana foi fortemente influenciada pelas motivações políticas do momento, apresentando os principais movimentos literários próximos ao romantismo. Durante o século XIX, a escrita política foi liderada por Simón Bolívar. O jornalismo local foi iniciado por Antonio Nariño, com o governo colombiano estabelecendo, em 1871, a primeira academia de língua espanhola no continente americano. Os autores relevantes do período sendo: Camilo Torres Tenorio, Francisco Antonio Zea, José Fernández Madrid. No final do século XIX e início do século XX, o principal tópico da literatura colombiana era a representação colorida da vida camponesa, ligada a fortes críticas à sociedade e ao governo. Esse tipo de literatura foi denominado literatura costumbrista, tendo dentre seus representantes, Jorge Isaacs, autor de “María”, romance representativo do movimento romântico espanhol, bem como Tomás Carrasquilla, Adolfo León Gómez, José María Cordovez Moure, Eustaquio Palacios, Julio Arboleda, Gregorio Gutiérrez González, Rafael Pombo, Soledad Acosta, Josefa Acevedo de Gomez, Candelario Obeso e Manuel Ancízar.
Com a chegada do modernismo, reação contra a literatura anterior, a literatura moderna traz como principais tópicos a feiura e o mistério. Dentre os principais escritores modernos, destacam-se: José Eustasio Rivera, Emilia Ayarza, Rafael Maya, León de Greiff, Luis Vidales, Luis Carlos López, Germán Arciniegas, Porfirio Barba-Jacob e José Maria Vargas Villa. Em 1939, o processo de industrialização na América Latina gerou novos movimentos literários, como o movimento poético denominado “Piedra y cielo” (1939), com os autores Eduardo Carranza, Jorge Gaitán Durán, Jorge Rojas, Arturo Camacho Ramírez e Augusto Pinilla. Nas décadas de 1940 e 1950, violentos eventos na Colômbia, como a La Violencia, o governo militar de Gustavo Rojas Pinilla e uma considerável expansão urbana, influenciaram a formação do movimento nadaísta, denominado com a expressão colombiana conferida a numerosos movimentos de vanguarda na poesia das Américas durante as décadas de 1950 e 1960, caracterizado por elementos de existencialismo e niilismo, incorporação dinâmica da vida da cidade e um sabor iconoclasta geralmente irreverente. Alguns autores que integraram esse movimento foram Fernando González, um dos escritores mais originais da Colômbia durante o século XX, com ideias controversas e muito influentes na sociedade colombiana da ocasião e atual. Gonzalo Arango, Jotamario Arbeláez, Eduardo Escobar, Fanny Buitrago, Patricia Ariza e Jaime Jaramillo Escobar.
Nos anos 1960 e 1970, o trabalho de um grupo de romancistas latino-americanos relativamente jovens, a saber, Julio Cortázar (Argentina), Carlos Fuentes (México), Mario Vargas Llosa (Peru) e Gabriel García Márquez (Colômbia), foi amplamente divulgado na Europa e no resto do mundo, ficando o período conhecido como boom latino-americano, muito prolífico para a literatura colombiana. Sob a influência do modernismo da Europa e da América do Norte e do movimento de vanguarda da América Latina, esses escritores desafiaram as convenções estabelecidas na literatura latino-americana. Seus trabalhos, ainda que experimentais, devido ao clima político da América Latinada década de 1960, eram também muito politizados. Também integrando o grupo temos Eduardo Caballero Calderón, Manuel Mejía Vallejo, Álvaro Mutis, Manuel Zapata Olivella, Andrés Caicedo, Alfredo Iriarte, Germán Arciniegas e Álvaro Cepeda Samudio. Já na contemporaneidade, autores como Germán Castro Caycedo, Daniel Samper Pizano, Fernando Vallejo, Laura Restrepo, Juan B Gutierrez, Maria Mercedes Carranza, Germán Espinosa, David Sánchez Juliao, Héctor Abad Faciolince, Rafael Chaparro Madiedo, Juan Gabriel Vásquez e William Ospina, dentre outros, merecem destaque. Na década de 1970, ampla lista de escritores e poetas que começaram a publicar após o movimento nadaísta, foram considerados a Geração Desiludida por aspectos identificados em seus estilos, temas e ideologia. Giovanni Quessep, Harold Alvarado Tenório, Juan Gustavo Cobo Borda, Elkin Restrepo, José Manuel Arango, Darío Jaramillo Agudelo, Augusto Pinilla, Maria Mercedes Carranza e Juan Manuel Roca, entre muitos outros, foram considerados parte dessa geração.
Atualmente, escritores como Cristian Valencia, Alberto Salcedo Ramos e Jorge Enrique Botero produziram jornalismo literário. Autores como Hector Abad Faciolince, Santiago Gamboa, Juan Sebastian Cardenas, Nahum Montt, Miguel Mendoza Luna, Sebastian Pineda Buitrago, Mauricio Loza, Ignacio Arroyave Piedrhíta, Antonio Garcia, Mario Mendoza, James Canon, Ricardo Abdahllah e Juan Pablo Plata, Evelio Rosero Diago, Antonio Ungar, Laura Restrepo, Ruben Varona, William Ospina, David Alberto Campos, Oscar Perdomo Gamboa, Juan Esteban Constain, Juan Álvarez, Andrés Del Castillo, Antonio Iriarte Cadena, Esmir Garcés, Antonieta Villamil, Winston Morales, Efraim Medina Reyes, Ricardo Silva Romero, entre outros, embrenharam-se pela ficção. Por sua vez, nas últimas décadas, na Colômbia, um número significativo de poetas ganha relevo, ocupando-se de questões urbanas e anti-poesia. Dentre eles estão Antonieta Villamil, Andrea Cote, Lucia Estrada e Felipe García Quintero, cuja poesia é reconhecida internacionalmente. Na literatura infantil, personagens criados por Rafael Pombo, e presentes no imaginário popular do país, seja em rimas infantis, contos populares familiares ou nos livros didáticos do ensino fundamental, ganham destaque. Nesse grupo de autores, temos: Jairo Anibal Niño e Euclides Jaramillo. A partir dos anos 80, as jovens escritoras de ficção adulta Gloria Cecilia Díaz, Irene Vasco, Evelio José Rosero, Yolanda Reyes e Pilar Lozano introduziram novos temas para o gênero, como conflito, sequestro, morte e medo. Vozes recentes de livros ilustrados incluem o trabalho de Ivar da Coll, Claudia Rueda, Jairo Buitrago e Rafael Yockteng. Um universo de autores que todos merecem conhecer. Falaremos de alguns deles.
Professora Universitária*