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O Equador e sua literatura (34): Blanca Moncada Pesantes 

Rosemary Conceição dos Santos* 

 

De acordo com especialistas, Blanca Moncada Pesantes (1989 -…) é uma jornalista e escritora equatoriana que, aos 17 anos, inscreveu-se no curso de direito porque o pai desejava que ela fosse advogada. Porém, cursado um semestre do mesmo, logo percebeu que não queria seguir com a advocacia e reorienta sua vocação profissional buscando estudar jornalismo. Já no segundo ano do curso, trabalhando nos jornais El Universo e El Telégrafo o Expreso, fixa-se neste último. Em 2020, no auge da pandemia da Covid-19, torna-se internacionalmente conhecida por ter tomado a iniciativa de organizar a informação sobre as baixas provocadas pelo vírus na segunda maior cidade equatoriana de Guayaquil. Esta, em Abril de 2020, fora registrada como o epicentro da doença no país, cujos números de mortos era superior ao registrado nos países vizinhos. 

Neste contexto, contatando todos os que se comunicavam através das redes sociais, veio a saber sobre a morte de parentes e vizinhos cujos cadáveres ainda não haviam sido recolhidos. Após confirmar as informações, Pesantes criou no twitter uma rede onde foi listando todos os casos conhecidos, trabalho, este, que chamou a atenção nacional e internacional de maneira a obter ajuda de todos. Com a sua reportagem intitulada “Al fin tenemos dónde ir a llorarlo”, na qual contou a procura de uma mulher que teve de localizar o corpo do marido vítima de Covid-19 durante quatro meses, ganhou os dois dos maiores prémios de jornalismo do Equador: o Premio al Mejor Reportaje 2020 e o El Gran Premio Jorge Mantilla Ortega. Em 2021, publicou o livro “Mis historias urbanas”, onde reuniu crónicas que escreveu para a sua coluna semanal no Diário Extra. 

Embora aposentando-se do Diario Expreso, de Guayaquil, onde trabalhou como repórter comunitária, Pesantes não tardou a afirmar que continuaria a praticar o jornalismo de forma independente, bem como, a aceitar novas propostas de trabalho. “Minhas histórias urbanas” nasceu nas entranhas do mundo blogueiro de Guayaquil, há uma década. Nele, cerca de uma centena de histórias são contadas, ilustradas pelo artista e escritor Marcos Martínez, autor de ‘O Inimigo Necessário’ e mentalizador do suplemento para adultos que tem o nome da editora artesanal. Um texto? “Adiós, Ricardo, gracias por hacerme periodista”. 

I El primer encuentro – Estabas en tu sillón de Presidente Editorial de Granasa el día que te conocí. Tenías mi hoja de vida en las manos y mientras repasabas mi escueta experiencia laboral en dos periódicos de Ecuador en 2014, una de cuatro años, otra en curso, sumando casi dos, me preguntabas qué esperaba del periodismo y qué me hacía buscar otro empleo, si al parecer estaba bien. Y estaba bien. Tenía un trabajo en el que las horas extras podían llegar a triplicar mi sueldo. Era redactora fija, contaba con tiempo para terminar mi universidad y pude haber tenido oportunidades para crecer; pero yo sabía que no estaba tan bien, porque, en un periódico del Gobierno, no se hace periodismo en Ecuador. No del periodismo que tú me enseñaste a hacer después. Ya lo había sugerido Andersson cuando -durante nuestras clases en Facso- me dijo que aplique a la vacante de Internacionales en Expreso. “Ven a hacer periodismo de verdad”. Y yo estaba allí ese diciembre, frente a ti, maestro, con una pregunta en el alma: ¿Qué es el periodismo de verdad? Estaba a punto de descubrirlo. “El sueldo que se le cedería a la vacante es poco”, confesaste en tu acento español. “Pero tienes que entender que eres joven, que se hace camino al andar y que aquí no tendrás un sueldazo, pero sí harás periodismo, porque yo te voy a guiar y te voy a enseñar. Lo único que necesito de ti, son tus ganas de aprender y tus conocimientos de redacción”. La oferta estaba en la mesa. La tomé como un reto profesional y fue, Ricardo, la mejor decisión de mi vida en el oficio, incluso hoy, diez años después de eso, cuando desempolvo este recuerdo virgen de algún registro, semanas después de tu muerte por un cáncer fulminante, el 30 de mayo del 2024. Andersson fue quien puso una de las primeras publicaciones que anunciaban tu partida. ¿No te parece curioso, Ricardo? El joven periodista que nos presentó también trajo a mí las malas nuevas. “Sí”, dijo al teléfono minutos después, cuando lo llamé a confirmar, con esa estupidez  de la que adolecen los deudos incrédulos. “Es cierto”, soltó. Yo solo pude cerrar el teléfono. Te habías ido, maestro”. 

Tradução: “O primeiro encontro – Você estava na cadeira de Presidente Editorial da Granasa no dia em que o conheci. Você tinha meu currículo em mãos e enquanto revisava minha breve experiência de trabalho em dois jornais do Equador em 2014, um de quatro anos, outro em andamento, somando quase dois, você me perguntou o que eu esperava do jornalismo e o que me fez procure outro emprego, sim, aparentemente estava tudo bem. E estava tudo bem. Eu tinha um emprego onde horas extras podiam triplicar meu salário. Fui editor regular, tive tempo de terminar a universidade e poderia ter tido oportunidades de crescer; mas eu sabia que não era tão bom, porque, num jornal do Governo, o jornalismo não se faz no Equador. Não o jornalismo que você me ensinou a fazer depois. Andersson já havia sugerido isso quando – durante nossas aulas na Facso – me disse para me candidatar à vaga Internacional na Expreso. “Venha fazer jornalismo de verdade.” E eu estava lá naquele dezembro, na sua frente, professor, com uma pergunta na alma: O que é o verdadeiro jornalismo? Eu estava prestes a descobrir. “O salário que seria dado para a vaga é pouco”, confessou você com seu sotaque espanhol. “Mas você tem que entender que você é jovem, que você faz o seu caminho andando e que aqui você não terá um ótimo salário, mas fará jornalismo, porque eu vou te orientar e te ensinar. O que você precisa é seu desejo de aprender e seu conhecimento de escrita. A oferta estava sobre a mesa. Encarei isso como um desafio profissional e foi, Ricardo, a melhor decisão da minha vida na profissão, ainda hoje, dez anos depois, quando tiro o pó dessa memória virgem de algum disco, semanas após sua morte por um câncer devastador , em 30 de maio de 2024. Andersson foi quem postou uma das primeiras postagens anunciando sua saída. Você não acha curioso, Ricardo? O jovem jornalista que nos apresentou também me trouxe as más notícias. “Sim”, disse ele ao telefone minutos depois, quando liguei para confirmar, com aquela estupidez de que sofrem os parentes incrédulos. “É verdade”, ele deixou escapar. Eu só consegui fechar o telefone. Você se foi, mestre.” 

Professora Universitária* 

 

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