Por Adalberto Luque
O comerciante Ricardo Dutra estacionou sua motocicleta, como sempre fez. Era por volta de 06h30 do dia 11 de junho. Chegou à sua salgaderia na Rua Garibaldi, em frente a um hospital particular, para mais um dia de trabalho.
Desceu da moto depois de travar e começou a abrir a loja. Foi até os fundos acender as luzes do estabelecimento e, quando voltou, a moto não estava mais lá. Sua CG 160, cor azul, placa BZB4B37 havia sido furtada.
“Não ouvi absolutamente nada. É uma sensação muito desagradável. A moto estava travada”, conta Dutra. Meses antes, em setembro de 2023, ele já havia sido vítima de furto. Ladrões entraram na salgaderia enquanto ele estava acendendo as luzes nos fundos. Levaram sua bicicleta – avaliada em cerca de R$ 7 mil – e pacotes de cigarro que haviam sido entregues no final do expediente do dia anterior. O prejuízo total havia sido de R$ 10 mil. Com a moto, subiu para mais de R$ 25 mil.
Ranking
Pesquisa realizada pela Tracker/Fecap revela que Ribeirão Preto ocupa a nona posição no ranking das cidades do Estado de São Paulo que mais registram casos de furtos e roubos de veículos. Se considerados apenas os furtos, Ribeirão Preto sobe para a oitava posição.
O Grupo Tracker atua no setor de monitoramento e recuperação de veículos através de rastreamento. Já a Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) é referência nacional em educação na área de negócios desde 1902.
No levantamento, o Estado de São Paulo registrou 17.536 furtos e 4.437 roubos de automóveis, entre janeiro e abril deste ano. Número 9,2% menor do que o registrado no mesmo período de 2023, mas ainda muito elevado. Os dados estão no Boletim Tracker-Fecap, que acaba de ser divulgado. A queda nos furtos foi pequena, de 0,8%. Já os roubos, caíram 32%.
“A redução é resultado de diversos fatores, como implementação de tecnologia avançada de vigilância e monitoramento; mudanças nos comportamentos sociais e econômicos da população, especialmente influenciada pela pandemia de covid-19; e melhoria da estratégia da segurança pública”, analisa o coordenador do Departamento de Pesquisas em Economia do Crime da FECAP, Erivaldo Costa Vieira.
O coordenador do Comando de Operações do Grupo Tracker, Vitor Corrêa, explica que “a criminalidade é dinâmica e frequentemente adapta suas práticas para escapar das medidas de segurança implementadas pelas autoridades e pelas empresas de rastreamento e monitoramento. Estamos em constante atualização e quanto maior a precisão dos equipamentos instalados nos veículos, maior o sucesso das recuperações e menor o êxito dos criminosos”, acrescenta o especialista.
No topo do ranking, feito junto à Secretaria de Segurança Pública (SSP) está a Capital, seguida por Guarulhos, Santo André, Campinas, São Bernardo do Campo, Osasco, Mauá, Suzano e Ribeirão Preto. Se considerar apenas os furtos em 2024, Ribeirão Preto aparece na oitava posição, à frente de Suzano.
Preferências
A pesquisa Tracker/Fecap apurou que, no caso dos veículos, os modelos anos 2019, 2018 e 2017 são os mais visados. No Estado, o Corsa Wind foi o carro preferido pelos criminosos, seguido pelo Fiat Mobi Like e Hyundai HB20 1.0M Comfort. Depois estão o Fiat Argo Drive 1.0 e o Chevrolet Onix 1.0 MT LT.
Em relação às motos, pesquisa realizada pela Ituran, empresa de rastreamento e recuperação de veículos, a preferida do crime é a Honda GC 160, o mesmo modelo levado de Dutra. Depois vêm na sequência Yamaha Fazer 250, Honda CG 150, Honda CBX 250 Twister e Honda PCX 150.
Impacto no seguro
No mercado de seguros há 40 anos, Lourival Ferreira, sócio da corretora CA Lorencini, avalia que os números de furto e roubo de veículos impactam no preço final da apólice de seguro. “As seguradoras levam em conta os índices de sinistralidade para aumentar as apólices. E isso inclui número de batidas, custo da mão-de-obra, peças ou a falta delas e, inclusive, os furtos e roubos de veículos. Se o número de roubo de carros está alto, o valor da apólice sobre. Se o número cai, o preço estabiliza”, explica Ferreira.
Para avaliar essa questão, de acordo com o corretor, as seguradoras têm utilizado o CEP da residência onde o veículo passa a noite. “Pelo número do CEP, eles conseguem saber se um endereço é de maior risco que outro. Por exemplo, em Ribeirão Preto, em CEPs diferentes, a sinistralidade pode ser muito alta em um e muito baixa em outro. Isso causa diferença de preço entre apólices de um mesmo carro. Em Ribeirão é um preço. Em Jardinópolis é outro menor. Já na Capital é quase o dobro que em Ribeirão Preto. A seguradora avalia tudo para não ter prejuízo nunca”, ensina.
Ferreira adianta que, se uma apólice tem previsão de reajuste de 30%, caso o cliente não tenha usado nos últimos anos, ele não terá o índice máximo, mas terá reajuste de qualquer forma. “A seguradora vai oferecer um índice menor de reajuste, mas vai reajustar. Seja em 15% ou 20%. Mas o reajuste virá.”
Outro fator que aumenta o custo do seguro é o ranking dos modelos mais furtados e roubados. “Isso tudo influi. Pode ter dois carros sedãs de montadoras diferentes. Um é mais procurado que o outro, embora tenham valores próximos. O que os bandidos roubam mais terá seguro mais caro”, conclui.
Números e ações
De acordo com as estatísticas da Secretaria de Segurança Pública – SSP, casos de furtos e roubos de veículos têm caído em Ribeirão Preto. Nos cinco primeiros meses de 2024 foram 712 casos de veículos levados de seus donos. Em 2023, no mesmo período, foram 746. E em 2022 foram 907.Ou seja, de 2022 para 2024 houve queda de 21,5% nos casos.
Isso, todavia, não diminui o trauma de quem teve o carro furtado ou roubado em Ribeirão Preto. Mas mostra que as ações no combate às quadrilhas especializadas em furtos e roubos de caminhonete e às especializadas no furto e roubo de veículos para abastecer mercado clandestino de peças usadas têm dado resultado.
Em 2024, várias ações das Polícias Civil, Militar e Detran-SP foram registradas. O Detran-SP, inclusive, aumentou as ações de fiscalização em todo o Estado. De acordo com o órgão, mais que triplicaram. No primeiro semestre do ano passado, foram contabilizadas 249 operações, número ultrapassado com folga pelas cerca de 800 ações realizadas de janeiro a junho de 2024, um aumento de 220%.
Grupos que atuam em clonagem, furto e roubo de caminhonetes foram desarticulados graças ao trabalho policial. Assim como desmanches que abastecem o mercado clandestino de peças usadas. Somente nos meses de maio e junho, pelo menos cinco grandes ações foram realizadas só em Ribeirão Preto.
Campeões de casos
Há pelo menos cinco anos, a área do 4º Distrito Policial (DP), que atende à zona Sul de Ribeirão Preto, tem liderado o ranking de furtos e roubos de carros na cidade. E em 2024, o DP ostenta um veículo furtado ou roubado a cada 20 horas. Foram 181 casos.
Em segundo lugar está o 2º DP, na região dos Campos Elíseos, zona Norte da cidade. Foram 136 ocorrências em 2024, um caso a cada 26 horas. A região também tem ocupado a segunda posição neste ranking nos últimos anos.
A delegacia que aparece em terceiro é a que cuida da região da Vila Tibério, o 3º DP. Foram 93 casos de veículos furtados ou roubados, um a cada 39 horas.
Mas a área que mais preocupa é a atendida pelo 7º DP, em Bonfim Paulista, zona Sul. Em 2022 a região teve 44 carros furtados ou roubados. No ano passado foram 47 ocorrências. Em 2024, apenas nos cinco primeiros meses, foram 40, quase o número total de casos em cada um dos anos anteriores. Justamente a região que, durante vários meses ficou no traço em 2010, tendo, no total, oito registros (um de roubo e sete de furtos) o ano todo.
Mesmo que tendência de queda seja mantida, nunca é demais tomar os cuidados necessários para evitar entrar nas estatísticas. Afinal, apesar de redução de 21,5% dos casos, a cidade ainda registra um carro furtado ou roubado a cada cinco horas. E ninguém quer estar entre as cinco vítimas diárias.
SSP desconhece a metodologia de pesquisa
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública se posicionou em relação aos números divulgados:
“A SSP desconhece a metodologia da pesquisa citada e destaca que a cidade de Ribeirão Preto fechou o mês de maio com redução de 21,9% e de 13,4% nos roubos e furtos de veículos. Roubos desta natureza, aliás, caíram pela quinta vez consecutiva no município, neste ano. Nos primeiros cinco meses de 2024, 275 veículos produtos de roubo e/ou furto foram recuperados na cidade por meio de ações policiais. Os números são resultado do policiamento ostensivo realizado pela Polícia Militar e das ações de inteligência da Polícia Civil. Além disso, os trabalhos policiais também visam identificar os receptadores que alimentam esse tipo de crime. Por isso, há fiscalizações constantes em desmanches e lojas de peças automotivas.”