Luiz Paulo Tupynambá *
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“… reconhece a queda e não desanima / levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”.
Trecho do samba “Volta por cima”, composto por Paulo Vanzolini e maravilhosamente gravado por Noite Ilustrada em seu álbum de estreia lançado em janeiro de 1963.
Muitas canções retratam problemas corriqueiros de um casal, seja um amuo ou malquerer momentâneo. Até uma separação irreparável, causadora de dor de cotovelo que só é curável com internação em boteco de amigo, com doses e doses extras e lágrimas enxugadas na toalha ensebada da mesa do bar. A internação demora tempo variável. Se tiver dor-de-corno, leva mais para curar, mas se for apenas coisa simples como antipatia por influência de sogra, três dias são suficientes. Mas se não tiver um samba ou um bolero para aliviar a dor, não adianta, você acabará tendo sequelas e estará sujeito a humilhantes recaídas.
Assim como acontece nas relações de casais a Política é feita de apaixonamentos instantâneos, amores eternos, coexistências toleradas, traições e perdões imprevistos. Sobreviver politicamente num ambiente tóxico e de regras pouco definidas como é o ambiente político da última década no Brasil exige cabeça fria, experiência de vida e resiliência, muita resiliência. Dezenas de personagens políticos chegaram à tona após 2014, mas poucos continuam a ter alguma importância. A maioria afundou, por não ter musculatura eleitoral e resiliência necessárias para sobreviver nesse mar revolto.
De todos os personagens políticos com capacidade e resiliência necessárias, destaca-se com obviedade rodriguiana Luiz Inácio Lula da Silva. De presidente de sindicato nos anos 70 a presidente da República hoje, Lula foi e voltou do inferno ao céu diversas vezes durante meio século. Ser protagonista político por tanto tempo, não sendo um ditador ou um absolutista, é um feito gigantesco. Caso raríssimo no mundo todo. Após derrotas em quatro eleições presidenciais, elegeu-se na quinta tentativa. E de novo na sexta e na sétima. Único presidente brasileiro a exercer três mandatos, todos conquistados depois de árduas campanhas eleitorais, como manda a Constituição Brasileira, sem nunca ter sequer falado ou mesmo cogitado sobre um golpe de estado.
As últimas pesquisas publicadas sobre o desempenho de Lula e de seu governo começam a refletir o afastamento da população brasileira do discurso da extrema-direita e dos produtores profissionais de mentiras. Lula deixou de lado a opinião partidária e dispensou marqueteiros profissionais. Afinal, o que um deles poderia ensinar a um homem que está na política há cinco décadas e se elegeu três vezes Presidente da República? Lula fez o trabalho que todo político sabe que é o que funciona: pé na estrada, conversa olho no olho com a população e os políticos regionais, cafezinho na padaria da praça central, inauguração mesmo que seja de portão de cemitério, com direito a placa e fita e, surpresa nenhuma, entrevista matutina na estação de rádio local. Só assim as pessoas fixam a mensagem e as obras. É a receita para todos os que querem se eleger, a vereador ou a presidente da república.
Os resultados da pesquisa feita pela Genial/Quaest são muito extensos para colocá-los aqui, mas é bem fácil consegui-los com comentários abalizados, com uma busca simples na internet. Só um reparo, feito pelo jornalista Reinaldo Azevedo, sobre essa pesquisa: quando ela mostra os números de aprovação do presidente (pessoa), deve-se levar em conta que Lula foi eleito em 2022 por 38,5% dos votos válidos no segundo turno, ou seja, incluídos estão os nulos e brancos. É esse o número que a Genial/Quaest leva em conta. Mas a pesquisa foi feita considerando 100%. Então, quando a pesquisa mostra os números de eleitores conquistados por Lula, na verdade, mostra números abaixo do correto. No restante, é uma pesquisa impecável por sua abrangência e acuidade.
Histórico
Depois de mais de trinta anos na fila de análise de projetos; um tsunami financeiro mundial; uma vergonhosa derrota por 7 a 1 numa semifinal de Copa do Mundo em casa; uma presidenta derrubada por ‘impeachment’; uma pandemia com setecentos mil mortos e um governo negacionista, foi finalmente aprovada a Reforma Tributária.
Saudada por todos, políticos de esquerda e direita, empresários, sindicatos patronais e de trabalhadores, é tida como o primeiro passo para o fim do “custo Brasil” e para o nosso crescimento econômico. Veja o que foi aprovado: cinco impostos serão extintos, PIS, Cofins, ICMS, IPI e ISS e três novos são criados: Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e Imposto Seletivo (IS).
Dois são impostos da União: o IS, Imposto Seletivo, que taxará itens prejudiciais à saúde e ao meio-ambiente e o CBS que entra no lugar de PIS, Cofins e IPI. Já o IBS é uma contribuição compartilhada por estados e municípios, substituindo ICMS e ISS. A alíquota máxima não pode ultrapassar os 26,5% do valor do bem. Esse limite será acrescido 30 ou 60% do seu valor quando o imposto aplicado for o IS. Todas essas alterações estarão em vigor pleno apenas a partir de 2031. Até lá, empresas, sociedade e governo farão suas adaptações e possíveis alterações, se for o caso. No resumo significa um grande avanço para a sociedade brasileira.
Inté.
* Jornalista e fotógrafo de rua