Tribuna Ribeirão
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A Revolução de 1924 

Rui Flávio Chúfalo Guião * 
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A Revolução Constitucionalista de 1932 é muito mais lembrada do que o movimento revolucionário de 1924, que comemora 100 anos amanhã, dia 5 de julho. 
 
Os primeiros trinta anos do século XX (1900 a 1930 ) consolidaram o poder político de São Paulo e Minas, através da política do café com leite, mediante a qual a presidência da República era revezada entre paulistas e mineiros. O governo seguia as indicações dos cafeicultores, que produziam o único grande produto de exportação e concentravam não só poder, como também grandes fortunas. Era a época dos coronéis do café, donos de grandes fazendas e notável força eleitoral, sustentáculos da política do café com leite. 
 
A República foi se instalando pouco a pouco, num país analfabeto e recém saído da escravidão (a página mais dolorosa de nossa história). O mandonismo dos políticos necessitava de poucas normas democráticas: as eleições eram “a bico de pena”, com votos a descoberto e pequeno colégio eleitoral; cada coronel tinha seu feudo e nele mandava sem contestação; seguiam a política do compadrio, privilegiando os amigos sempre. 
 
Isto começou a gerar insatisfação nos militares de baixa patente, movimento denominado tenentismo e em alguns civis.  
 
Em 1922, os insatisfeitos tentaram um movimento para impedir a posse do presidente Arthur Bernardes, que não teve sucesso, gerando o episódio dos 18 do Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro. 
 
Em 1924, os mesmos revoltosos decidiram tentar novamente e começaram a articular um movimento para derrubar o presidente Arthur Bernardes.  
 
Para chefiar a revolta, que não era muito simpática aos altos oficiais do exército, conseguiram cooptar o general reformado Isidoro Dias Lopes. A revolução seria feita no país todo, mas eclodiria em São Paulo, sustentáculo da República Velha, metrópole política e empresarial com a melhor malha ferroviária de então, o que permitiria fácil deslocamento de tropas. 
 
No dia 5 de julho, os tenentes e alguns integrantes da Força Pública do Estado iniciam a revolução, com a tomada de vários quartéis, emissoras de rádio, hospitais. presença de grande quantidade de tropas na capital. 
 
Ambos os lados se articulam com precariedade, combates ocorrem nas ruas da cidade, fecham-se os estabelecimentos comerciais e as escolas e surge uma situação geral de pânico. O governo federal ordena total combate aos revoltosos.  
 
Com o deslocamento do governador Carlos de Campos ,do palácio dos Campos Elíseos para a estação ferroviária de Guaiaúna, na periferia, consolida-se o poder dos revoltosos e o governo federal ordena intenso bombardeio contra São Paulo. 
 
De uma população de 700 mil habitantes, um terço abandona a cidade, refugiando-se em Campinas, Itu, Jundiaí e Bauru. Começam a faltar os gêneros de primeira necessidade e a população saqueia as casas comerciais. 
 
O bombardeio dura até o dia 28 de julho, quando as tropas federais retomam a cidade e os rebeldes se retiram, dirigindo-se para Campinas e Bauru, onde pretendem dar continuidade ao levante, o que é obstado pelas forças da legalidade, em pequenas batalhas, que destroem o poderio revolucionário. 
 
Ao contrário da Revolução Constitucionalista, que foi pensada, realizada e conduzida pelos paulistas, a de 1924 teve sua gênese em elementos estranhos ao estado, espalhados pelo país. Foi deflagrada em São Paulo pelos motivos já expostos. 
 
Estima-se que 720 pessoas morreram nos bombardeios, a maioria civis. Jornais da época mostravam a grande destruição promovida pelos canhões legalistas, semelhante – diziam – àquelas ocorridas na Primeira Guerra Mundial nas cidades europeias. 
 
* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e Secretário-Geral da Academia Ribeirãopretana de Letras 

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