Sérgio Roxo da Fonseca *
[email protected]
Taís Costa Roxo da Fonseca **
[email protected]
A imprensa noticiou que FRANZ KAFKA e sua importantíssima obra alcançou seu centenário. Nasceu em Praga, sob o império Austro-Húngaro em 3.6.1883. Era filho de família judaica, tendo mantido frequente conflito comseu pai,que era comerciante.
KAFKA escrevia em alemão. Era formado em ciências jurídicas pela faculdade de Praga. Trabalhou na érea de administração de contratos de seguro.
Notabilizou-se porque deixou dois pequenos e grandes livros, ”A Metamorfose” e ”O Processo”, por intermédio dos quais passou a exercer importantíssima influência no âmbito da ciência jurídica e da filosofia. Pouco antes de morrer tuberculoso pediu a seu amigo Max Brod que destruísse todos os seus escritos. O seu amigo não o obedeceu mantendo vivo o seu pensamento especialmente após o seu falecimento.
Em “O Processo” narrou o sofrimento de um homem que se vê processado por várias autoridades do seu regime jurídico que se negaram a informar-lhe a origem normativa de seu delito, ou seja, do que era ele acusado.
Em “A Metamorfose” descreveu o susto de um homem que se surpreende ao acordar em sua casa transformado num inseto, ainda antes mesmo de levantar-se da cama.
O pobre homem que acorda transformado em um inseto,parecendo uma barata, escandaliza sua família porque como faria ele para trabalhar naquele dia, depois de ficar esperneando seus vários pequenos pés, preso em seu quarto.
Face à liberdade possível de ser exercida frente à metáfora kafkaniana, é possível lembrar que os autores têm a ousadia e a liberdade de descrever o seu mundo através de pinceladas metafóricas, o que é muito comum entre aqueles que ousaram descrever a dupla ou a inúmera realidade humana.
Vale lembrar as reflexões deixadas pelo argelino, de ascendência francesa Albert Camus – vencedor do Prêmio Nobel de Literatura – falecido em razão de um acidente de trânsito em 1960, para quem a existência humana é conceituada pelo absurdo de duas forças interpostas; a) pelo conhecimento decisivo de sua razão de ser, b) em confronto com a irracionalidade do mundo que o cerca (O Mito de Sísifo, Paris, Gallimard, 1942). A sua vida definida pela sua própria experiência nunca poderia ultrapassar as regras do seu mundo.
No julgamento de Jesus Cristo, Pilatos indaga qual era atarefa a ser cumprida na sua existência. Cristo, já então flagelado, responde que estava no mundo par ensinar o que significa a verdade. Imediatamente Pilatos encerrou a instrução processual e determinou a execução do Cristo. Como juiz romano, prestando serviços em Jerusalém, Pilatos seguramente eternizou-se porque conseguiu extrair daquela confissão cristã que ensinar ao mundo o que era verdade consistia na prática crime contra o Estado de direito. Como conjugar a realidade da existência com a irracionalidade do mundo? Mesmo nos nossos dias testemunhamos condenações inspiradas na experiência formulada por Pilatos!
Com estas palavras, Hans Kelsen, outro judeu nascido em Praga em 11.101881, professor em Viena, falecido nos Estados Unidos em 15.4.1973, inaugurou o seu livro “O que é a Justiça” (“São Paulo, Martins Fontes, 1997, p. 1)”. Quando Jesus de Nazaré perante o pretório romano admitiu ser rei disse: “Nasci e vim ao mundo para dar testemunho da verdade”. Ao que Pilatos respondeu: “o que é a verdade”? Para em seguida encaminhá-lo à crucificação.
Nestes breves relatos afirma-se que o extraordinário relato de Franz Kafka indica que muitas vezes o homem comum não consegue avançar sobre as normas de sua existência porque se sente transformado numa impensável barata tonta. O seu pequeno e grande livro merece ser lido do início ao fim, de traz para frente, muitas vezes pelo homem sempre e até quando transformado numa simples barata tonta.
* Advogado, professor livre docente aposentado da Unesp, doutor, procurador de Justiça aposentado, e membro da Academia Ribeirãopretana de Letras
** Advogada