André Luiz da Silva *
[email protected]
Na semana em que Ribeirão Preto celebra seus 168 anos, a Ordem dos Jornalistas da Região Metropolitana promoveu a IX Mostra de Escritores. Além de destacar a produção literária local, esta edição inovou com uma programação diversificada, incluindo debates, workshops, palestras e apresentações musicais. As atividades ocorreram no Centro Cultural Palace e contaram com o significativo apoio da Fundação Instituto do Livro de Ribeirão Preto.
A União dos Escritores Independentes de Ribeirão Preto (UEI), em parceria com a Ordem, premiou os vencedores do Concurso Nilton Manoel de Poesias. A Ordem dos Jornalistas, também realizou o 5º Salão Internacional de Fotografia, em colaboração com o Grupo Amigos da Fotografia. A participação das entidades literárias da cidade foi notável, com diversos lançamentos de livros, sessões de autógrafos e interações entre leitores e autores.
Cada dia do evento teve seu destaque, mas merece atenção especial a programação da quarta-feira. O jornalista Guilherme Nali conduziu uma roda de conversa com alunos do Centro Universitário Barão de Mauá sobre notícias falsas, suas consequências e como combatê-las. Em outra atividade, professores do Senac levaram alunos do ensino médio para compartilhar suas pesquisas do projeto “Histórias Negras”.
A conexão entre esses temas é natural, pois a história dos negros em Ribeirão Preto, como no resto do Brasil, foi muitas vezes omitida ou distorcida. Ver os jovens resgatando figuras, eventos e movimentos é algo inestimável, e a apresentação no auditório Pedro Paulo da Silva teve uma simbologia única.
Os estudantes falaram sobre personalidades como José Carlos Barbosa, presidente da Ordem dos Jornalistas; o mestre de capoeira Paulo Cabide; a Escola de Samba Bambas; e o Projeto Mulheres Fortes do fotógrafo Vitor Hugo Guimarães. Resgatar a verdadeira história dos negros em Ribeirão Preto é essencial e desafiador, devido à falta de registros oficiais e às publicações incorretas. A tradição oral que se perde com o tempo, especialmente com a morte dos mais velhos, é outro desafio. Assim, quando jovens se dedicam a buscar a verdadeira fonte do conhecimento, é um sinal de que a valorização das pessoas, especialmente das negras, ainda é possível.
Um dos momentos mais marcantes foi a apresentação de duas alunas, colegas de classe: uma praticante de uma religião de matriz africana e outra de uma denominação evangélica. Elas escolheram conhecer um terreiro e acompanhar uma sessão. Ao exibir o vídeo, a primeira estudante explicou cada detalhe da cerimônia, e toda a plateia assistiu com respeito. A segunda aluna relatou que cresceu ouvindo preconceitos sobre aquela religião, mas ao conhecê-la pessoalmente, passou a respeitar e admirar a opção religiosa da colega.
Num país onde a intolerância e o fundamentalismo religioso crescem de forma alarmante, e onde o fundamentalismo se infiltra na política, na educação e em outras áreas da vida, o exemplo de convivência, respeito e tolerância dessas jovens foi uma verdadeira lição de democracia e cidadania.
Sem a pompa e cobertura midiática de outros eventos do calendário de comemorações, a IX Mostra de Escritores da Região Metropolitana de Ribeirão Preto provou sua relevância e impactou positivamente a vida dos participantes, deixando a sensação de missão cumprida e o desejo de futuras edições.
* Servidor municipal, advogado, escritor e radialista