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Junho promete (e cumpre) 

Perci Guzzo *
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Foi necessário a Madonna vir ao país para retomarmos o verde e amarelo com sentido de uma nação para todos/as e ninguém acima ou abaixo de ninguém. A Parada LGBTQIAPN+ de São Paulo, no último domingo, 2 de junho, levou para a extensa Avenida Paulista, a dupla de cores que mais nos representa. Foi intenso, foi bonito! Eu que ainda me via intrigado ao ver o pavilhão nacional ao sabor de ventos intolerantes, me sinto agora mais apaziguado. Obrigado, Madonna! Obrigado, organizadores da Parada Gay de Sampa!

Além do resgate varonil também é digno de nota o tema da Parada neste ano: “Basta de Negligência e Retrocesso no Legislativo”.  Sim, pois as políticas públicas nas três esferas de poder, sobretudo na federal, tem sido dificultada pela postura cobiçosa de muitos deputados e senadores insaciáveis. Gordos nacos do Orçamento – Emendas Parlamentares – são distribuídos aos mesmos para direcionarem a seus redutos eleitorais e assim assegurarem suas reeleições; além do financiamento público (e privado) das campanhas eleitorais com recursos distribuídos a seus partidos. Essa prática avançou enormemente no governo passado, quando o ex-presidente decidiu delegar a gestão do país à Câmara dos Deputados, sobrando-lhe tempo e energia para motociatas.

Dizem que depois dos 40 fazemos aquilo que sabemos fazer. “O orgulho de quem não pode construir, é destruir” – Alexandre Dumas.

Como reverter esse modo comezinho de gerir o país na atualidade? Teriam nossas urnas em 2024, a força de Madonna e da Parada LGBTQIAPN+??

Neste início de junho nossas atenções se concentram também às comemorações da Semana do Meio Ambiente que de agora em diante está associada de modo inconteste à preocupação com as consequências das mudanças climáticas. É um período muito oportuno para reavaliarmos e refletirmos sobre nossas decisões, ações e reações à perda da biodiversidade, ao nosso distanciamento da terra e ao nosso consentimento às tantas agressões às águas e à atmosfera.

Sugiro silêncio, preliminarmente. Aquietemo-nos!…

Devemos ter em mente que o desafio é civilizatório e que a pauta climática imporá uma profunda mudança nos modos de produção e de vida. É urgente nos organizarmos para tais mudanças já previsíveis. Para isso, o passo mais importante neste momento é fortalecer a Democracia; aumentar sua intensidade, como nos ensina Leonardo Boff. O poder de decisão está concentrado e verticalizado. Muitas decisões equivocadas; desalicerçadas de conhecimentos e das necessidades vitais.

Assim, devemos envidar esforços e desenvolver novas capacidades para assegurar a participação ampla e horizontal das comunidades nos processos decisórios. Vivenciar a democracia; não a terceirizar. Apenas delegar poder têm nos levados a criar uma política de cotas de privilégios e por outro lado, muita miséria e exclusão. Não estamos conseguindo consolidar a democracia no Brasil apenas por meio das urnas. Envolver-se para se desenvolver. Precisamos avançar politicamente e a questão climática é uma enorme oportunidade.

Afinal, temos ou não apreço genuíno por nós mesmos e pelo futuro das novas gerações?

Junho também é o mês mais festeiro do ano. Só peço que não gourmetizem tanto as festas juninas. Simplicidade é mais aconchegante e mais bonito. Resgatemos aquele restinho caipira do qual fomos originados. Nos abandonemos por um bom tempo na companhia (presencial) de pessoas queridas. Preenchamos nossos vazios com sonhos. Projetemos um segundo semestre diferente. Contemplemos o céu diurno e noturno.

Abramos espaço e os braços para a poesia: “Balões no céu/ Gente solta no ar/ Voam baixinho por entre os prédios/ Vou na sacada agora/ Agarrá-los com meu olhar”.

Ou: “Balãozinho de ar puro/ Teu foguinho é tão frágil/ Como minha autoconfiança/ Sobe, sobe, até a altura/ Dos telhados coloniais/ E já queimas sem alcançar/ A esperança/ De um dia se emancipar”.

* Ecólogo e Mestre em Geociências. Autor do livro “Na nervura da folha”, lançado em 2023 pelo selo Corixo Edições  

 

 

 

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