Tribuna Ribeirão
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A guerra vencida, mas que continua 

Feres Sabino * 
advogadoferessabino.wordpress.com 
 
Quando o Estado de Israel e o Estado Palestino foram criados em 1947, os palestinos não tinham perante à comunidade internacional, um perfil de nacionalidade exuberante, como povo, assim seus pensadores, seus artistas, não tinham uma exibição pública forte e eficaz. Ao contrário dos sionistas organizados a partir do final do século 19, que apresenta ao mundo a gama admirável de judeus festejados pelos prêmios Nobel. 
 
Nesse percurso sionista, aparece a reunião internacional, em Evian-França organizada pelos Estados Unidos, em 1934. A pauta era aceitar ou não judeus, como refugiados ou emigrantes, já perseguidos na Alemanha nazista. No conclave estiveram 34 nações europeias. Só duas europeias aprovaram a proposta. Os Estados Unidos não a aceitaram. Veio a tragédia inusitada do Holocausto da Segunda Guerra Mundial, que seguramente pesou na consciência de muitos, e particularmente dos Estados Unidos. 
 
Em 1947, criaram-se dois Estados. O expansionismo sionista, entremeado de violência armada e psicológica, chegou atualmente a ter na Cisjordânia, território do Estado Palestino, 700 mil colonos provindos de outros países, numa política assombrosamente de colonização de terra alheia. 
 
Se Israel nunca cumpriu nenhuma Resolução da ONU – Organização das Nações Unidas –, nem do Conselho de Segurança, o celebrado acordo de Oslo, que garantiu Prêmio da Paz aos líderes de lado a lado. A frustração do acordo pelo descumprimento por parte do governo sionista, ainda assim deixou, objetiva e efetivamente, impassível a “cegueira deliberada do Ocidente”, em relação à Palestina. Só que nesse acordo a liderança da OLP cedeu território e ganhou a etiqueta de traidora. 
 
A vida de discriminação, humilhação e violência continuou na região, chegando ao dia em que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin “Bibi” Netanyahu, no segundo semestre do ano passado, ocupou a tribuna da Assembleia Geral da ONU, num plenário esvaziado, para anunciar surpreendentemente o novo mapa do NOVO ORIENTE MÉDIO, sem o Estado da Palestina. Ele a extinguiu até no mapa, acreditando no efeito final das armas… 
 
Deu no que deu. Houve o ataque do Hamas, e a violência que sempre merece repugnância, estendeu a guerra, com a promessa de destruição definitiva do Hamas. 
 
O ataque surpresa, aprofundou o ódio de retaliação do Estado sionista, até pela pintura desfeita de que era inexpugnável. O palco maior dessa retaliação foi o território de Gaza, com a destruição inclusive de hospitais, mortes de mulheres e crianças, cutucando a consciência universal para o genocídio que acontecia e acontece ali. 
 
Agora, a comunidade internacional reage junto ao Tribunal Penal Internacional, com pedido de prisão para protagonistas. E a cegueira universal começou a ser superada pela emergência de protestos mundiais a favor da Palestina. Até chegar ao anúncio da Irlanda, Espanha e Noruega que reconhecerão o Estado da Palestina. 
 
A gravidade da situação e suas contradições conferem ao anúncio desses países uma bandeira ética e moral de alarme, de denúncia, de protesto, de insurgência humanista, pois reconhecerão um Estado, que não foi ainda implantado. E com isso invertem o caminho regular de um reconhecimento que se faz, quando não se tem pela frente a força insaciável da estupidez guerreira. 
 
O governo de Israel fica mais e mais isolado, com os Estados Unidos sendo obrigado a jogar um jogo duplo, em desfavor de seu parceiro Israel, já que a opinião nacional e internacional adere ao clamar palestino. 
 
Se em 1947, o povo palestino não tinha como aparecer como uma unidade de nação, hoje a comunidade internacional, seja pelas Resoluções afrontadas, seja pelo movimento estudantil mundial, seja pelos fervilhantes espaços públicos em favor da causa palestina, eis que surge a pergunta até contraditória: Quem ganhou a guerra que continua?  
 
O Estado de Israel foi denunciado como regime de “apartheid”, pior do que aquele vivido pela África do Sul, regime de separação racial, de 1948 a 1994. 
 
Não confundir grupo político sionista, discriminador racista e violento, que empolgou o poder político, com o povo judeu saído dos campos de concentração, e que sempre tiveram nossa solidariedade. 
 
A opinião pública mundial agora sabe do drama histórico dos palestinos. 
 
* Procurador-geral do Estado no governo de André Franco Montoro e membro da Academia Ribeirãopretana de Letras 

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