Tribuna Ribeirão
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Neurociência da vida cotidiana (26): Atenção

José Aparecido Da Silva* 

A Enciclopédia das Ciências Cognitivas do Massachusetts Institute of Technology (MIT) destaca que a atenção denota a habilidade para concentrar a experiência perceptiva em uma parte da estimulação ambiental disponível e, assim, obter uma impressão clara do que nos rodeia. Outros estudiosos têm indicado que a atenção pode ser definida como a capacidade mental para gerar e manter um estado de ativação que permite o processamento de informação, também permitindo a seleção de informação entre múltiplas fontes, incluindo estímulos internos e externos, lembranças, pensamentos e ações. 

Por sua vez, em Lago, Adrover-Roig, Martinez e Sánchez, 2014 (em Valenzuela, P.M.,Neurociência Cognitiva. UNED-Sanz y Torres. Madrid) variados estudos sugerem que as funções atentivas parecem não ser autônomas, mas, ao contrário, participam e interagem com outros processos cognitivos, tais como, a percepção, a memória, o planejamento, entre outros, razão pela qual são difíceis de isolar tanto conceitual quanto funcionalmente.  

Esta controvérsia tem uma relação direta com a hipótese da existência a nível cerebral de sistemas atentivos diferenciados de outros do tipo sensorial e motor. Sobre isso, os autores acima mencionados acrescentam que, a despeito desta dificuldade acerca da natureza da atenção, alguns estudiosos defendem a ideia da existência de sistemas atentivos separados dos sistemas perceptivos e motores. Por adição, outros argumentam, ao contrário, que a atenção é uma propriedade emergente de outras atividades cerebrais. E outros ainda entendem que a atenção pode ser abordada a partir de numerosas metáforas, de modo similar a um filtro, bem como ao esforço (hipótese defendida pelo Nobel Laureado, recentemente falecido, Daniel Kahneman), à quantidade de recursos disponíveis num dado momento, a um processo de controle da memória operacional, a um mecanismo de orientação, a uma conexão entre diversas características dos próprios estímulos, a um foco que ilumina o que é atendido, a um “zoom” e a um processo de seleção, mais que uma atividade preparatória. 

Por sua vez, variadas técnicas e instrumentos têm sido usados para o estudo dos mecanismos da atenção: pesquisas psicofisiológicas de seu funcionamento normal, estudos neurofisiológicos, estudos neuroanatômicos tanto em animais como em humanos, estudos neuropsicológicos em pacientes com lesões cerebrais e outros. Baseados nas ferramentas modernas da neurociência cognitiva, especialmente nas técnicas de neuroimagem, estes estudos sugerem uma disparidade de regiões cerebrais associadas aos processos atentivos, tais como, as áreas frontais dorsolaterais, o Cortez cingulado, a área motora suplementar, as regiões extrafrontais, o córtex pariental e estruturas subcorticais. 

Finalmente, não devemos esquecer que os componentes atentivos dependem do nível de ativação do organismo para poder exercer suas funções, e que a atenção é fundamental para raciocinar, tomar decisões, mudar as intenções, controlar as emoções, atuar, planejar e nos capacitar a sermos conscientes. A atenção, muito importante mencionar, tem evoluído filo e ontogeneticamente até se converter em um dos pilares sobre os quais se sustenta a cognição humana. 

 

Professor Visitante da UnB-DF* 

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