Adriana Dorazi – especial para o Tribuna Ribeirão
A Inteligência artificial (IA) é uma nova tecnologia cada vez mais presente na vida das pessoas comuns. Atua na reprodução de padrões de comportamento semelhantes ao humano por dispositivos e programas computacionais. Bons exemplos são sites e aplicativos que produzem textos apenas com o comando do usuário, de forma gratuita. Ou então “robôs” capazes de definir padrões de conteúdo personalizados e automatizados nas redes sociais, influenciando perfis de consumo.
Professores e pesquisadores têm dedicado muito tempo para compreender como a vida tem sido transformada a partir do crescimento do uso da IA. Estudos realizados por empresas de recursos humanos em conjunto com grandes corporações revelam números impressionantes sobre o impacto da tecnologia no mercado de trabalho.
Quase todas as organizações do Brasil serão habilitadas para receber a inteligência artificial. De acordo com a pesquisa, 97% de todos os empregadores planejam usar soluções baseadas em IA até o ano de 2028. Além disso, 68% dos colaboradores esperam que a automação de tarefas seja o principal benefício da inteligência artificial, mesmo com risco de desemprego ou necessidade de mudar de função.
O coordenador do MBA em Gestão da Tecnologia da Informação e Liderança Digital na Fundação para Pesquisa e Desenvolvimento da Administração, Contabilidade e Economia (Fundace) e diretor do Centro de Informática do Campus da USP/RP, o professor Ildeberto Aparecido Rodello, alerta sobre o impacto negativo da IA nas empresas e nas carreiras profissionais.
Na visão de Rodello, hoje a inteligência artificial já se destaca na automatização de tarefas, como na implementação de chatbots e assistentes virtuais na otimização do atendimento em call centers. Além disso, está presente também no uso de robôs programados para realizar tarefas arriscadas, como o monitoramento de caldeiras e a identificação de produtos tóxicos em locais de difícil acesso.
Para ele, a IA também se sobressai na melhoria da eficiência nas tomadas de decisão, particularmente em áreas como identificação de fraudes bancárias. “A velocidade e precisão da inteligência artificial desempenham um papel crucial na detecção rápida de atividades suspeitas, contribuindo para a segurança e a integridade dos sistemas”, avalia o professor.
Aplicações setoriais
Empresas líderes, como a mineradora Vale e a Petrobras, têm utilizado a IA para enfrentar desafios específicos. A Vale, por exemplo, desenvolveu robôs para mapear cavernas próximas às minas, enquanto a Petrobras investiu em robôs para atividades de alto risco, como pintura de cascos de plataformas em alto mar e desobstrução de dutos de petróleo.
O professor Rodello enfatiza que a inteligência artificial pode ser aplicada em praticamente qualquer segmento. Destaca a utilização de reconhecimento facial na segurança pública, a análise de dados para melhorar campanhas de marketing, sistemas de recomendação de compras no e-commerce, apoio a diagnósticos na área de saúde, entre outros benefícios da tecnologia.
IMPACTOS NA CARREIRA E HABILIDADES NECESSÁRIAS
Em relação ao impacto profissional, o professor acredita que a IA tem a capacidade de potencializar carreiras, permitindo que os profissionais se concentrem em atividades mais criativas e menos repetitivas. Ressalta a importância de habilidades técnicas em ciência da computação, robótica e matemática, bem como conhecimento aprofundado nos processos de negócios para implementar com sucesso a IA em diferentes áreas.
Ildeberto identifica desafios significativos para os próximos anos, incluindo a necessidade de definir regras claras e éticas para o uso da IA, a regulamentação para garantir práticas responsáveis e a escassez de profissionais capacitados para desenvolver e implementar soluções nesta área. “Com relação ao futuro, lembro da importância da regulamentação no uso da Inteligência Artificial e da necessidade de considerar aspectos éticos, como viés de interpretação e privacidade. Alguns países já estão à frente na legislação e o Brasil precisa abordar essas questões com cuidado e seriedade”, finaliza o professor.
Regulamentação
O Fundo Monetário Internacional (FMI), por exemplo, estima que quase 40% dos empregos globalmente poderão ser afetados pela IA, o que poderia aumentar a desigualdade. No entanto, esse impacto tende a ser maior nos países desenvolvidos em comparação aos emergentes, como o Brasil.
A regulamentação da inteligência artificial tramita atualmente no Senado. A proposta (PL 2.338/2023) foi apresentada pelo senador Rodrigo Pacheco (PSD/MG), a partir de outros projetos que tratam da regulação da tecnologia no Brasil e do trabalho de uma comissão de juristas formada em 2022. Em 2023, uma comissão temporária promoveu dez audiências públicas com especialistas, para colaborar com o relatório do senador Eduardo Gomes (PL-TO), que deve ser apresentado ainda no primeiro semestre deste ano. A expectativa é que o marco regulatório seja votado pelo Senado ainda este ano, especialmente pelo uso da IA nas eleições municipais.