José Aparecido Da Silva*
Paloma Valenzuela (Neurociência Cognitiva, Editorial Sanz Y Torres, S.L. 2014: UNED: Madrid) narrando uma breve história dos estudos acerca da neurociência cognitiva da consciência, afirma que ao longo de grande parte do século XX, o estudo dos processos de consciência foi considerado secundário dentro do cenário da investigação científica, tanto no âmbito da psicologia como no da neurociência. Por um lado, a Psicologia Behaviorista ou Comportamental tinha por base negar a subjetividade como objeto de estudo científico, valorizando somente os comportamentos observáveis e, por isso, rechaçou toda terminologia mentalista. Por outro lado, a abordagem cognitivista baseando-se na metáfora do computador também excluiu termos como consciência, pois assumiu que o processamento mental é similar às operações que são realizadas por um computador. Logo, não era importante incluir em sua abordagem termos e conceitos que aludiam ou apelassem à experiência subjetiva. Dentro destes enquadramentos, de um lado se identificou a mente com cognição, entendida como um conjunto de algoritmos que realiza um computador. De outro lado, identificou-se a mente com consciência, considerando que todos os processos mentais são em essência processos conscientes.
Estas abordagens de entender a consciência começaram a mudar a partir do entendimento de que se poderiam investigar processos inconscientes a partir de estudos sistemáticos de pacientes com danos cerebrais variados e, também, a partir do desenvolvimento das técnicas de neuroimagem funcional que permitiam observar a atividade neural do cérebro “in vivo” em pessoas normais durante a realização de variadas tarefas experimentais com complexidades diferentes. Especificamente, os usos sistemáticos, atuais, das ferramentas de neuroimagamento para estudo dos processos conscientes e inconscientes estimularam substancialmente o avanço da investigação neste campo. Uma grande quantidade de dados tem revelado que os estímulos inconscientes recebem um elevado grau de processamento, incluindo o nível cortical. As pesquisas têm buscado identificar os correlatos neurais da consciência, isto é, os padrões específicos de atividade neural que correlacionam com experiências conscientes particulares. A estratégia consiste em comparar os padrões de ativação dos estímulos conscientes com aqueles dos estímulos inconscientes. Analisando as diferenças entre a atividade de regiões cerebrais entre uns e outros, os estudiosos estão conseguindo identificar os mecanismos neurais que caracterizam a experiência fenomênica.
De acordo com a revisão de Paloma Valenzuela (2014), os resultados experimentais sugerem a implicação do córtex pré-frontal (relacionado com as funções executivas) junto com outras regiões cerebrais, nos processos de consciência, fato que é coerente com as funções que se têm atribuído à consciência. (ver também, Gazzaniga, M.S., Ivry, R.B., & Mangun, C.R. 2009. Cognitive Neuroscience. New York: Norton and Company). Ademais, os dados revelam que não existe qualquer região cerebral que atue como sede única da experiência consciente. Do mesmo modo, os diferentes déficits produzidos por lesões focais indicam que, dependendo de sua localização, afetam a experiência consciente de um domínio funcional específico, sem alerar a de outros domínios.
Tomados juntos, afirma Valenzuela (2014) que os vários estudos neuropsicológicos e cognitivos indicam que a consciência, para além de estar associada à atividade de grupos particulares de neurônios em regiões circunscritas do cérebro, parece ser uma propriedade emergente de estudos dinâmicos de redes corticais distribuídas, caracterizadas por alcançar um nível apropriado de coerência temporal (sincronização) em grande escala entre a atividade de distintas regiões corticais. (p.309).
Professor Visitante da UnB-DF*