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Os desafios para ser mãe 

As histórias de mulheres que se tornaram mães graças ao avanço da ciência e a tratamentos disponíveis nas redes particular e pública 

Denise Penariol enfrentou um câncer antes de engravidar e ser mãe de gêmeos (Arquivo Pessoal)

O Dia das Mães – comemorado neste domingo, dia 12 de maio – está se transformando em algo ainda mais especial: não apenas uma celebração do amor incondicional das mães, mas também em um momento de contemplação sobre os avanços notáveis de uma ciência que tem modificado profundamente a vida de inúmeras famílias: a reprodução assistida.  

A área da medicina que abrange uma série de técnicas médicas tem sido uma fonte de esperança para mulheres que enfrentam desafios na concepção natural. Segundo dados do Sistema Nacional de Produção de Embriões da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Brasil testemunhou um notável crescimento de mais de 150% no campo da reprodução assistida nos últimos 10 anos.  Somente o Estado de São Paulo contabilizou mais de 130 mil ciclos desse tipo de procedimento no período. 

Esse crescimento é particularmente evidente em Ribeirão Preto, cidade que se destaca como um importante polo na área, superando até mesmo algumas capitais importantes, como Curitiba, em número de clínicas particulares por habitante, dedicadas à reprodução assistida. 

Ribeirão Preto também abriga um dos onze serviços de reprodução assistida gratuitos do Brasil, oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), garantindo acesso a esses tratamentos para uma parcela significativa da população e atraindo pacientes de várias cidades. A expectativa de crescimento anual do setor gira em torno de 23% até 2026, evidenciando que a reprodução assistida desempenha um papel cada vez mais importante na jornada para a maternidade.  

Enquanto o Conselho Federal de Medicina (CFM) tem desempenhado um papel crucial ao estabelecer normas éticas orientadoras para a prática médica e o atendimento aos pacientes, o Governo Federal está atualmente discutindo questões relacionadas ao tema no âmbito do novo Código Civil, que está em fase de votação tanto no Senado quanto na Câmara dos Deputados. 

O desafio de Leilane 

Leilane dos Santos: depois de muita frustação o desejo de ser mãe virou realidade (Arquivo Pessoal)

A maternidade chegou na vida da Leilane dos Santos depois muita frustação, foram anos de tentativas e a cada teste, uma resposta negativa.  A caminhada para comemorar o Dia das Mães começou logo após se casar em 2012. Ela e seu marido decidiram que era hora de iniciar a jornada para a maternidade. No entanto, os meses se passaram e a gravidez não acontecia.  

Mesmo sem nunca ter utilizado contraceptivos, Leilane enfrentava a frustração de não conceber.  Theo chegou ao mundo contando com a determinação de Leilane que se manteve perseverante durante seis longos anos de tentativas, tratamentos e perdas. Ela buscou ajuda médica, passou por diferentes especialistas e enfrentou a dolorosa experiência de abortos espontâneos. Apesar de todos os obstáculos, Leilane jamais desistiu do seu sonho de ser mãe.    

Enquanto aguardava os resultados dos exames e o início do tratamento, Leilane enfrentou uma nova provação: a perda repentina de seu pai. Em meio ao luto, ela encontrou forças para seguir em frente, decidida a continuar sua jornada em busca da maternidade.  

“A minha conquista da maternidade é uma prova viva de que, mesmo nos momentos mais desafiadores, o amor e a esperança podem prevalecer. E Theo, com seus três anos de idade, é a personificação desse amor e esperança, trazendo felicidade infinita para a minha vida e de toda a minha família”, afirma. 

Gravidez aos 41 anos 

A engenheira agrônoma e professora universitária Letícia Nociti Dezem, enfrentou anos de tentativas frustradas para engravidar (Arquivo Pessoal)  

A engenheira agrônoma e professora universitária Letícia Nociti Dezem, enfrentou anos de tentativas frustradas para engravidar. Sua jornada, marcada por desafios e esperanças renovadas, culminou no nascimento de João Pedro, em 2019, quando já estava com 41 anos.   

O resultado positivo do exame, recebido em julho, trouxe lágrimas de alegria aos olhos de seus pais e da família de seu marido, que nem imaginavam que estavam passando por esse processo. A emoção foi intensa, especialmente para o pai de Letícia, que infelizmente faleceu pouco antes do nascimento do bebê, no dia do seu aniversário, quando a Letícia estava de 39 semanas de gestação.  

A história de Letícia é um testemunho do poder transformador da reprodução assistida na vida de indivíduos e famílias. “A sensação de segurar meu filho nos braços pela primeira vez foi indescritível, uma mistura de insegurança e alegria que nunca imaginei possível. João Pedro é verdadeiramente um anjo em nossas vidas, trazendo luz e esperança”, diz. 

Mãe de gêmeos 

Gabriel e Miguel chegaram ao mundo para transformar Denise Penariol, uma analista de sistemas então com pouco mais de 35 anos, em uma mãe dedicada e apaixonada. O nascimento deles marcou o início de uma jornada repleta de desafios e milagres, que moldaram não apenas sua família, mas também sua própria essência.  

Antes da maternidade, Denise e seu marido enfrentaram juntos uma batalha contra o câncer que assolou a vida dele. “Foram dias de incerteza, de luta e de esperança, em que a fragilidade da vida se fez presente de forma avassaladora. No meio desse turbilhão emocional, a possibilidade de gerar filhos parecia um sonho distante, uma miragem em meio ao deserto da adversidade.  

“A jornada pela fertilização in vitro foi uma montanha-russa de emoções, com altos e baixos que testaram a nossa resiliência e a fé”, afirma a mãe dos gêmeos. Após uma primeira tentativa sem sucesso, eles não se deixaram abater. Com determinação renovada, decidiram tentar novamente, confiando no destino e no poder do amor para abrir caminhos onde antes só havia obstáculos. 

Tratamentos vão dos simples aos complexos 

Para Anderson Melo, ginecologista e especialista em reprodução humana, os avanços na medicina reprodutiva e a discussão na legislação de direitos civis têm ampliado as oportunidades para as pessoas realizarem o sonho de gerar um filho (Divulgação)

A médica Camilla Vidal, ginecologista e especialista em reprodução humana, explica que existem diversos tratamentos disponíveis para aqueles que desejam conceber, desde métodos de baixa complexidade, como a inseminação intrauterina, até procedimentos mais complexos, como a Fertilização in Vitro (FIV).  

“A escolha do tratamento adequado depende de uma avaliação individualizada feita pelo especialista, levando em consideração diversos fatores, tais como a idade da mulher, reserva ovariana, tempo de tentativas, entre outros aspectos relevantes”, explica.  

Além disso, ela ressalta ainda a existência de opções que envolvem o uso de gametas doados (óvulos e espermatozoides) e até mesmo tratamentos baseados na adoção de embriões para os casos em que a mulher não dispões de óvulos saudáveis para a concepção. 

Para determinar o tratamento indicado, são conduzidos exames para identificar as possíveis causas de infertilidade. “Essa avaliação abrange diversos aspectos, como a idade do casal, o período de tentativas de concepção, a presença de condições médicas pré-existentes, como endometriose ou adenomiose, além de exames específicos das trompas, análises do esperma, entre outros”, explica a ginecologista. De acordo com ela, A minuciosa análise é essencial para determinar os tratamentos potenciais e para decidir, em conjunto com o casal, o melhor curso de ação a ser seguido. 

Para Anderson Melo, ginecologista e especialista em reprodução humana, os avanços na medicina reprodutiva e a discussão na legislação de direitos civis têm ampliado as oportunidades para as pessoas realizarem o sonho de gerar um filho.  

Ele destaca que as recomendações médicas abrangem desde a preservação da fertilidade em pacientes enfrentando condições como câncer e endometriose até o adiamento da maternidade em mulheres cada vez mais inseridas no mercado de trabalho, além dos novos formatos familiares, incluindo produção independente e casais homoafetivos.  

SUS oferece tratamento 

Para quem que não pode arcar com os custos financeiros, o acesso ao tratamento de reprodução assistida está disponível por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), como é o caso do atendimento prestado no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP). Desde 1992, este serviço tem proporcionado às mulheres o direito garantido pela Constituição Federal, oferecendo tratamento gratuito (exceto pelos custos dos medicamentos) e personalizado, com uma equipe multidisciplinar de enfermeiros, psicólogos e médicos.  

O atendimento é realizado mediante encaminhamento pelos postos de saúde locais ou pela Divisão Regional de Saúde (DIR-XVIII), com cotas de marcação para triagem e consultas no Ambulatório de Esterilidade (AEST), que ocorrem semanalmente. Os casos que demandam técnicas de Reprodução Assistida, como Fertilização In Vitro (FIV), Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoides (ICSI) ou Inseminação Intrauterina (IUI), são direcionados para atendimento no Laboratório de Reprodução Humana. 

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