Por Hugo Luque
Quem cruza as ruas de Ribeirão Preto pode ter a impressão de que, toda semana, novas quadras de areia aparecem em diferentes pontos. A popularidade dos esportes de praia, sobretudo o beach tennis, é um fenômeno recente e que tem sido intenso no município, mesmo distante cerca de 400 km do mar. Esse crescimento foi reconhecido em 19 de abril, quando a Câmara Municipal incluiu no calendário oficial da cidade o Dia Municipal do Beach Tennis.
A data não foi escolhida ao acaso. Trata-se do aniversário de Jader Fabris Moreira, um dos pioneiros do esporte em Ribeirão, que trabalha como instrutor há uma década.
“Dá o reconhecimento à toda comunidade do beach tennis, que vem trabalhando esse tempo todo. Mas também dá as fundações para que o poder público, através de seus gestores, possa pleitear e colocar no seu planejamento futuro o ensino da modalidade e a construção de espaços”, celebra Jader.
A Confederação Brasileira de Tênis (CBT) estima que 1,1 milhão de brasileiros praticam o esporte de forma amadora. Além disso, os torneios profissionais também têm espaço. Neste mês, Ribeirão recebeu o Sand Series, um dos principais campeonatos do mundo. Mas nem sempre o primo litorâneo do tênis tradicional teve facilidade de cair nas graças do público.
Criado na Itália
Criado na Itália, na década de 1980, o beach tennis levou cerca de dez anos para ganhar uma entidade organizadora. Em 2008, chegou ao Brasil, na praia de Ipanema, por meio de tenistas que conheceram a modalidade em um congresso italiano.
Jader explica que, no início, as disputas aconteciam em poucas cidades. O esporte só chegou ao interior na última década. “A história em Ribeirão Preto começou quando recebi o convite de um amigo para ir à cidade de Santos conhecer a modalidade. Participamos de um campeonato lá e ficamos impressionados com o que vimos.”
Apaixonado pelo esporte descoberto, o professor de tênis decidiu ampliar sua área de atuação. Após pisar na primeira quadra de beach da cidade, cujo proprietário é outro pioneiro, André Balau, Jader começou a dar aulas também na areia.
“Em maio de 2014, tive a alegria de inaugurar uma arena de minha propriedade: a Strang Arena, primeira da cidade, com seis quadras, em parceria com meu amigo Sergio Strang. Ali desenvolvemos os primeiros jogadores, grupos de participantes e professores”, conta.
A virada de chave ocorreu em meados de 2018 e se intensificou durante a pandemia, entre 2021 e 2022. “Na época, mais arenas estavam em funcionamento, e o ribeirão-pretano se identificou muito. Nós vimos a explosão da modalidade aqui.”
Mestre das areias
Em 2017, Jader decidiu transformar a modalidade no tema de seu mestrado em Educação pela USP. Sua missão foi estudar a história das raquetadas em Araraquara. “Eu estudei a introdução e o desenvolvimento naquela cidade, onde o beach tennis chegou na mesma época que Ribeirão, mas teve um desenvolvimento precoce. Eles estavam mais avançados do que nós.”
Com o trabalho aprovado, o beach tenista se sentiu mais confiante para entrar de vez na área e desenvolver a Arena Strang. Além disso, Jader descobriu os motivos que fizeram do esporte um fenômeno de popularidade nos últimos anos. O principal deles foi a capacidade do jogo em reunir pessoas com diferentes idades, capacidades físicas e habilidades motoras, sobretudo os iniciantes.
“O que estudei e para mim sempre foi muito óbvio, mas queria deixar registrado em palavras, é que o beach tennis é muito democrático. Na minha opinião, essa é a razão de Ribeirão e tantas outras cidades do interior terem recebido tão bem a modalidade. Ela combina com a nossa natureza física e de pessoas. A gente gosta, como brasileiro, de se divertir, estar entre amigos, escutar música e ter contato com a natureza. É uma combinação irresistível, e isso é grande parte do sucesso”, analisa”.
O futuro empolga
Se o momento é de “boom” no número de praticantes, no interesse da mídia esportiva e na quantidade de campeonatos promovidos, o futuro tende a ser ainda mais empolgante. O primeiro passo é investir na formação de atletas.
“Em Ribeirão, ainda estamos em um estágio embrionário. A modalidade demorou um pouco para acontecer aqui e ainda não temos um programa de treinamento e desenvolvimento de atletas maduro. É inevitável que, nos próximos anos, não sejamos só um polo de torneios, mas também produtor de jogadores de alto desempenho”, projeta o professor.
O analista de marketing Hector Alcântara, de 23 anos, começou a praticar beach tennis há pouco tempo, de forma amadora. No entanto, foi amor à primeira vista. “É um esporte inclusivo. Não precisa saber muito para poder jogar. Comecei a praticar com a minha namorada, porque era nosso momento ao ar livre, e isso ajudou a começar. Na minha rotina se encaixou muito bem”, conta o praticante.
A exemplo de Hector, Jader acredita que muitas outras pessoas ainda vão conhecer os prazeres da areia. “Acho que nem Ribeirão e nem o Brasil atingiram o teto. Estamos vendo o amadurecimento da modalidade, mas, durante bons anos, ainda vamos acelerar o desenvolvimento. Temos visto um aumento no número de jogadores, professores e espaços disponíveis para a prática.”
Foi num desses espaços que Hector deu suas primeiras raquetadas, há cerca de um ano. A única diferença é o aumento na frequência. “Comecei a praticar na faculdade. Conheci por outros meios, mas a faculdade ter uma quadra abriu essa porta. Sempre que dá para encaixar eu pratico, de duas a três vezes por semana. Acho que, em poucos anos, vai ser um dos maiores esportes do Brasil.”
Jader espera que a previsão do analista de marketing se concretize e que, quando isso acontecer, seus filhos, Bento e Miguel, sigam os passos do pai. Por enquanto, ele prefere se ater a tentar convencer os pequenos. “Ainda não consegui fazer com que tenham a mesma paixão que tenho. São duas batalhas: fora de casa, tentando desenvolver o beach tennis para a nossa cidade; e outra na minha casa, para meus filhos. Eu tenho coragem, persistência e muita convicção de que vou conseguir”, conclui.