Carlos Carrión (1944-…) é um escritor equatoriano que se formou como “professor normalista”, voltado para atuar como professor da educação básica, principalmente nas séries iniciais do ensino fundamental. Posteriormente, bacharelando-se em Filosofia e Letras, doutorou-se em Letras pela Universidade Complutense de Madrid, com tese sobre o romance do chileno José Donoso (1975), publicada em 1990, enquanto Carrión buscava conhecer Madrid, Paris e Londres. Autor de obras caracterizadas por um erotismo acentuado, estas muitas vezes envolvem o tema do amor entre um homem maduro e uma adolescente, tema principal de sua obra “El Deseo que lleva tu nombre”, em que uma garota que está entrando na puberdade seduz seu professor de gramática, de 40 anos, que dedica a vida a cuidar de suas plantas.
De acordo com especialistas, sua obra foi forjada no calor do esforço, da persistência, da autodisciplina e da paixão, em cujo processo formativo conseguiu grandes realizações literárias, dentro e fora do país. Considerado um dos escritores literários mais destacados das últimas décadas em Loja e no Equador, é descrito pelos pares como o mestre da narrativa que tem a virtude de descobrir o segredo exato das coisas. Suas descrições e vocabulário amplo e primoroso caracterizam personagens, acontecimentos, paisagens, experiências, costumes e tradições no mais alto estilo literário. Esta preocupação vocabular também se encontrando em sua escrita de poesia. De sua autoria, “Por qué me da la gana” (1969), “Los potros desnudos” (1979), “El más hermoso animal nocturno” (1981), seguidos de “La silenciosa fuente de los deseos”, entre outras, todas obras de grande impacto e numerosos leitores.
Afirma Carrión que foi essa vida de triunfos literários que o levou a conviver com escritores consagrados como Ernesto Sábato, Alejo Carpentier, Carlos Fuentes, Vargas Llosa, García Márquez, entre outros. Para ele, só quem coloca paixão naquilo que faz e consegue concretizar o que se propõe tem o justo direito de ser valorizado como exemplo de compromisso e estatura moral, ética e humana. Sua grande produção literária confirma isso. As suas obras destacam-se pela qualidade narrativa, pela subtileza e comodidade dos diálogos, pelas crônicas e pela fina caracterização das suas personagens e dos seus ambientes, aos quais devemos acrescentar o domínio da linguagem, o gosto estético, o som da palavra, seu poder criativo e imaginativo, seu bom senso de humor e sua inteligência única. Ainda segundo a crítica especializada, “Carlos Carrión é simplesmente um escritor que nasceu para nunca morrer. As suas obras passearão com deleite por todos os cantos, transportando uma tropa de histórias antigas e novas, de caminhantes ávidos de testemunhos, de preocupações e razões e de amantes inveterados da bela literatura e das belas artes”.
“La ciudad que te perdió” é uma história de amor terna e dolorosa. Os protagonistas são dois jovens maridos e uma filha pequena separados pela migração. O marido, um dentista desempregado, fica no seu país à espera que a sua mulher, uma rapariga muito bonita, lhe consiga um emprego em Madrid, para que ele possa ir juntar-se a ela. Porém o que a esposa ganha é outro homem. Quando o marido dela descobre, ele vende seu escritório e voa com a garota para impedir o infortúnio. A parte mais comovente da história é a reconquista desesperada daquela mulher pelo marido através de recursos desesperados. Uma reconquista que é, acima de tudo, vontade invencível do coração e do amor humano. A linguagem do romance é um rio profundo de palavras cheias de palpitações de vida e beleza que fazem desta história uma obra sem dúvida inesquecível.
“La mantis religiosa: Historias secretas sobre la migración” é a história de Loli, uma menina bonita e ousada que, empurrada pelo vento da migração, chega a trabalhar como cuidadora de um menino demente e de velhinhas insuportáveis em vários lares espanhóis. Finalmente, um anúncio num jornal de Madrid oferece-lhe um emprego muito melhor, bem remunerado, mas difícil. Um dos muitos trabalhos secretos que os protagonistas da migração não contam a ninguém. Fica na casa de um homem rico e famoso, que conta com a cumplicidade da esposa. O romance narra, com delicadeza e ternura, uma sucessão frenética de experiências com fogo vivo, fogo que queima tudo que toca, inclusive o leitor.
Sua principal obra é “El corazón es un animal en celo”. Composto por dez contos, expressão viva do nosso percurso diário, da nossa luta incessante para ser e estar, para viver e transcender, para construir e formar mesmo que apenas na ilusão… uma forma de amar ou uma forma de esquecer. Condecorado com inúmeros prêmios dentro e fora do país, bem como na Espanha e em Washington.
Professora Universitária