Sabreen Jouda chegou ao mundo segundos depois de sua mãe o ter deixado. A casa deles foi atingida por um ataque aéreo israelense pouco antes da meia-noite de sábado, 20. Até aquele momento, a família era como tantos outros palestinos que tentavam se proteger da guerra na cidade de Rafah, no extremo sul da Faixa de Gaza.
O pai de Sabreen morreu. Sua irmã de 4 anos morreu. A mãe dela morreu. Mas as equipes de emergência descobriram que sua mãe, Sabreen al-Sakani, estava grávida de 30 semanas. Às pressas no hospital para onde os corpos foram levados, os médicos realizaram uma cesariana de emergência.
Sabreen estava à beira da morte, lutando para respirar. Seu corpo estava deitado em posição de recuperação sobre um pequeno pedaço de carpete enquanto os médicos bombeavam ar em sua boca aberta. Uma mão enluvada bateu em seu peito. Ela sobreviveu.
No domingo, 21, horas após o ataque aéreo, ela choramingou e se contorceu dentro de uma incubadora na unidade de terapia intensiva neonatal do Hospital dos Emirados. Ela usava uma fralda de tamanho maior do que para a sua idade, e sua identidade estava escrita com caneta em um pedaço de fita adesiva em volta do peito: “O bebê do mártir Sabreen al-Sakani”
“Podemos dizer que há algum progresso no seu estado de saúde, mas a situação ainda está em risco”, disse Mohammad Salameh, chefe da unidade. “Esta criança deveria estar no ventre da mãe neste momento, mas ela foi privada desse direito.”
Ele a descreveu como uma menina órfã prematura. Mas ela não está sozinha. “Bem-vinda. Ela é filha do meu filho querido. Eu vou cuidar dela. Ela é meu amor, minha alma. Ela é uma memória do pai dela. Eu cuidarei dela”, disse Ahalam al-Kurdi, sua avó paterna.
Pelo menos dois terços dos mais de 34 mil palestinos mortos em Gaza desde o início desta guerra eram crianças e mulheres, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas. O outro ataque aéreo israelense em Rafah durante a noite matou 17 crianças e duas mulheres de uma família.