Tribuna Ribeirão
Artigos

Bolsonaro quer que se comemore a morte

Não nos surpreende que, enquanto se comemorava na última semana o Dia Internacional do Direito à Verdade, criado pela ONU, o presidente da República incentivou as Forças Armadas a comemorarem o golpe civil-militar de 64. Admiradores de facínoras e assassinos como Pinochet, Stroessner e Ustra não pos­suem qualquer apreço pela democracia e pela vida. São fanáticos como Bolsonaro e seus estúpidos e fiéis seguidores. O presidente ameaça a todos com a ditadura militar que derrubou um pre­sidente legalmente eleito. Ele incentiva as Forças Armadas para que se faça novamente o terror daqueles tempos. A decisão teve repercussão internacional. Na Alemanha, os prestigiados jornais FAZ e Tagesspiegel questionaram como pode um presidente exal­tar um período marcado por tantas violações de direitos.

A decisão contrasta com o cenário vigente em outros países da América Latina que também passaram por ditaduras militares. No Chile um general foi destituído pela cúpula do Exército ao saudar um torturador, e a Argentina fez história ao processar e julgar os integrantes do aparato repressivo da Junta Militar. Não há homem público capaz de reverenciar abertamente os tem­pos da ditadura nesses países, pois a sociedade os rejeitaria. O presidente chileno, Sebastián Piñera, sempre criticou o regime do general Pinochet e fez questão de se distanciar de Bolsonaro du­rante a visita que este fez ao país. Para Piñera, as frases do capitão sobre a ditadura “são tremendamente infelizes”. “Não compartilho do que Bolsonaro diz sobre o tema”, concluiu.

Mas não faltam os verdadeiros excrementos da ditadura para defender o indefensável. Joice Hasselmann, líder do governo no Congresso, afirmou: “A partir deste ano, o Brasil irá comemorar o aniversário do 31 de março de 1964 […] É a retomada da narra­tiva verdadeira de nossa história. Orgulho”. A chacota de Bolso­naro com assunto tão delicado é calculada. Enquanto mantém a polarização para manter coeso o seu rebanho, ele faz do assunto um tema de distração em seu governo que está às voltas com a reforma da Previdência. “A esquerda raivosa e os bonecos de ventríloquos estão em polvorosa por causa da decisão do governo de autorizar as comemorações devidas a março de 1964. Podem berrar. O choro é livre e graças aos militares, o Brasil também!”, tuitou Hasselman, para amplificar a mensagem de Bolsonaro.

Contraponto. O Ministério Público Federal (MPF) aponta cri­me de responsabilidade de Bolsonaro ao autorizar que as Forças Armadas realizem “as devidas comemorações” em relação à ins­tauração do regime militar. Para os procuradores do MPF, o ato representa crime de responsabilidade, por se enquadrar no que prevê o artigo 85 da Constituição Federal. Este delito, de acordo com a Carta Magna, pode resultar na suspensão do mandato e até no afastamento definitivo do cargo. “O apoio de um presidente da República ou altas autoridades seria, também, crime de respon­sabilidade (artigo 85 da Constituição, e Lei n° 1.079, de 1950). As alegadas motivações do golpe – de acirrada disputa narrativa – são absolutamente irrelevantes para justificar o movimento de derrubada inconstitucional de um governo democrático, em qualquer hipótese e contexto”, destaca o MPF.

Os procuradores afirmam, na nota pública divulgada na noite da última terça-feira, que se confirmadas como uma exaltação ao regime, o presidente comete uma grave ilegalidade no exercício do cargo. “Embora o verbo ‘comemorar’ tenha como um significado possível o fato de se trazer à memória a lembrança de um aconteci­mento, inclusive para criticá-lo, manifestações anteriores do presi­dente indicam que o sentido da comemoração pretendida refere-se à ideia de festejar a derrubada do governo legítimo de João Goulart em 1º de abril de 1964 e a instauração de uma ditadura militar. Em se confirmando essa interpretação, o ato se reveste de enorme gravidade constitucional, pois representa desrespeito ao Estado Democrático de Direito”, diz um trecho da nota.

Postagens relacionadas

Palestra da meditação no Campus da USP de Ribeirão Preto

Redação 2

Hipocrisia, mesmo histórica, não é crime

William Teodoro

Dezembro Vermelho contra a Aids 

Redação 2

Utilizamos cookies para melhorar a sua experiência no site. Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade. Aceitar Política de Privacidade

Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com