Por Pedro Venceslau
A volta ao mundo pela plataforma Netflix inclui algumas paradas especiais. Séries como Marseille (com Gerard Depardieu), Cães de Berlim ou a croata Novine (O Jornal) promovem imersões na paisagem urbana e política das cidades onde se desenvolve a ação.
Na escala italiana, duas produções se destacam: Gomorra e Suburra, que incluiu recentemente sua segunda temporada no cardápio de streaming. Ambas são séries policiais realistas, violentas e conectadas com a realidade local. No caso, Roma é a protagonista.
A segunda temporada de Suburra começa três meses após o desfecho do ano de estreia e se afunda na lama de uma tríade poderosa: Vaticano, parlamento e uma versão sem caricatura da Máfia. São esses os elementos que movem o roteiro.
A continuação da série abordou um tema explosivo da agenda europeia e que também é o pano de fundo de Marseille, Cães de Berlim e Novine: a imigração e o fortalecimento do discurso conservador.
O crescimento acentuado de postulantes a asilo na Europa nos últimos anos criou uma crise humanitária e abriu um debate intenso no continente. Milhares de pessoas morrem todos os anos no mar em travessias em barcos precários e superlotados.
Esse fenômeno favoreceu a agenda dos partidos nacionalistas de extrema-direita. Em Suburra o discurso de ódio que move um setor em franco crescimento da classe política europeia é o combustível de oportunistas instalados no coração do poder.
A conta é simples para os trambiqueiros: serão acolhidos 512 imigrantes (e pagos 35 euros por cada um deles).
O trio de marginais que luta contra todos ganha mais um componente: o político que era de esquerda e trocou de lado no espectro ideológico quando percebeu que os ventos estavam mudando.
A história, porém, anda em círculos e avança pouco no teatro de operações do submundo do tráfico romano.
A crítica europeia trata a série como “a resposta italiana a Narcos”, a sequência latina que fez sucesso em 190 países. De fato, existem paralelos, mas Suburra ganha em densidade e interpretação.
A série é baseada no livro de Giancarlo De Cataldo e Carlo Bonini e já rendeu um filme de mesmo nome, que foi produzido pela Netflix e dirigido por Stefano Sollima em 2015. Sollima, a propósito, também comandou a série Gomorra.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.