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Noel no céu

Hoje eu acordei com uma vontade louca de escrever sobre Noel Rosa, como já fiz muitas vezes, mas falar dele é um repertório que não tem fim. Noel se mandou pro andar de cima muito novo, com apenas 26 anos. Fico imaginando se ele tivesse vivido mais uns 30…

Dia desses, numa resenha lá no Clube de Regatas, um amigo mega fã de Noel Rosa – leitor do nosso querido Jornal Tribuna, gosta muito das histórias que conto neste espaço –
perguntou se eu conhecia a história da música que Noel Rosa mandou lá do céu para seu maestro arranjador, Hervê Cordovil. Eu disse que Rolando Boldrin, em seu programa “Bem, Brasil”, contou essa história de uma forma reduzida. Daí em diante nossa prosa ficou animada, ele queria contar o que sabia sobre o tema e eu, também. A coisa foi longe.

Contei uma que ele não sabia. Noel Rosa foi com a esposa para Belo Horizonte tratar de sua avançada tuberculose, do­ença que o matou, e deixou, no Rio de Janeiro, sua cobiçada amante – li em algum lugar que ela era um arraso de mulher. Por onde o “casal” passava, a moça despertava desejos in­confessáveis nos frequentadores da boemia da Lapa Carioca, entre eles o compositor, cantor e ator Mário Lago, letrista do samba “Saudades da Amélia”, em parceria com Ataulfo Alves.

Noel ficou na capital mineira por seis meses e, quando voltou, descobriu que a moça bateu asas pro lado do ami­go Mário Lago. Noel sofreu muito, mas a vida seguiu e ele, tempos depois, se mandou pro céu. Aí o amigo, sem deixar a bola cair, engatou outra história do sambista, aquela dele com o chofer de praça de apelido “Malhado”, que o conduzia nas noites cariocas. O pseudônimo pegou porque o sujeito tinha algumas manchas brancas no corpo.

Assim que Noel entrava no carro, o taxista já começava a cantar, soltava a voz em dó maior, queria mostrar ao compo­sitor que levava jeito pra coisa. Certa noite, conduzindo Noel pra boemia, pediu ao cantor e compositor que fizesse uma música pra ele cantar para uma rapariga, filha de um coronel, que ele estava tentando conquistar.

Noel, gozador como ele só, percebendo que “Malhado” era pouco letrado, compôs uma música com palavras que ele não sabia o significado, e numa madrugada acompanhou o conquistador até a casa da moça, ficando na esquina. A letra da música era a descrição de uma relação sexual que acabava de ser realizada, e o cara – “se achando” – soltou o gogó.

De repente, o coronel saiu com seu trabuco dando tiros e xingando “Malhado” de tudo que é palavrão. Quando do­brou a esquina, Noel, com aquele sorriso sacana, perguntou ao seresteiro: “O que houve, ‘Malhado’?” Muito assustado e tremendo, o taxista disse: “Pô, Noel, a música é linda, eu até estava cantando bem, mas acho que o pai da moça não gostou e mandou bala aqui no ‘Malhadão’!!!” Noel, sem perder, emendou: “Pra você ver, ‘Malhado’, como existem pessoas insensíveis”. E caiu na risada.

Voltando a Noel no céu, o amigo disse que, certa noite em Sampa, o maestro Hervê Cordovil, ao passar em frente a um centro espírita, foi “empurrado” pra dentro de uma forma que não soube explicar. Minutos depois, o médium disse: “Está presente aqui em espírito o Noel Rosa, e disse que em nosso recinto está seu parceiro que se recusa a falar com ele. Por favor, levante a mão quem for parceiro de Noel.”

Hervê ficou na dele, pois ainda não tinha cabeça para tal situação, mas tempos depois voltou ao centro, passando a ter contatos espirituais com o compositor que, numa dessas, com uma força estranha o induziu a escrever a letra da música “Vila Isabel do Espaço”. A letra, que é uma psicografia, é interessante, quem tiver a curiosidade de checar é só acessar o Google que lá tem tudinho, até a história do “Malhado” com letra e tudo (rsrssr).

Sexta conto mais.

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