O professor emérito de Ecologia da Universidade de São Paulo (USP) Paulo Nogueira Neto, um dos patronos do ambientalismo no País, morreu na segunda-feira, 25 de fevereiro, aos 96 anos. Secretário especial de Meio Ambiente entre 1973 e 1985, em um órgão criado pelo governo militar que seria o embrião do Ministério do Meio Ambiente, foi responsável por introduzir a agenda da conservação da natureza, criando 26 estações ecológicas e áreas de proteção ambiental (APAs), em um total de 3,2 milhões de hectares protegidos, em uma época em que o discurso oficial era desenvolvimentista e pregava o avanço, em especial sobre a Amazônia.
Foi com ele que se criou a primeira versão da Estação Ecológica da Jureia (SP), ainda sob o governo federal, antes de virar estadual, e a do Jari, na Amazônia. Nogueira-Neto também deu origem a alguns marcos regulatórios, como a Política do Meio Ambiente, de 1981, que criou o Conselho Nacional do Meio Ambiente. Ainda na década de 1980 foi um dos dois únicos representantes da América do Sul na Comissão Brundtland, da Organização das Nações Unidas (ONU), onde foi cunhado o conceito de desenvolvimento sustentável.
Com formação em Direito e História Natural, o pesquisador, que criaria o Departamento de Ecologia da USP, iniciou sua carreira na área investigando abelhas sem ferrão, após ganhar uma colmeia do sogro. Nogueira-Neto foi agraciado com o Prêmio Professor Emérito – Troféu Guerreiro da Educação em 2005. A distinção é concedida desde 1997 pelo Estado e pelo Centro de Integração Empresa Escola (Ciee).
Nogueira-Neto também foi um dos primeiros no Brasil a falar abertamente sobre o risco das mudanças climáticas. O presidente Jair Bolsonaro (PSL) lembrou a morte do ambientalista com uma postagem na sua rede social, nesta terça-feira. Escreveu que o Brasil perdeu o “precursor da boa política ambiental”. “Secretário Especial do Meio Ambiente nos governos Geisel e Figueiredo, deixa-nos um legado de respeito ao meio ambiente e ao produtor rural. Deus conforte seus familiares e amigos”. Ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva lembrou de preocupação dele quanto à Amazônia e ao Cerrado.
Evaristo de Miranda, chefe da Embrapa Territorial, destacou o amor que ele tinha pela esposa. “Faleceu nosso mais antigo e respeitado ambientalista”, publicou no Instagram o atual ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. A pasta disse que ele é motivo de inspiração e incentivo. A ONG SOS Mata Atlântica também fez uma homenagem ao seu fundador. Nogueira-Neto era viúvo, deixa três filhos e seis netos. Ele teve falência múltipla de órgãos. Ele é irmão de José Bonifácio Coutinho Nogueira, fundador da EPTV, afiliada da TV Globo