O número de ocorrências envolvendo escorpiões disparou em Ribeirão Preto no ano passado. Entre janeiro e dezembro, foram registrados 810 ataques na cidade, média mensal superior a 60, mais de dois por dia. A quantidade de casos já é mais de cinco vezes superior aos 147 registrados no ano de 2017, quando a média era de 12 por mês, com 663 a mais e alta de 451%. Em comparação com 2013, quando a Divisão de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) atendeu 143 pessoas, a alta chega a 466,4%, com 667 picadas a mais.
Segundo o Departamento de Vigilância em Saúde, nos últimos seis anos, de 2013 até 31 de dezembro, já foram registrados na cidade 1.732 ataques de escorpião, média anual de quase 290 (está em 288), 24 por mês, quase um por dia. A Secretaria Municipal da Saúde não divulgou os dados completos do último mês de 2018, mas até novembro as principais vítimas eram os adultos com idade entre 20 e 49 anos, com 585 ocorrências, 39,9% do total e média de 18.1 picadas para cada grupo de dez mil habitantes. Em seguida aparecem as pessoas com 50 a 79 anos, com 347 casos, 23,6% e 21.7 registros por dez mil habitantes.
Os idosos maiores de 80 anos e os bebês com menos de um ano são as faixas etárias com menor incidência. No primeiro grupo foram registrados 20 ataques desde 2013, ou 1,36% do total e 14.4 por dez mil habitantes. No segundo foram 22 ocorrências, 1,5% dos 1.467 constatados em seis anos. No entanto, a incidência é alta, de 27.7 por dez mil crianças. A maior taxa de incidência é de crianças entre um e quatro anos, com 44.9 por dez mil habitantes. São 144 casos, 9,8% do total.
Segundo a Divisão de Vigilância Epidemiológica, neste período houve apenas um óbito na cidade. O ano de 2014 terminou com o menor número de ocorrências: 127. Em 1º de maio do ano passado, no Jardim Salgado Filho, na Zona Norte de Ribeirão Preto, uma criança foi ferida no pé pelo aracnídeo quando ajudava a tia a retirar o entulho de um terreno onde seria erguido um barraco. O menino João Victor Souza de Paula foi socorrido pela tia e levado à Unidade Básica Distrital de Saúde (UBDS) do bairro Quintino Facci II, mas acabou transferido para a Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Ele morreu depois de sofrer paradas cardíacas decorrentes da ação do veneno.
A Divisão de Vigilância Epidemiológica do Departamento de Vigilância em Saúde, chefiada pelo doutor Daniel Araújo, informa que em todo caso de acidente com animal peçonhento a vítima deve procurar a unidade de saúde mais próxima para avaliação médica e, caso seja necessário, o posto deverá encaminhar o paciente ao HC para avaliação da toxicologia e necessidade de aplicação do soro antiescorpiônico, de acordo com a gravidade.
A população pode ajudar roçando o mato de os terrenos particulares e evitando o acúmulo de lixo e entulho. São cerca de 60 mil áreas desocupadas. Todos os anos, milhares de proprietários são notificados sobre a necessidade de construção de mureta e calçada e de limpeza e capinação. Os valores das multas aplicadas aos donos de terrenos irregulares obedecem à tabela com base no valor da Unidade Fiscal do Estado de São Paulo (Ufesp), atualizada em 1º de janeiro de 2018 – cada uma vale R$ 26,53 neste ano.
A multa para donos de terrenos de até 300 metros quadrados é de 35 Ufesps (R$ 928,55), de 301 a 600 m² sobe para 40 Ufesps (R$ 1.061,20), de 601 a mil m² vai a 45 Ufesps (R$ 1.193,85) e acima de 1.001 m² o valor da autuação é de 60 Ufesps (R$ 1.591,80). No ano passado, foram registrados 26,9 mil ataques de escorpião, com 12 mortes, no Estado de São Paulo, 24% a mais do que no ano anterior. Em 2017, tinham sido 21,7 mil casos e sete mortes.
Conforme dados do Centro de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Estadual de Saúde, as crianças são as principais vítimas do aracnídeo. Dados do Ministério da Saúde apontam que em 2017 foram registrados 125 mil casos de acidentes com escorpiões. No ano passado, o número saltou para 144 mil. A maioria dos casos geralmente acontece entre os meses de dezembro e março
A espécie mais comum nas cidades é a “Tityus serrulatus”, conhecida como “escorpião amarelo”. Trata-se de um tipo urbano, frequentador de esgotos ou redes pluviais, e considerado o mais perigoso da América Latina. “Sua picada é muito dolorida, provoca náuseas, vômitos, sudorese, e o veneno pode matar crianças de até 12 anos e idosos após causar arritmia cardíaca e edema pulmonar”, diz o imunologista Luiz Vicente Rizzo, presidente do conselho curador do Instituto Butantan.
“Os feridos devem ser levados o mais rápido possível ao hospital mais próximo”, recomenda. Para não correr risco de morte, a pessoa tem de ser atendida em, no máximo, quatro horas. É preciso tomar soro contra o veneno e analgésico para aliviar a dor. A espécie mede dois e dez centímetros e se alimenta de insetos rastejantes como baratas, aranhas e até mesmo outros escorpiões, mas pode sobreviver até um ano sem comida. As fêmeas não precisam de machos para procriar e representam quase 90% da espécie. Cada uma gera cerca de sessenta filhotes por ano. Vivem de dois a cinco anos.
O balanço dos ataques em RP
Ataques em 2013 – 143
Ataques em 2014 – 127
Ataques em 2015 – 267
Ataques em 2016 – 238
Ataques em 2017 – 147
Ataques em 2018 – 810
Total de ataques: 1.732
Até novembro de 2018
Total de ataques: 1.467
Menores de 1 ano – 22 casos Incidência: 27.7 por 10 mil habitantes
De 1 a 4 anos – 144 casos Incidência: 44,9 por 10 mil habitantes
De 5 a 9 anos – 128 casos Incidência: 28.3 por 10 mil habitantes
De 10 a 19 anos – 221 casos Incidência: 23.9 por 10 mil habitantes
De 20 a 49 anos – 585 casos Incidência: 18.1 por 10 mil habitantes
De 50 a 79 anos – 347 casos Incidência: 21.7 por 10 mil habitantes
De 80 anos ou mais – 20 casos Incidência: 14.4 por 10 mil habitantes
Fonte: Divisão de Vigilância Epidemiológica da SMS