Tribuna Ribeirão
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No Brasil, as leis são para todos… 

no entanto, seu rigor está destinado a pretos e pobres!  
 
José Eugenio Kaça *  
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Tudo na vida depende do ponto de vista, e o ponto de vista depende do interesse do observador, e como no Brasil o poder nunca mudou de mãos; manter a tradição do senhor de engenho e do coronelismo é uma questão de sobrevivência para essa gente de “bem”. Este pensamento retrógado quer mudar o conceito de liberdade estabelecido pela Constituição cidadã, e pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, colocando o crime cometido contra outros seres humanos, como se fossem o direito inalienável a liberdade de expressão. Gente que acha que estamos vivendo tempos difíceis, pois não se pode mais cometer crimes impunimente – onde fica a supremacia branca? 
 
Essa extrema-direita anda revoltada com o poder Judiciário, pois na visão enviesada dessa gente de “bem” estão livres para falar, ameaçar e  até estimular a morte de outros seres humanos que julgam inferiores, querem substituir a Democracia e a Constituição pelo Velho Testamento, e assim pavimentar o caminho para a volta do velho Estado religioso. Como herdeiros da velha aristocracia escravocrata, onde seus ancestrais podiam dispor da vida de seus escravos como lhes conviessem, vender, acorrentar, açoitar, e até matar, e depois ir aos domingos à Igreja comungar e falar com Deus, e assim seus pecados estavam perdoados, afinal, os escravos não tinham alma, eram apenas propriedades como outra qualquer, portanto, não havia crime!  
 
As lutas seculares por direitos iguais produziram leis que nos dias atuais punem os crimes que eram isentos no passado, no entanto, os calabouços da velha ordem escravagista começaram a emergir, e os demônios que estavam aprisionados começaram a voar em pleno século 21. Os novos tempos, novos ares e uma Constituição cidadã proporcionaram um pensar mais humanista, mas a força das ideias medievais colocaram novamente a escuridão no caminho do povo pobre brasileiro. Não conseguiram abstrair do texto constitucional as conquistas sociais, mas não se deram por vencidos, os ataques a Carta Magna começaram no ato da Promulgação, pois o presidente Sarney disse que era uma Constituição para a Suíça – era muito avançada para o Brasil, e desde lá os ataques não deram trégua. 
 
Acabar com a felicidade, mesmo que precária das classes pobres passou a ser a meta dessa gente de “bem”, que tem como lema de vida “Deus, pátria e família”, e a partir de 2013, colocaram em prática a já conhecida  delinquência moral e intelectual, e como proliferar o mal é mais fácil, o território brasileiro foi tomado de assalto, e de lá para cá tentam ardilosamente destruir os efeitos positivos que a Constituição cidadã trouxe para os pobres. A proliferação indiscriminada de mentiras nas redes sociais é a principal arma da extrema-direita para alienar parcela da população. E o efeito nefasto destes atos criminosos foi a chegada nos parlamentos de extremistas e delinquentes que usam o mandato para praticar crimes, maculando ainda mais a imagem do Parlamento.  
 
Vivemos aparentemente sob o regime democrático, que é definido como um regime político no qual a soberania é exercida pelo povo. Os cidadãos são detentores do poder e confiam parte desse poder ao Estado, para organizar a sociedade.  Na teoria tudo é muito bonito, mas na prática essa soberania é segregadora, e, portanto, é relativa. Essa relatividade fica explícita quando vemos uma abordagem policial feita em um bairro de ricos e outra numa periferia pobre. Um playboy dirigindo em alta velocidade um carro de mais de um milhão de reais, causou um acidente, que matou um motorista de aplicativo, a polícia ao invés de conduzi-lo para a delegacia, permitiu que sua genitora o levasse do local, alegando que iria levá-lo para um hospital – só apareceu depois de quarenta horas, e teve a sua prisão negada pela justiça. Enquanto isso numa comunidade pobre, um vídeo mostra policiais militares invadindo uma casa, para abordar o morador, e um policial descontrolado agrediu um cadeirante com chutes, e ainda jogou um armário em cima dele, alegando que tinha sido agredido. Isso mostra que na prática no Brasil a democracia tem lado – o lado dos poderosos! 
 
* Pedagogo, líder comunitário e ex-conselheiro da Educação 

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