Rui Flávio Chúfalo Guião *
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Moro, há mais de 30 anos, num dos primeiros condomínios implantados na nossa cidade. No início, tudo era muito precário, havia lotes sem muro, segurança deixando a desejar, mas o que mais chamava a atenção era a pouquíssima aparição de pássaros.
As árvores estavam ainda em fase de crescimento e havia raras frutíferas, talvez a razão das poucas aves.
Com o tempo e com a movimentação dos moradores, as coisas foram se ajeitando. Hoje, temos uma das mais privilegiadas áreas verdes da cidade,que nos encanta com maciços de flores coloridas, povoada por uma infinidade de pássaros e animais. Alguns deles, são contumazes “invasores” de minha casa.
Chegando a Páscoa, relembramos o dia em que encontramos um grande coelho branco ao lado da piscina, calmamente observando o ambiente. Minha esposa logo ofereceu uma cenoura a ele, que, sem medo, veio apanhá-la, depois caminhou tranquilamente pelo jardim, para desaparecer e nunca mais voltar.
Certa manhã, quando saía para caminhar, eis que surge um filhote de tamanduá, meio assustado. Conseguimos pegá-lo e chamamos os bombeiros, que o encaminharam para a Mata de Santa Tereza.
Os gambás são muitos, caminham à noite e fazem acender as luzes dos sensores de fora. Escondem-se de dia, não sabemos onde.
Mas os pássaros, com suas cores e seu cantos, enchem o nosso espaço e nosso dia.
Já escrevi sobre as saracuras, que, ao cair da noite, vem se banhar ora na piscina, ora na grande tina com água, que oferecemos aos pássaros. Ontem, quando a luz do meu carro iluminou a noite que se instalava, elas começaram uma cantoria forte, seus “três potes, três potes, urrá,urrá”, mostrando seu esconderijo na árvor.
Os bem-te-vis, muitos deles nascidos aqui em casa, se revezam para beber água na tina. Basta entrarmos na piscina para eles começarem uma cantoria agressiva, na tentativa, talvez, de nos amedrontar, liberando o território que consideram deles. Dividem a borda da piscina com as lavandeirinhas, brancas de casaco preto, que depois de saltitarem, mergulham na água, em busca de pequenos insetos.
Numa marcha solene e ritmada, o joão e a joana de barro percorrem o gramado, em busca de material para terminar sua casa, encarapitada numa árvore do jardim
Logo de manhã, é comum ouvir o canto do tucano. Corremos para tentar achar onde ele se encontra, na maioria das vezes nos ramos mortos de uma grande árvore do vizinho. Noutro dia, contamos seis adultos, com seus largos bicos coloridos.
O íbis verde aproveita a irrigação automática matinal e, com seu bico grande, desenterra pequenos seres que vivem na terra.
As maritacas, em bando, voam e revoam, num alarido estrondoso. Parece que fogem dos gaviões, que, traiçoeiros, espreitam todos os pássaros, escondidos no verde das árvores.
Algumas vezes, sentados na varanda, notamos um silêncio de cantos: é o carcará, que espreita suas possíveis vítimas e que assusta a todos, pousado majestoso num galho próximo.
Nossos companheiros no café da manhã, que tomamos na varanda,são vários saguis, que ficam no telhado olhando para a comida. Pulam nas palmeiras e delas para as telhas, num balé de grande saltos, mas não se atrevem a aproximar.
É impressionante a diversidade de vida que nos cerca, impactante a beleza do colorido das aves, a rapidez e agilidade dos pequenos animais que compartilham conosco os espaços de nossa casa.
* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e Secretário-Geral da Academia Ribeirãopretana de Letras