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Direita, volver! 

Luiz Paulo Tupynambá *
blog: www.tupyweb.com

Este ano tem tudo para ser um ano marcante em décadas. No campo econômico, no campo da ciência e da tecnologia e, principalmente, no campo político, as mudanças vão impactar a maioria da população mundial com eleições em influentes atores mundiais como Estados Unidos, Índia e União Europeia. Há uma expectativa de uma guinada à direita em todo o mundo. Hoje vou falar sobre as eleições em duas grandes democracias representativas: Índia e Estados Unidos.

Na Índia, país para o qual temos que olhar com interesse especial por seu potencial de crescimento econômico e estratégico nas próximas décadas, o primeiro-ministro ultranacionalista Narendra Modi buscará um inédito terceiro mandato para consolidar de vez seu projeto desenvolvimentista e nacionalista. Às vésperas da eleição o governo implementou totalmente a Lei da Cidadania, de 2019, que exclui muçulmanos de origem estrangeira da possibilidade de obterem cidadania indiana. A população muçulmana é estimada em duzentos milhões (14% do total), o que torna a Índia o terceiro maior país muçulmano do mundo.

Calçado em sua popularidade, Modi promete tornar a Índia de quinta para terceira maior economia do mundo (atrás apenas de Estados Unidos e China). O Partido Bharatiya Janata (Partido do Povo Indiano) está no poder desde 2014. Pelas pesquisas, Modi ganhará um novo mandato com facilidade e aprofundará o projeto de uma Índia predominante na Ásia e capaz de fazer frente, militarmente inclusive, com a China. Vale lembrar que a Índia é uma potência nuclear e domina toda a tecnologia aeroespacial (já pousou naves na Lua).

O partido de Modi tem sido acusado pela oposição de cercear a liberdade política. Nas vésperas da eleição, o Partido do Congresso, o principal opositor, acusou o governo de estar por trás do congelamento de seus fundos financeiros, prejudicando sua campanha eleitoral. O governo negou. Para constar, são “apenas” cerca de 960 milhões de eleitores! Sim, a Índia usa urnas eletrônicas na maioria de suas seções eleitorais. Nas últimas eleições gerais, em 2019, foram usadas 1.635.000 urnas, número que deve chegar a 1.800.000, com noventa e nove por cento de cobertura eleitoral. No Brasil, em 2022, foram usadas 577.000 urnas no segundo turno das eleições presidenciais.

Nos Estados Unidos, a eleição presidencial já tem os dois candidatos definidos e sacramentados pelos respectivos partidos, nas chamadas “prévias eleitorais”. Os Democratas concorrerão com o atual presidente Joe Biden, enquanto os Republicanos terão de volta o polêmico populista Donald Trump.

Biden, apesar de “ter a caneta” do mandato presidencial, tem sido tratado como “underdog”, azarão, nesta corrida presidencial, enquanto Trump é considerado favorito. Isso apesar da enxurrada de processos civis, eleitorais e criminais movidos contra ele e seus negócios. Os principais envolvem a tentativa de manipulação de resultados eleitorais na Geórgia e sua participação nos acontecimentos de 6 de janeiro de 2021, na invasão do Capitólio, a Casa Legislativa dos Estados Unidos.

Até agora, dois estados, Colorado e Maine, proibiram Trump de se apresentar como candidato em seus territórios, mas o caso está para ser julgado na Suprema Corte. Tirando os percalços e os gastos (gigantescos) com advogados e multas processuais, Trump tem conseguido sobreviver como candidato potencial. A última “facada” em seus bolsos deve chegar a mais de meio bilhão de dólares, em condenações já proferidas pela justiça, envolvendo os processos de difamação movido pela escritora Jean Carrol (83,3 milhões de dólares) e 454 milhões de dólares do processo em que foi condenado no Estado de Nova Iorque por fraude civil. Trump tem até o final do mês de março para pagar os dois débitos. Mas seu “staff” fiel já teve uma baixa considerável. O advogado Rudolph Giuliani, muito famoso nos Estados Unidos por ter sido o promotor que acabou com o poder da Cosa Nostra em Nova Iorque no início dos anos 80 e ter criado a “tolerância zero”, quando foi prefeito de Nova Iorque, acabou na lama. Fiel até o fim ao amigo Trump, Giuliani acabou preso em agosto de 2023 por ajudá-lo na tentativa de fraudar as eleições de 2020 no estado da Geórgia. Apesar de famoso e bem-relacionado, Giulani pediu falência em dezembro de 2023, ao ser condenado a pagar 140 milhões de dólares de indenização para duas funcionárias eleitorais da Geórgia, a quem teria ofendido e difamado sistematicamente por terem se recusado a ajudá-lo na fraude.

Já pelo lado do candidato democrata, a grande novidade foi a proibição, pela Câmara Democrata, do uso do Tik-Tok em território dos Estados Unidos. Enquanto isso o congresso estadunidense não aborda a utilização de Inteligência Artificial nas eleições, coisa que lá vai ser um furacão, principalmente do lado da turma do MAGA. E lá não tem TSE para tirar “fakenews” e “deepfakes” do ar. Isso sem falar da vergonha que é a nação mais tecnológica do mundo ainda não usar meios e métodos que assegurem uma eleição rápida e confiável e, pelo menos, nacionalmente unificado. Sem falar do sistema de eleição indireta para a presidência da república, onde, muitas vezes, quem ganha no voto popular acaba perdendo no colégio eleitoral dos delegados eleitos nos estados. Depois os atrasados somos nós. Pois é.

* Jornalista e fotógrafo de rua 

 

 

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