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O Equador e sua literatura (16): José Martínez Queirolo   

Rosemary Conceição dos Santos* 

 José Martínez Queirolo (1931-2008) foi um dramaturgo, narrador e poeta equatoriano que viveu parte de sua infância em Quito, iniciando-se nos estudos literários líricos aos dezesseis anos, ocasião na qual descobriu sua vocação para a dramaturgia e o exercício narrativo. Segundo especialistas, desde sua aparição no cenário literário, Queirolo chamou a atenção por sua originalidade: sua técnica e instrumento expressivo adaptando-se a sua visão de mundo, sempre atenta à rotina social. Quando jovem, brincava de dizer que viveria mais de 100 anos, desde que não precisasse depender de ninguém e pudesse continuar dirigindo, adaptando e escrevendo teatro. Entretanto, aos 72 anos, o seu ritmo de vida abrandou, porque sentiu que o corpo precisava descansar. Com a imaginação a todo vapor, o autor executou três de suas novas obras naquele ano. Dono de um estilo criativo peculiar, suas criações eram feitas enquanto caminhava. “Eu escrevo sobre o palco. Tenho que ver a peça representada. É preciso entender se o que você faz é compreendido pelo público, por isso quando coloco no palco tenho que ver se as pessoas riem, choram e se calam quando têm que fazer”, afirmava. 

As apresentações aconteciam no primeiro andar de sua casa, onde adaptou palco e algumas poltronas. Queirolo planejava mudar a sala de teatro para o térreo, pois temia que o peso das pessoas fizesse com que a casa, de infraestrutura de madeira, desmoronasse. Mas, garantindo que ali morava há mais de 40 anos e que a casa sempre resistira, contava que, ao ali chegar, se reconciliara com a natureza. “Adoro o canto dos pássaros que ouço de manhã ou à tarde.” Ele se lembrava, então, da sua primeira casa que ficava no centro da cidade. O trânsito, os gritos dos vendedores e os alto-falantes das cantinas eram as coisas que ele mais odiava. Queirolo gostava da tecnologia que via existir a serviço do ser humano, mas repudiava a ideia desta mesma tecnologia vir a dominar o homem. Também afirmava preferir ser entrevistado sem gravador, “porque há pessoas que têm esse instrumento e durante a conversa com o entrevistado elas estão pensando em alguma coisa e não prestam atenção nas respostas”, dizia ele. Ele também não gostava que dublassem as vozes de atores ingleses ou europeus. “Isso é uma zombaria da arte, venho de uma época em que a voz do ator era sua personalidade”, explicava. 

Também conhecido como Pipo, Queirolo encontra na conversa um recurso muito importante de interação, por isso toda vez que fazia uma apresentação, ao final dela abria um chat com os participantes. Ele afirmava que o teatro ainda era o único meio de comunicação direto, que teve que mudar para não morrer. Sobre a televisão, meio para o qual escreveu quatro produções, destacou que era algo maravilhoso porque permite a difusão da cultura. Porém, lamentava que a mesma tivesse se tornado um espaço onde só era permitida a comercialização. “Se fosse bem aproveitado e fossem feitos programas educacionais, não teríamos analfabetos”, ressaltava. Enquanto cursava engenharia civil, recebeu reconhecimentos como contador de histórias. Como engenheiro, Queirolo trabalhou por muitos anos como desenhista, agrimensor e calculador na Prefeitura de Guayaquil, no Ingenio San Carlos e na Empresa Eléctrica del Ecuador. Mas não chegou a se formar. Encenou sua primeira peça, “Réquiem por la lluvia”, em 2 de setembro de 1960. Quatro de suas peças receberam prêmios nacionais de teatro. São elas: “La casa del qué dirán”, “Los unos vs. los otros”, “La dama meona” e “La conquista no ha terminado todavia”. 

Vencedor do Prêmio Nacional Eugenio Espejo 2001, na categoria Literatura, José Martínez Queirolo é autor de mais de cinquenta textos, entre inéditos e adaptações. Foi diretor do grupo de teatro Espol e diretor do Centro de Divulgação e Publicações daquela entidade. Por sua perseverança e seriedade como criador no gênero dramático, o autor ocupa lugares de destaque no teatro equatoriano. “Acho que tinha uma necessidade profunda de amor, por isso comecei a escrever”, confessou certa vez. Segundo ele, suas peças são sempre baseadas na realidade e, para que sejam realmente peças, têm de ser encenadas, porque, para ele, teatro no papel não é teatro. Em homenagem ao dramaturgo de Guayaquil, o teatro da Casa da Cultura Equatoriana, Núcleo del Guayas, com capacidade para 400 pessoas, leva o nome de José Martínez Queirolo desde setembro de 2001. 

Professora Universitária* 

 

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