Tribuna Ribeirão
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Bibliotecas Escolares: Espaços de Saber, Cultura e Inclusão 

André Luiz da Silva * 
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Nesta semana, participei de uma reunião no Senac Ribeirão Preto para discutir a participação na IX edição da Mostra dos Escritores, evento organizado pela Ordem dos Jornalistas da Região Metropolitana de Ribeirão Preto. Esta mostra acontecerá de 17 a 22 de julho. O local da nossa conversa foi a biblioteca, um ambiente muito apreciado pelos alunos. Além de contar com uma excelente equipe profissional, a biblioteca oferece livros físicos, computadores, jogos lúdicos e mobiliário especialmente pensado para incentivar a permanência e imersão de todos. 
 
Curiosamente, no dia anterior, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei proposto pela deputada Laura Carneiro (PSD-RJ) criando o Sistema Nacional de Bibliotecas Escolares (SNBE) e incentivando a implementação de novas unidades, bem como a melhoria da rede de bibliotecas. Essas bibliotecas, segundo o projeto, deverão atuar também como centros de ação cultural e educacional permanentes. Aguardando a sanção presidencial, uma das funções do SNBE será estabelecer um acervo mínimo de livros e materiais de ensino nas bibliotecas escolares, de acordo com o número de alunos matriculados em cada escola. 
 
A existência de leitores é tão ou mais importante do que a presença de livros. Historicamente, a educação no Brasil foi caracterizada pela exclusão, analfabetismo e atendimento às elites, desde a monarquia. Mesmo após a proclamação da república, a situação não mudou significativamente. A Constituição de 1891, por exemplo, impedia que analfabetos e mendigos votassem, apesar da maioria da população ser iletrada na época. O censo de 1920 revelou que 72% da população era analfabeta. Embora essa proporção tenha diminuído ao longo do tempo, ainda existem cerca de 10 milhões de analfabetos no Brasil. Mais de 50% desse grupo tem mais de 60 anos, evidenciando o fracasso do Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), que ocorreu entre 1970 e 1985. Além disso, a taxa de analfabetismo entre pretos e pardos é o dobro da dos brancos, e existem grandes diferenças regionais. 
 
Atualmente, enfrentamos um momento preocupante, no qual muitas pessoas, especialmente os jovens, não veem mais sentido na escola ou são obrigadas a lidar com outras questões em suas vidas, como trabalho e sobrevivência. Além disso, há uma ilusão de dinheiro fácil e sucesso através de negócios mirabolantes propagados nas redes sociais. A polarização política também consome tempo e energia que poderiam ser direcionados para a construção de um sistema de ensino eficaz. 
 
Samuel Langhorne Clemens, mais conhecido pelo pseudônimo Mark Twain disse uma vez “Em uma boa biblioteca, você sente, de alguma forma misteriosa, que você está absorvendo, através da pele, a sabedoria contida em todos aqueles livros, mesmo sem abri-los”. Qualificando as bibliotecas escolares como espaços de saber, cultura e inclusão, incentivando a produção literária, valorizando autores e aproximando-os dos leitores, contribuímos para a melhoria da educação e consequentemente do país.  
 
Garantir o direito de todas as pessoas à educação de qualidade é mais do que uma obrigação constitucional; é um dever moral dos governantes em todos os níveis. Ler, escrever e compreender são direitos fundamentais e não deveriam sequer estar em discussão. Cabe à sociedade fiscalizar a aplicação adequada dos recursos públicos na educação, garantindo condições adequadas de acesso, permanência dos alunos e provendo remuneração e estrutura adequadas para os educadores. 
 
* Servidor municipal, advogado, escritor e radialista 

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