André Luiz da Silva *
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Recentemente, em Ribeirão Preto, foi inaugurada a Esplanada Doutor Sócrates, uma rua localizada no boulevard do estádio do Botafogo-SP, que é mais uma homenagem ao atleta, que completaria 70 anos no dia 19 de fevereiro. Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira nasceu em Belém, Pará, em 1954, e faleceu em 4 de novembro de 2011, coincidentemente na mesma data em que o Corinthians ganhou o título brasileiro ao vencer o Palmeiras. Curiosamente, esse era um dos desejos do Magrão.
Minha primeira proximidade com o craque Sócrates foi quando eu era “mascotinho do Pantera”, tendo a alegria de adentrar o gramado do Estádio Santa Cruz segurando sua mão. Posteriormente, observei o doutor Sócrates atuando no Centro de Saúde Escola da Vila Lobato, vinculado à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP. Nosso último encontro foi casual, em um restaurante em frente à Praça Sete de Setembro.
Infelizmente, não tive oportunidade de agradecer pelas alegrias proporcionadas aos ribeirão-pretanos, especialmente aos botafoguenses, nem de comentar sobre a partida memorável contra a Portuguesa Santista, em 13 de junho de 1976, quando marcou sete dos dez gols tricolores, ou sobre o esquadrão que conquistou o primeiro turno do Campeonato Paulista de 1977.
Além de sua visão de jogo e dos lances de calcanhar, Sócrates foi reconhecido por seu ativismo político durante a ditadura militar e participou intensamente do movimento pelas Diretas Já. Como um dos líderes do movimento chamado Democracia Corinthiana, seguiu carreira como colunista, treinador, comentarista esportivo e apresentador de programas de entrevistas. Chegou até a atuar e produzir espetáculos teatrais, além de compor músicas com Dedé Cruz. Ao gravar um disco sertanejo, intitulado “Casa de Caboclo”, não buscava ser um cantor de sucesso, mas sim ajudar a combater o preconceito que naquele tempo era comum contra a música caipira.
Na vida pessoal, enfrentava problemas que, ao invés de desmerecerem suas realizações, ressaltavam sua humanidade, sujeita a falhas.
Sócrates, Wladimir, Casagrande, Biro-Biro, Zé Maria e Zenon lideraram o movimento que, entre 1982 e 1984, provocou mudanças estruturais no Timão, onde todos os funcionários tinham igual peso em seus votos e opiniões, decidindo democraticamente desde contratações até regras internas, incluindo local de concentração e escalações.
Essa geração era muito diferente da atual, onde os jogadores de futebol mais famosos contam com equipes de assessoramento para garantir melhor relacionamento com jornalistas e imprensa em geral, buscando maior exposição midiática, construção de uma imagem positiva, gerenciamento de crises e até treinamento para lidar com a mídia. Por vezes, há uma apatia ou covardia em relação a posicionamentos sobre temas sensíveis. Assim, alguns órgãos de imprensa destacam mais as tatuagens, penteados, roupas ou coreografias dos jogadores do que o próprio futebol desenvolvido.
A Democracia Corinthiana ganhou as ruas, e seus líderes se aproximaram de artistas e personalidades políticas nas grandes manifestações pela eleição direta para presidente. Os atletas eram bons tanto em discursos quanto em campo, o que levou o alvinegro do Parque São Jorge até as semifinais do Campeonato Brasileiro e garantiu o Campeonato Paulista.
Com passagens também pela Fiorentina, da Itália, Flamengo e Santos, Sócrates jogou 60 partidas pela Seleção Brasileira, marcando 22 gols. Ele está na galeria dos grandes atletas e na memória daqueles que admiram o bom futebol e acreditam em uma sociedade melhor.
* Servidor municipal, advogado, escritor e radialista