Luiz Paulo Tupynambá *
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Nesse nosso “novo mundinho que há de vir”, a busca por fontes de energia limpas e sustentáveis se intensifica a cada dia, impulsionada pelas crescentes preocupações com as mudanças climáticas e a segurança energética. As matrizes energéticas, mais ou menos poluidoras, variam de país para país. Hoje temos três grandes candidatas para substituir nossas matrizes energéticas quando elas não contemplam os objetivos determinados pelos acordos internacionais. As três ainda estão em pesquisa e estudos de viabilidade, mas são as que melhor se encaixam como alternativas para uma substituição rápida e sustentável de matrizes baseadas em combustíveis de origem fóssil.
A primeira delas é o hidrogênio verde, do qual tenho falado já há algum tempo. Algumas pessoas me perguntaram como é o processo de obtenção de energia com ele. Normalmente hidrogênio verde é conseguido através da eletrólise da água usando uma energia renovável, como a solar e a eólica. No caso de ser usado para impulsionar motores, o hidrogênio verde precisa passar por uma célula de combustível. Na célula, o processo é o inverso do que acontece na eletrólise que produz o hidrogênio. Assim como na eletrólise, há dois eletrodos, um positivo e um negativo. Este é alimentado pelo hidrogênio, enquanto o positivo recebe ar. No negativo, uma substância separa as moléculas de hidrogênio em prótons e elétrons. Enquanto os elétrons saem do eletrodo e geram um fluxo de eletricidade, os prótons vão em direção ao eletrodo com ar. Lá, esses prótons se misturam com o oxigênio e, no caminho contrário ao da eletrólise, geram água e calor. É assim que este tipo de combustível gera energia sem combustão, produzindo apenas vapor de água.
Outro processo, já bem conhecido e sempre temido pela humanidade, é o uso da fissão nuclear. Apesar de gerar energia sem emissões de gases de efeito estufa durante a operação, a fissão nuclear apresenta riscos de acidentes e de produzir lixo radioativo de alta periculosidade, que precisa ser armazenado por milhares de anos. Vários países usam essa tecnologia para produzir energia elétrica para seus parques industriais e cidades. Outros usam para construir armamentos dissuasivos e como combustível para navios e submarinos de combate.
Mesmo em aplicações consideradas pacificas, como as usinas elétricas, seu uso pode causar acidentes desastrosos para todo uma região como foi o caso de Chernobyl (Ucrânia – abril de 1986). Aconteceu por falhas de manutenção e descaso por parte da administradora da usina, que à época, pertenciaà União Soviética. Outro caso marcante foi o acidente com as usinas nucleares de Fukushima. Construídas à beira-mar, sempre foram consideradas modelos de manutenção e bom funcionamento até o dia 11 de março de 2011, quando um tsunami, causado por um terremoto acontecido no fundo do mar, varreu a costa leste do Japão e inundou as usinas nucleares, causando o vazamento de água e vapores radioativos, obrigando a evacuação de dezenas de milhares de pessoas da região.
A fusão nuclear replica o processo que ocorre no Sol, combinando núcleos atômicos leves para gerar grande quantidade de energia. Essa tecnologia é promissora por ser livre de emissões de carbono e produzir apenas resíduos radioativos de vida curta. No entanto, ainda está em fase de desenvolvimento, com desafios técnicos a serem superados antes de se tornar comercialmente viável. Cientistas europeus, chineses e estadunidenses estão em competição ferrenha para conseguir “balancear” a produção de energia de forma economicamente viável. Os estadunidenses do Laboratório Nacional Lawrence Livermore, que é sede também do Centro de Pesquisas de Ogivas Nucleares dos Estados Unidos, parecem estar próximos do caminho utilizando lasers de alta potência. Em 2022 ele anunciaram ter conseguido pela primeira vez, a geração de energia por fusão nuclear, numa quantidade maior do que a usada para produzi-la. Dia 5 de fevereiro passado o estudo confirmando esse resultado foi publicado na Revista Physical Review Letters. Porém ainda é uma fase de experimentos e vai levar ainda uma ou duas décadas para que o processo seja viável.
O que temos hoje é um cenário que aponta para uma maior diversificação da matriz energética, de acordo com a possibilidade e capacidade de cada país, sempre buscando alternativas em fontes renováveis. Fazendas solares, parques eólicos e outras fontes renováveis ainda tem muito espaço para crescer. O hidrogênio verde tem potencial para se tornar uma importante fonte de energia no futuro próximo, especialmente se os custos de produção forem reduzidos. A fusão nuclear, por outro lado, ainda precisa de tempo para superar os desafios técnicos antes de ser utilizada em larga escala. A fissão nuclear continuará a ser uma fonte de energia importante em muitos países, mas investimentos em segurança e gestão de lixo radioativo são cruciais.
Quanto aos fósseis, não vá preparando festas de despedida ainda. Dê uma olhada em volta e você verá que praticamente tudo o que vê, tem alguma coisa ligada ao petróleo ou à indústria petroquímica. Do seu tênis ao seu celular, da sua caneta à sua roupinha de malhar, do seu óculos de marca ao banco do seu carro zero. Tudo isso vem da petroquímica e continuará vindo de lá nos próximos cem anos, pelo menos. Pois é. Semana que vem, falarei sobre o Hélio 3, o “big-prize” da Lua.
* Jornalista e fotógrafo de rua