Rui Flávio Chúfalo Guião *
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Nos anos 1500, Portugal era a nação mais poderosa da Terra, título que conquistou com o desbravamento do mar oceano. Suas ligeiras caravelas e a ousadia dos seus navegantes, expandiram o mundo e permitiram semear sua língua e cultura para vários povos.
As grandes navegações exigiam bastante investimentos, que eram pagos com o tráfico de escravos – página sombria na história – e pela venda das especiarias.
Mas, o que eram estas especiarias?
Desde muito tempo, certas mercadorias produzidas no oriente, eram encontradas na Europa, trazidas pelos italianos, que então dominavam o comércio com os muçulmanos. A queda de Constantinopla, em 1453, inibiu este comércio, motivando os ibéricos – portugueses e espanhóis – a procurarem um caminho marítimo para chegar às Índias, como eram conhecidos os vários países asiáticos.
Portugal, através de contorno da África e os espanhóis navegando uma rota que terminaria na descoberta da América, lançaram-se na grande aventura marítima. Portugal chegou primeiro às Índias e descobriu que poderia encher suas caravelas de especiarias, vendidas com um lucro de 6.000 vezes seu preço de custo.
Elas eram fáceis de serem transportadas, conservavam-se bem e fundamentais numa época em que a preservação dos alimentos era precária: serviam não só para aumentar a vida útil deles, como mascaravam, com seu sabor, algum gosto desagradável. Serviam também como remédio, perfume e a seda proporcionava novas formas de vestimenta.
Mas, quais eram as principais especiarias?
A pimenta preta, que passaria a ser conhecida como pimenta-do-reino,era uma das mais importantes, pois dava sabor aos alimentos, ao mesmo tempo que facilita a digestão. Nativa do sudoeste da Índia, tem na piperina seu principal componente e, depois da conquista portuguesa, espalhou-se pela América Tropical. Hoje, o Brasil é um dos grandes produtores mundiais, exportando 90% de sua produção.
O cravo é outro componente importante das especiarias. Originário das Ilhas Molucas, na Indonésia, é a flor seca do craveiro, muito aromática e usada não só como tempero – dá um sabor especial aos doces -, mas como remédio, pois é forte bactericida, até hoje presente nos consultórios odontológicos. No Brasil, sua produção se concentra na Bahia, mas é pouco expressiva.
A Bíblia, no livro do Êxodos faz referência à canela, o que demonstra sua longa utilização pelos povos. Originária do Sri-Lanka, o antigo Ceilão, era muito usada para dar sabor e perfume às comidas e ao vinho, além de seu uso medicinal, pois é anti-inflamatória, tônica e anti-espasmódica . Da caneleira, retira-se a casca de fora e recolhe-se a porção mais interna, que é colocada para secar ao sol, quando suas bordas se enrolam e formam um canudo, imitando o osso da canela, daí seu nome. Era a especiaria mais procurada e mais cara: seu quilo valia 10 gramas de ouro. No Brasil colonial, sua produção foi proibida por longo tempo, para não concorrer comas plantações do oriente. Trazida pelos jesuítas, hoje tem participação discreta na agricultura brasileira, cujo mercado é grande importador da especiaria.
O anis-estrelado é outro importante integrante desta cesta de condimentos. Com seu sabor parecido ao funcho ou erva-doce, é bastante utilizado como tempero de carnes, às quais dá um suave sabor de fruta e flores. Pode ser usado como substituto do cravo, dando aos doces um destaque mais suave. Originário da China, é árvore de grande porte. Ainda hoje, é muito usado na medicina oriental.
Hoje, se as especiarias não proporcionam o lucro fabuloso das antigas expedições, permanecem como deliciosos complementos dos pratos, encantando o paladar dos apreciadores da boa comida.
* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e Secretário-Geral da Academia Ribeirãopretana de Letras