A doença de Sjögren é uma afecção reumática crônica, de natureza autoimune, que acomete principalmente as mulheres em idade de menopausa causando secura na pele, nos olhos, na boca, nas vias aéreas e na região genital. A depender da gravidade e da demora no reconhecimento diagnóstico, pode acarretar danos oculares, perdas dentárias e prejuízos sociais, sexuais e na qualidade de vida. Além disso, a doença de Sjögren pode afetar órgãos vitais e estar relacionada ao maior risco de desenvolvimento de linfoma.
Estima-se que haja no país cerca de meio milhão de pessoas com a doença e milhares ainda sem diagnóstico. Por apresentarem sintomas que se confundem com os de diversas condições médicas, é provável que alguns pacientes estejam em acompanhamento de outras especialidades sem o devido reconhecimento da doença. Isso é motivo para o melhor esclarecimento e da grande importância do trabalho multidisciplinar e multiprofissional.
No Hospital das Clínicas Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP) existem aproximadamente 300 pacientes portadores de doença de Sjögren em atendimento regular, nos ambulatórios de reumatologia e oftalmologia, e estudantes de graduação e pós-graduação pesquisando sobre o assunto. O Hospital também é um dos centros integrantes do Rebrass, o Registro Brasileiro da Síndrome de Sjögren, responsável pela notificação de casos novos.
Em média, a doença de Sjögren sofre um atraso entre cinco e seis anos para seu reconhecimento. Os sintomas mais comuns são a fadiga, a dor no corpo e a secura nos olhos (causando vermelhidão, sensação de areia nos olhos e danos à córnea) e na boca (resultando em cáries, perdas dentárias, dificuldade para engolir e falar).
“Em outras vezes os sintomas de secura ficam obscurecidos por manifestações mais graves, como febre, adenomegalia, artrite, lesões de pele, distúrbios neurológicos e de órgãos internos, como os pulmões e os rins. Curiosamente, nesses casos mais graves o diagnóstico é posposto e o tratamento dificultado”, afirma a reumatologista do HCFMRP-USP, Fabíola Reis Oliveira, uma das autoras do livro “Doença de Sjogren – Abordagem multidisciplinar para a prática clínica”.
Livro – Lançado pela editora Manole em dezembro de 2023, “o livro é um compêndio com as informações mais relevantes sobre a doença de Sjögren, útil para especialistas e demais profissionais que lidam com esses pacientes”. Trata-se do primeiro material completo sobre o tema produzido em língua portuguesa.
“Há capítulos dedicados às melhores práticas de diagnóstico, detalhes sobre exames complementares e tratamento. Também há capítulos dedicados a cada um dos órgãos e sistemas acometidos, incluindo as ocorrências obstétricas, fetais,
ginecológicas, endócrinas, entre outras”, explica Fabíola. “Vários especialistas de diversas áreas do nosso hospital e de todo o Brasil foram convidados a dar sua contribuição”, acrescenta.
“A ciência trabalha para um melhor entendimento dessa doença visando o desenvolvimento de tratamentos mais eficientes e benefícios para esses pacientes. Se conseguirmos fazer um diagnóstico mais precoce e formos assertivos no tratamento, o processo inflamatório pode ser controlado e regredir com o mínimo de sequelas”, diz.
“Entretanto, as intervenções realizadas numa fase tardia, quando já existe dano tecidual e perda da capacidade funcional daquele órgão, só será possível retardar o avanço da doença e aliviar sintomas. Esse é o poder da educação na área de saúde e um de nossos maiores objetivos com o livro”.
Os ambulatórios do Hospital das Clínicas atendem aos casos suspeitos enviados pelas unidades básicas de saúde com regulação da Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde (Cross), sistema que referencia os pacientes para o hospital, e aos pedidos de interconsulta de diversas especialidades afins e também da odontologia.