Rosemary Conceição dos Santos*
Adalberto Ortiz (1914-2003) foi um romancista, poeta e diplomata nascido em Esmeraldas, província do Equador. Criado pela avó, estudou em vários lugares até ingressar na Escola Normal Juan Montalvo, em Quito, tonando-se professor em Esmeraldas, Milagro e Guayaquil, cidade portuária que sempre o seduziu e o viu desenvolver-se como escritor. No início de sua carreira, obtendo apoio do escritor Joaquín Gallegos Lara, Ortiz aproximou-se dos membros do Grupo de Guayaquil, os maiores representantes do realismo social de seu tempo. Segundo seu depoimento, seu romance “Juyungo” foi iniciado em Guayaquil, continuado em Milagro e publicado, em 1943, em Buenos Aires. Além de lecionar, Ortiz também cultivou a pintura. Prestando serviço diplomático ao país, foi conferencista e secretário da Casa de Cultura Guayas, participando de conferências sobre negritude.
Voltando-se à temática da identidade do afro-americano na sociedade latino-americana, bem como, a sua luta pela liberdade social, contra a opressão e a exploração secular, Ortiz preservou e resgatou elementos da psicologia, da idiossincrasia, dos costumes e das gírias da cultura afro-americana, enfrentando o tema da diferença entre classes através da utilização de personagens que, personalizando e corporificando temas políticos, tornassem suas narrativas muito mais humanas e realistas. Dentre suas obras literárias mais importantes, temos o romance “Juyungo” (1942), sua coleção de poesia “Earth, Sound and Drum” (1953) e a coleção de contos “Entundada” (1971), cuja característica marcante foi a incorporação de elementos da cultura afro-americana, enriquecendo o vocabulário literário com um jargão, uma elasticidade e um ritmo tipicamente equatorianos.
“Juyungo” narra a história de um negro, uma ilha e outros negros do Equador em seu cenário de repressão, discriminação e injustiças de que foram vítimas. Utilizando suas próprias experiências como mulato para criar a luta interna do personagem principal diante dos conflitos inter-raciais em que estava imerso, Ortiz elabora dezesseis capítulos, dez deles iniciados com uma epígrafe em que o autor exalta a selva e a cultura africana em linguagem poética. Nesses capítulos, examinando temas relacionados à história, etnia, violência, posse de terras, tensão com os povos indígenas e resistência do povo afro-equatoriano à assimilação cultural, o autor, inspirado na imagem heróica de seu tio, que lutou durante a guerra civil de Carlos Concha Torres, traz Ascensión Lastre, adolescente negro que vive insatisfeito com sua família. Aprendendo a ler e escrever com um bandido chamado Cátulo Canchingre, Lastre é apresentado ao mundo do contrabando. Apelidado de Juyungo pelos indígenas Cayapa da região, que significa “diabo” na língua nativa, este se tornou seu apelido pelo resto de sua vida. Na sequência, Juyungo, juntamente com um grupo de amigos, vai trabalhar na fazenda de Don Clemente Ayoví, na Ilha Pepepán, sendo constantemente enganados. Um dia, um gringo chamado Sr. Hans compra o terreno, mas, diante da resistência de Don Clemente e dos trabalhadores, o acaba por incendiar causando a morte do filho de Juyungo e a loucura de sua esposa. Juyungo se vinga de Hans o matando, porém a comunidade ali reunida acaba por se dispersar. Ingressando no exército equatoriano durante a Guerra de 41 contra o Peru , Juyungo é morto por soldados peruanos enquanto procura por comida.
Determinados críticos criticam Ortiz afirmando que o romance simplifica o conflito racial ao identificar a luta entre classes como sua única causa, fato exemplificado na figura de Nelson Díaz, amigo de Juyungo e socialista militante, que reaparece no final do romance. Para o crítico Gallegos Lara, no livro “os negros sofrem a civilização como negros e como trabalhadores. Só alcançarão sua libertação com a libertação de todos os homens, unificando a luta contra o racismo com as revoluções operárias”.
Em 1995, o governo equatoriano concedeu o Prêmio Nacional Eugenio Espejo a Ortiz, celebrando a totalidade de sua obra. Dentre seus trabalhos publicados temos Romances e contos, como “Juyungo” (1943), “El espejo y la ventana” (1967), “La envoltura del sueño” (1982), “Los contrabandistas” (1945), “La mala espalda” (1952), “La entubada” (1971); Poesia, como “Tierra son y tambor” (1945), “Caminho e porto de la angustia” (1945), “El vigilante insepulto” (1954), “El animal herido” (1959), “Fórmulas. Tierra Son y Tambor” (1973), “La niebla encendida” (1983), “El perro que se mana la mierda aluncia” (2014); Antologias, como: “Consta nas antologias: El nuevo relato ecuatoriano” (1951), “Antologia do Cuento Hispanoamericano Contemporâneo” (1958), “Antologia do relato equatoriano” (1973), “Conta da geração dos 30” (Guayaquil), “Antologia do Cuento Equatoriano” (1974), “Cuentos hispano-americanos” (1992), “Cuento contigo” (1993), “Antologia básica do assunto equatoriano” (2001).
Considerada sua obra mais relevante, “Juyungo’ obteve novas edições no Equador e na Alemanha (1957), na França (1960), na Iugoslávia (1961), nos Estados Unidos (1982), na Espanha (1983), na Colômbia (1995), entre outros. Recebeu o prêmio Eugenio Espejo e através da gestão do poeta e professor Rodrigo Pesántez Rodas foi indicado ao Prêmio Nobel de Literatura em 2002.
Professora Universitária*